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Somos o que comemos!

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 10 de ago. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 11 de ago. de 2024

No tempo de Jesus, os judeus eram especialistas em murmurar e condenar. Eles não conseguiam entender o ministério de Jesus, as suas palavras de misericórdia e os seus gestos de acolhida. A convicção racional e a dureza do coração eram marcas das quais, eles não queriam deixar. Para os judeus, essas marcas eram a fonte da segurança de suas fragilidades morais e de proteção para suas certezas racionais.

O caminho mais seguro era agarrar-se à Lei, ao velho tempo e às obrigações exteriores. Para aqueles homens, a Torah era o único alimento verdadeiro.

Após a partilha do pão e a incompreensão da multidão, Jesus desejou esclarecer o sentido real de seus gestos. Era preciso desfazer o mal-entendido, o mais rápido possível. O povo viu o que aconteceu, mas ficou na superfície do evento, não compreenderam o real intuito de Jesus. O sinal do Mestre foi o pão partilhado e não simplesmente multiplicado.

Na tentativa de ir além da multiplicação e da partilha, Jesus tirou o foco do pão material e trouxe para Ele. Ele disse que Ele era o pão que desceu do céu para dar vida ao mundo. O Mestre explicou o verdadeiro sentido da sua descida entre os homens. Ele se ofereceu para ser alimento de vida eterna.

Os judeus começaram a murmurar a respeito de Jesus porque Ele havia dito: “Eu sou o pão que desceu do céu”. O povo judaico não podia admitir que um homem dissesse ter vindo do céu e se tornado um alimento. Eles não entendiam o porquê Jesus, nascido de uma mulher e conhecido por ser filho de José, dizia ter descido dos céus. Eles estavam assustados com a possível ideia de um Deus que pudesse se fazer homem. Estavam convencidos de que o Todo-Poderoso teria seu trono lá no alto dos céus, sempre acima de todos, permanecendo longe do mundo e se manifestando somente por meio de intervenções majestosas e misteriosas.

A humanidade de Jesus era o verdadeiro motivo do escândalo e da murmuração. O Cristo é a Sabedoria Divina revestida da carne humana.

Jesus desejou aliviar a preocupação deles, dizendo: “Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrai”. A proximidade com Ele não dependia de uma conexão racional, mas da atração do Pai. É o desejo do Pai que movimenta o coração humano. É a iniciativa, a ação e o mover de Deus que renova no coração humano o desejo da conexão com uma realidade superior.

A inteligência humana não é suficiente para o entendimento da realidade superior porque o mistério de Deus é experimentado através de um desejo e não de uma razão. Dentro do coração humano existe uma atração pela beleza do amor e pela ternura afetiva de um Deus-homem.   

Quando os filhos de Israel murmuraram no deserto, Deus deu a eles o maná. Quando os judeus murmuraram, Jesus revelou ser Ele o verdadeiro pão do céu: “Eis aqui o pão que desce do céu:quem dele comer, nunca morrerá”. Os vossos pais comeram o maná no deserto e, no entanto, morreram. Aquele que come do pão da vida, não mais terá fome e nunca mais terá sede. Os verbos descer, dar e comer são centrais na narrativa joanina. Eles exprimem a relação desejada e estabelecida por Cristo com todos, em sua ação de descida. A experiência com a Eternidade de Deus não é imaginativa. Ele desceu para ser dado em comida. Dessa maneira, a experiência com Jesus deve ser sempre concreta, real e atuante. Das necessidades humanas, a mais forte é a fome. Ela revela a nossa maior fraqueza. Por isso,

Cristo quis ser pão para revelar ao homem que Ele pode visitá-lo na sua mais extrema fragilidade e na sua maior necessidade. Ele revela-Se pão para dizer que deseja estar e ser comido em todas as mesas, sem distinção.

O pão na vida cotidiana é, simplesmente, alimento. Não é algo para olhar ou para pensar, mas para comer. O Senhor liga sua presença à figura do pão para ser comido. Ao alimentarmo-nos Dele, tornamo-nos tal como é Ele. Todos comem do pão do céu que é Cristo porque todos precisam estar unidos espiritualmente na mesma realidade que a Dele. Todos devem entram num único espaço espiritual que é Cristo e viverem com Ele a vida eterna. A consequência de sermos alimentados do pão de céu é nos tornarmos pão a fim de alimentar a vida de tantos outros que, ao nosso redor, sentem fome de vida e de eternidade. Ao comermos o pão do céu, o Corpo de Cristo, tornamo-nos o Corpo de Cristo na vida quotidiana, nas praças, nas cidades, nos trabalhos e na caminhada. Onde quer que nos movamos, necessitamos ser pão que alimenta e alimento que dá vida, pois somos o que comemos!


Senhor, livra o meu coração da murmuração. Atraia-me pela beleza do teu amor e pela ternura afetiva da tua humanidade. Alimenta-me com a tua vida para que eu seja vida. Ajuda-me a entender que somente sendo alimento de eternidade para a vida do outro, eu posso encontrar o sentido da minha existência.


LFCM.

Ilustração: Romolo Picoli

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1 comentário


Marcia Severo
Marcia Severo
11 de ago. de 2024

Bom Dia Frei, gratidão por me enviar palavras q me fortalecem e motivam mais a procurar e a querer estar junto do Senhor. Paz e Bem.

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