A máxima expressão do amor
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.

- 22 de nov.
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Atualizado: 22 de nov.
A cena apresentada no Evangelho de hoje é a última de uma série em que Lucas contrapõe atitudes diante de Jesus e do Reino. Ao longo do ano litúrgico, encontramos personagens e imagens que nos colocaram diante da escolha de qual caminho seguir para estar com Cristo: Marta e Maria; o rico insensato e o servo fiel; o filho mais novo e o mais velho; o homem rico e o administrador prudente; o rico e Lázaro; o pequeno grão; o leproso agradecido e os outros nove; a viúva persistente e o juiz injusto; o fariseu e o publicano; o cego e Zaqueu.
Por meio dessas contraposições, Jesus educa seus discípulos e revela atitudes que conduzem à vida eterna. Escolher Jesus não nasce de emoções passageiras, mas de uma sabedoria que se abandona confiantemente ao seu amor.
As atitudes indicadas por Jesus - vigilância, humildade, retorno à casa paterna, astúcia evangélica, identidade curada, gratidão, oração perseverante, reconhecimento da própria fragilidade e disponibilidade para acolher a salvação - formam o caminho seguro do discípulo. Suas exigências não aprisionam, mas libertam do risco de viver fechados em nós mesmos. A exortação para calcular e discernir indica a seriedade das escolhas espirituais.
A vida cristã não nasce da improvisação, mas de uma lógica nova que ilumina decisões e sustenta um estilo de vida transformado. Renunciar, como Jesus pede, não é peso, mas ato de liberdade que nos livra da obsessão por acumular e da ilusão do poder.
O destino humano não se decide apenas no instante final, mas nas opções de cada dia, que podem gerar indiferença e afastamento ou, ao contrário, construir uma verdadeira história de salvação. Deus intervém na nossa história, mas seguimos responsáveis por nossas escolhas. Por isso, Jesus nos convida a viver com nobreza, trabalhando no presente para edificar um Reino diferente: partilhar em vez de acumular, dar a vida em vez de tirá-la, libertar em vez de impor, servir em vez de usar os outros. Assim, no hoje da vida, nasce a novidade de Deus.
Na cruz, a opção de Jesus aparece de modo surpreendente: reinar na cruz é a máxima expressão de sua liberdade amorosa. Ali, em meio à dor e ao abandono, Ele não escolhe a derrota, mas permanece fiel ao Pai e ainda escuta o pedido do ladrão arrependido. Daquele lugar de sofrimento, garante-lhe a salvação e revela a misericórdia divina. Transforma a cruz em trono, não como sinal de derrota, mas como manifestação da glória do Pai. Ele não é apenas “Rei dos Judeus”, mas o Princípio e o Fim daqueles que decidem caminhar com Ele.
O maior paradoxo de Cristo é o seu reinar na cruz. Ele não salva pela onipotência, mas pela fraqueza acolhida em amor. Sua realeza inverte a lógica do poder humano: sua glória nasce de ter amado até o fim, mesmo diante da rejeição. Assim, o Reino de Cristo é a revelação de um amor sem limites, que nos permite experimentar ser amados e acolhidos, apesar das nossas quedas.
Surge aqui o mistério da redenção: Cristo reina, e o homem redimido participa de sua dignidade. A salvação é comunhão com Ele: não apenas estar no seu Reino, mas estar com Ele no paraíso. Se a cruz é a chave do céu, o ladrão entrou no Reino porque se deixou tocar pelo amor que o libertou das trevas.
O Evangelho é, portanto, repleto de paradoxos: amar é servir, ser o primeiro é lavar os pés, ser rico é despojar-se de tudo. Deus mesmo é paradoxo, pois reina a partir da cruz, onde permanece por um amor que não desiste de nós. Do “hoje vos nasceu o Salvador” ao “hoje estarás comigo no paraíso”, contemplamos o cumprimento das Escrituras e a fidelidade de Deus. Do presépio ao Calvário, tudo é amor: Ele nasceu por amor e morreu porque amou. Esse “hoje” do Evangelho é também o nosso: é sempre tempo de escutar o Senhor. A boa notícia não é apenas um código moral ou o perdão dos pecados, mas a libertação de tudo o que oprime e cega, para que possamos reconhecer a graça que Deus derrama continuamente sobre nós.
Senhor, concede-me a graça de entregar-me plenamente ao teu projeto de amor. Ensina-me a escolher critérios evangélicos, a pensar segundo a tua lógica e a assumir um estilo de vida verdadeiramente cristão. Que eu compreenda que o “hoje” é sempre o tempo favorável para escutar a tua voz e acolher teu senhorio na minha vida, na história e no mundo.


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