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As verdadeiras liberações

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • há 6 horas
  • 3 min de leitura

O tempo do Advento, ao inaugurar um novo ano litúrgico, abre diante de nós um horizonte renovado, no qual o mistério da fé se revela pelo tesouro da Palavra de Deus, contemplada a partir do olhar particular de um dos evangelistas. A cada novo ciclo, retomamos a caminhada com Jesus, revisitamos os mistérios que fundamentam nossa fé e tornamo-los presentes no hoje da salvação. Esse movimento espiritual qualifica nossa vida interior, renova nossas disposições e aprofunda nossa capacidade de escutar.

Assim, iluminados pela Palavra, somos convidados a discernir os verdadeiros valores da vida, a reler todos os acontecimentos da nossa existência e a perceber, no cotidiano mais simples, os sinais discretos e concretos de Deus que vem ao nosso encontro.

O Advento deseja também lançar luz sobre as realidades últimas, recordando que a memória da primeira vinda do Senhor e a preparação para a sua segunda vinda acontecem, sacramentalmente, no hoje de cada celebração. Ao assumir nossa carne, Cristo inseriu-se na história humana como presença viva, transformadora e atuante. Por isso, este tempo não pretende infundir medo, mas conduzir-nos a um caminho de purificação, vigilância e libertação das forças que enfraquecem nossa vida espiritual.

Somos chamados a esperar na fé, não um juiz severo, mas um Senhor desejado e próximo. Assim, os últimos acontecimentos, longe de nos amedrontar, despertam em nós relações mais humanas e novos sonhos de esperança.

O Evangelho de hoje, como todo o Advento, nos convoca à vigilância, lembrando que a vida só encontra seu sentido pleno quando mantemos diante de nós o fim último para o qual caminhamos. No entanto, facilmente perdemos esse horizonte, absorvidos pelo ritmo acelerado das exigências cotidianas, pela lógica implacável da produtividade e pelas distrações que obscurecem o essencial.

O Advento nos chama a recuperar o olhar interior, a reconhecer o que Deus realiza silenciosamente em nós e ao nosso redor, a reduzir o barulho do consumismo e a contemplar com gratidão a criação. O cansaço crônico e o vazio existencial que tantos experimentam não são sinais de fraqueza, mas sintomas de uma sociedade extenuada e desumanizada, que perdeu a capacidade de repousar no sentido e na esperança.

Preparar o Natal, portanto, não é apenas cultivar uma emoção afetiva, mas assumir que a existência é uma peregrinação contínua rumo ao encontro definitivo com Cristo, Luz do Mundo. A vigilância e a preparação próprias desse tempo encontram sua expressão mais profunda na oração. Quem não reza não observa, e quem não observa não reza; vigiar é ter o coração livre, dócil e orientado para Aquele que vem. A oração, enquanto diálogo contínuo com Deus, sustenta a esperança, preenche os vazios interiores e educa-nos a reconhecer Seu primado em tudo. Ela é despertador de uma existência reconciliada, abrindo-nos a novas perspectivas e nova sensibilidade espiritual. Não pode ser reduzida aos momentos de necessidade ou escuridão, mas deve ser vivida com constância, simplicidade e louvor cotidiano. Sua eficácia nasce da fidelidade e da conversão que provoca, pois nossas verdadeiras libertações acontecem “na” oração.


Viver em vigilância significa transformar toda a vida em oração, de modo que cada gesto, escolha e relacionamento expressem nossa comunhão com Deus. Orar não é impor nossos desejos, mas permanecer em ação de graças, reconhecendo que Ele é o único e verdadeiro Desejo que orienta a existência.

A oração nos desperta para a presença do Senhor, que se torna mais próximo a cada amanhecer, e impede que sejamos arrastados pelo “dilúvio” das emoções frágeis. A “arca” que hoje nos salva é esse relacionamento real e profundo com Deus, vivido com autenticidade em tudo aquilo que somos e experimentamos, sustentando-nos mesmo nas tempestades interiores.

Despertar espiritualmente é transformar nossas forças interiores em instrumentos de vida e conciliação. Os sentimentos podem tornar-se compaixão e não ressentimento; os pensamentos, caminhos de reconciliação e não estratégias de vingança; a vontade, impulso para o bem e não combustível de divisões. É tempo de abandonar o ódio, renunciar às conspirações do coração e permitir que Deus realize em nós Suas promessas de vida e libertação. Ele sempre abre novos caminhos, mas somente os reconhece quem está atento e disponível. Assim, o Evangelho nos chama à vigilância, à atenção e à oração; o contrário disso é a distração e o consumismo, que nos esvazia e nos afasta do essencial. A verdadeira atenção espiritual faz da vida um testemunho de perseverança fiel e esperança sempre renovada diante d'Aquele que vem.

 

Senhor, neste Advento, abre meus olhos para perceber tua presença silenciosa em minha vida. Liberta-me das distrações e ansiedades que me afastam de Ti. Livra-me do barulho do consumismo e do vazio existencial. Dá-me um coração sensível, um espírito vigilante e desejos que conduzam ao bem. Ensina-me a viver em comunhão contigo e com meus irmãos, caminhando com esperança para o encontro com Cristo, Luz do Mundo. Vem, Senhor Jesus!

 

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