Se tu queres, eu quero
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.

- 13 de fev. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 11 de abr. de 2021
Após a intensa jornada de Jesus, um leproso chegou perto dele. A figura do leproso é muito particular em todos os evangelhos. No tempo de Jesus, a lepra era a pior das doenças e, além de ser muito contagiosa, tinha também uma conotação religiosa. De fato, no Primeiro Testamento, a lepra tinha grande relação com o castigo e a maldição por parte de Deus.
Sendo assim, os infectados não tinham somente uma doença difícil, mas eram marginalizados da vida social e religiosa. Eram vistos não somente como vítimas de uma determinada doença, mas culpados por terem adquirido.
Os leprosos causavam medo e deviam ser excluídos. Não podiam entrar na cidade e nem no templo. Eram considerados como pessoas perdidas, cheias de vergonha e sem esperança. A vida é relação, os leprosos cujas relações eram proibidas, tornavam-se como mortos-vivos.
Pode-se perceber que o contexto deste Evangelho é pleno de tensão e transgressão. O leproso e Jesus são transgressores. Chama-nos à atenção a coragem de ambos. O leproso entra na cidade e Jesus o toca. Estas são duas atitudes fundamentais da narrativa. O leproso tem uma vontade tão absurda de viver que é capaz de superar a barreira imposta pela sociedade e pela religião.
Por certo, esse leproso já tinha ouvido falar de Jesus e vai ao seu encontro. Ao se aproximar, percebeu um olhar diferente. Se os outros olhares eram de medo e desprezo, o olhar de Jesus o tira desta condição.
Depois dessa relação estabelecida, o homem doente diz qual a sua vontade: “Se queres, tens o poder de curar-me”. Aqui temos mais uma profissão de fé do que um pedido. Ao mesmo tempo, nesta profissão vemos manifestada a vontade do homem marginalizado.
Em seguida, Jesus toca-o e supera o tabu sacro: “Eu quero: fica curado!”. Jesus sente palpitar as suas vísceras de misericórdia. Estende a mão e toca o intocável, contra a Lei e contra a prudência. Toca a contaminação. Aquele que ninguém podia tocar é tocado por Jesus. Desta maneira, Jesus não somente corre o risco de se contaminar, mas torna-se um impuro ritual, ou seja, de agora em diante, não poderá mais comparecer nas ações rituais. Ele bem sabia dessa consequência. Na verdade, daqui pra frente, ele não pode mais entrar no templo.
São dois desejos que se encontram: o de querer ser curado e o de querer curar. Jesus cura, mas pagará um preço caro. Mesmo sendo bem consciente desse preço, assim o faz. Porém, Jesus faz um pedido estranho: “Não contes nada disso a ninguém! Pedido quase que impossível. O leproso começa a contar e a divulgar muito o fato: encontrei um homem que não teve medo de tocar-me. De fato, era impossível segurar a alegria dessa libertação.
Como a sogra de Pedro, curada para servir, o leproso é purificado para anunciar. Assim, somos nós: curados para servir, curados para anunciar. Todos dependemos de uma cura e trazemos em nós a história de um “toque”. Desse modo, o nosso serviço e o nosso anúncio se tornam mais credíveis.
Por fim, surge o último detalhe, a troca de lugar exercida por Jesus. Esse é um dos detalhes que mais me emociona. Se antes era o leproso que não podia entrar na cidade, o evangelista Marcos nos diz que, agora Jesus é quem não podia mais entrar, pois havia tido contato com um leproso e era considerado como tal.
Todavia, essa é a boa-notícia. Para estar perto dos excluídos, Jesus aceita ser excluído! Repito, ele tinha bastante consciência das consequências que sofreria ao tocar o leproso. Essa condição de exclusão, obrigou Jesus a procurar lugares mais solitários, e tornou-se a condição ideal para ele ficar do lado dos excluídos, ou seja, daqueles que viviam em situações desumanas, pois não eram desejados e eram considerados perigosos por estarem contaminados.
Com isso, hoje concluímos o primeiro capítulo do evangelista Marcos. A liturgia nos permitiu vivenciá-lo a cada domingo. A cada semana foi nos mostrado uma relação. Vimos a fé endemoninhada, a mulher isolada e o homem excluído. É esse tipo de gente que Jesus tem preferência.
Querendo ou não, cada um de nós já experimentou alguns desses momentos. Sigamos confiantes, Ele sempre irá nos libertar das visões medíocres da fé, nos visitar no isolamento e nos tocar nas dores. Não importa a condição que estejamos, sempre existirá um contato que nos salvará. Se eu quero, Ele quer.
De modo muito pessoal, confesso que essas páginas evangélicas mostram a capacidade de Jesus em superar obstáculos humanamente construídos. Além do mais, me fazem bem, me deixam entusiasmado e com imaginação, pois é esse Jesus que eu sigo e que sempre acreditei.
LFCM.


Esse também é o meu Jesus! Aquele que veio para os doentes e necessitados. Paz e Bem!