Entre o caos e a promessa
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.

- 15 de nov.
- 3 min de leitura
O Evangelho nos convida à perseverança, à vigilância e à paciência, especialmente nos discursos escatológicos de Jesus, cuja finalidade não é provocar medo, mas dissipá-lo. A linguagem apocalíptica, tantas vezes interpretada como anúncio de catástrofes, revela o desígnio amoroso de Deus para a consumação da história. Ao recorrer a essas imagens,
Jesus nos ensina a olhar o mundo com o olhar do próprio Deus, despertando em nós a consciência de que a verdadeira questão não é quando o fim virá, mas como estamos vivendo e nos preparando para ele. É essa perspectiva que nos permite encontrar sentido e plenitude mesmo em meio ao caos histórico.
Na época de Jesus, era comum a noção de um mundo corrompido, prestes a ser transformado por uma nova realidade divina. Antes que o novo surgisse plenamente, acreditava-se que a humanidade enfrentaria temores, violências e grandes desastres. A linguagem apocalíptica, repleta de símbolos familiares, servia para alertar os discípulos sobre a proximidade de uma passagem decisiva na história. Contudo, essa mensagem não é de desespero, mas de esperança.
Jesus exorta os seus a não se deixarem aterrorizar: ao contrário, a manterem a cabeça erguida, pois a chegada do Reino é promessa de renovação e alegria, mesmo quando os tempos são difíceis.
Jesus também adverte contra o perigo do engano. Atraídos pelo medo ou pela admiração, muitos podem seguir falsos salvadores que surgem aparentemente em seu nome. Por isso, Ele insiste no discernimento: é preciso distinguir a verdade do Evangelho das manipulações de líderes que usam a fé para obter prestígio ou poder. A verdadeira salvação não vem de projetos humanos, mas de Cristo, que, por sua entrega na cruz, nos libertou e iluminou. É essencial, portanto, manter a fé ancorada na autenticidade do Evangelho, evitando as armadilhas de falsos messias.
A dinâmica revelada neste Evangelho nos conduz a uma reflexão profunda sobre o sentido da espera por um mundo novo. Essa espera implica reconhecer que as realidades atuais, tal como as conhecemos, são transitórias. Se esta criação fosse destinada à eternidade, seria mais estável e segura; no entanto, todos os reinos humanos passam, enquanto somente o Reino de Deus permanece. Por isso, os discípulos de Cristo não devem tornar-se escravos do medo ou da angústia, mas viver a história com coragem, enfrentando o poder destrutivo do mal e aguardando a realização da promessa.
A certeza da ternura providente do Senhor, que nunca abandona os seus, é o sinal claro de que o Reino está próximo, trazendo a realização do desejo divino para a humanidade.
Vivemos tempos dramáticos, tanto pessoal quanto socialmente, enfrentando dores, crises e desastres que parecem não ter fim. Mais do que nunca, é necessário adotar uma atitude responsável diante da história, procurando compreender os acontecimentos com lucidez, leveza e esperança. Ler a realidade com os “olhos de Deus” não é tarefa simples, mas é o caminho para permanecermos firmes mesmo quando as notícias são marcadas por incertezas e pessimismo.
Muitos têm a impressão de que o mundo se encaminha para um fim caótico, sobretudo em meio à perda de motivações religiosas. Contudo, para o cristão, não caminhamos para um vazio sem sentido, mas para a plenitude da vida em Cristo. O desafio é retornar às páginas do Evangelho e reaprender a esperança, mesmo quando a dor parece dominar o cenário cotidiano.
A vinda do Senhor é certa, embora o dia e a hora permaneçam ocultos. Isso nos exige uma postura permanente de espera, distinta da expectativa ansiosa e autorreferencial. A verdadeira espera cristã se abre ao inesperado e se alimenta da confiança de que toda chegada de Deus traz um propósito. Jesus nos adverte a não interpretar desastres naturais ou conflitos como castigos divinos ou sinais imediatos do fim, mas a conservar a serenidade. A paciência torna-se, assim, característica essencial do discípulo, contrapondo-se ao desânimo que gera cansaço e desespero. Quem acolheu a Boa-Nova é chamado a perseverar: é no coração do caos que a vida verdadeira se revela, sustentada pela firme esperança e pela certeza da fidelidade de Deus.
Senhor, ampara-me para que os medos, as angústias e os desesperos não me desviem para ideias ou caminhos contrários ao teu Evangelho. Dá-me a graça de enxergar o mundo com os teus olhos e de esperar, com paciência e confiança, o tempo certo da vinda do teu Reino. Renova em mim a fé na tua promessa e fortalece a esperança na tua fidelidade, para que eu permaneça firme em ti. Amém.


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