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Partilhar a nossa história

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 17 de jul. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 19 de jul. de 2021

Depois da experiência do envio, os apóstolos retornam a Jesus e contam-lhe tudo. Este retorno significa que o centro da missão é Jesus. É dele que se parte e é para Ele que se retorna. O retorno se faz necessário para avaliar os objetivos da missão, para descansar perto do Mestre e para discernir se corresponderam ao chamado evangélico. O reencontro dos Doze com Jesus não serve somente para partilhar as crônicas dos sucessos ou dos insucessos, mas também para partilhar as emoções e os sentimentos que brotaram das experiências vivenciadas.

Os discípulos estão cansados e cheios de alegria. Jesus os ouve e os permite falar. Eis a mais bela definição da oração com Jesus: partilhar nossa história, o que vivemos, sentimos e pensamos pelo caminho. É verdade que Jesus já sabia de tudo, mas mesmo assim quis fazer a experiência de ouvir os seus discípulos. Ouvindo-os, convida-os ao descanso, a não se deixarem levar pelo ativismo e pelo desejo de querer fazer tudo.

A relação dos apóstolos com Jesus mostra qual deve ser o ponto de referência de toda atividade apostólica. Antes de colocar os projetos em ação, é necessário ter um confronto sincero com o Senhor. Os objetivos não podem ser desenvolvidos sem um retorno constante ao Evangelho. As escolhas, as iniciativas que não surgem da oração e do discernimento comunitário correm o risco de ser regras humanas ditadas pela vaidade pessoal.

Às vezes, por detrás de boas obras se escondem objetivos menos nobres, a vontade de competição e de imposição, as ambições, as vaidades, as politicagens e os interesses pessoais.

Depois da partilha, Jesus leva seus discípulos para um lugar separado. A cena de Jesus que se reúne somente com os discípulos é frequente no Evangelho de Marcos e prepara uma revelação importante. Depois de contar as parábolas às multidões, Jesus explica tudo aos discípulos em privado (Mc 4, 34); longe da multidão, cura o surdo-mudo de Betsaida (Mc 7,33); conduz Pedro, Tiago e João ao monte da transfiguração sozinhos (Mc 9,2); em privado dá aos discípulos explicações sobre o fim do mundo (Mc 13,3) e sobre o motivo pelo qual não conseguiram expulsar um demônio (Mc 9,28). No relato de hoje, a expressão “sozinhos” se repete duas vezes. Este afastar-se não significa a fuga das outras relações, mas a renovação das forças.


Na segunda parte da narrativa, novamente a multidão encontra com Jesus e com os discípulos. Muitos os viram partir, reconheceram que eram eles e saindo de todas as cidades, correram a pé, e chegaram antes do outro lado do lago. O encontro com a multidão suscita compaixão em Jesus. Ele que outrora sentiu compaixão dos seus discípulos, agora sente compaixão da multidão.

Ele que percebeu a necessidade do descanso para seus discípulos, agora percebe a busca de sentido da multidão.

Essa multidão é ambígua e tem interesses estranhos ao procurar Jesus. Entretanto, a reação de Jesus revela sua ternura diante da dor e da confusão do homem. O evangelista completa a cena com uma bela e significativa imagem: “Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor”. Ser como ovelhas sem pastor significa ser no mundo sem direção, sem sentido. Não ter direção significa estar vulnerável a qualquer um que se apresentar e viver à disposição da voracidade dos lobos. Ele começou a ensinar-lhes muitas coisas.

O evangelista não diz o conteúdo que Jesus ensinava. Ele ensina a todos a saber narrar uma história diante de Deus. A saber dizer um interesse verdadeiro e pleno de sentido. Temos a certeza de que seu o objetivo era preencher o vazio existencial que desorientava cada um daqueles que corria-lhe atrás “como ovelhas sem pastor”.

Quando nos afastamos do Evangelho, ficamos desorientados e a existência transforma-se em desilusão e insatisfação. Desta maneira, o ensinamento de Jesus não é acadêmico e nem retórico. É um ensino diferenciado que brota da compaixão e da percepção de uma multidão que vivia sem sentido. Jesus não tem medo de enfrentar a necessidade da multidão ensinando-os de modo diferente porque há uma palavra que orienta, acalma, restaura, dá sentido e esperança.



Jesus, ensina-nos a orar com a nossa própria história. Permite-nos a ter coragem de lhe contar os nossos sucessos e insucessos e a narrar tudo o que sentimos no caminho. Tenha compaixão dos nossos cansaços. Ajude-nos a ser compassivos como tu. Ensina-nos a lidar com nossos vazios existenciais, com nossas insatisfações e com nossas desilusões. Tranquilize, restaure e direcione a nossa esperança.


LFCM

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