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Os destinatários da Luz

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 21 de jan. de 2023
  • 6 min de leitura

O caminho da Revelação do Mistério do Filho de Deus Encarnado vai se formando, assumindo novos rostos e novos projetos futuros. O percurso é dinâmico e mostra o entusiasmo de Jesus para cumprir a missão do Pai. Ao sair de sua terra natal, Ele vai ao encontro de novos territórios para a expansão do Reino, mostrando o cumprimento de todas as profecias. Ele ilumina os que vivem nas trevas e os que vivem na sombra da morte, Ele dá abrigo. Sua chegada bane os mecanismos obscuros do mal que matam o futuro e a esperança. Ele tem pressa de mostrar o rosto amoroso do Pai.


Na narrativa da missão de Jesus, duas perspectivas ocupam lugar central: a luz que ilumina as trevas e o chamado dos primeiros discípulos. Com sua permanência em Cafarnaum, o evangelista vê cumprir-se a profecia: “o povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz”. Eis a definição da missão de Jesus.

É no meio do povo oprimido, sem identidade e maltratado, vítima dos poderosos, que Ele estabelece sua residência e mostra-se pronto para iniciar sua atividade de libertação. Ele é a Luz que entra na escuridão das nossas vidas permitindo-nos reconhecer e nomear os fatos opressores. Com sua “nova residência” Jesus indica quem são os primeiros destinatários da Luz: não os puros judeus, mas os excluídos e os distantes.

A Luz mostra que a salvação é expressa através de um contexto simbólico. O resplandecer da luz nas trevas opera uma passagem das trevas à Luz. A experiência de salvação vem expressa como irrupção da luz num contexto de trevas. A Luz está unida ao bem e a beleza. Em contrapartida, a escuridão e as trevas, desde sempre, são unidas ao mal e à morte. A Luz é irradiada e suscita o chamado ao seguimento e à missão. A salvação é um novo nascimento, um descobrir de novas iluminações, um desejo de iluminar a todos.


O início da pregação de Jesus é caracterizado na perspectiva de conversão em continuidade com a pregação de João no Jordão, lugar primeiro da Revelação do Filho de Deus. O núcleo central de seu ensinamento é resumido no apelo: “Convertei-vos, porque está próximo o Reino do Céu”. Esta proclamação é um poderoso raio de luz que atravessa as trevas e opera libertação. A conversão serve para tomar novas decisões fugindo de escolhas que simbolizam a morte. O apelo à conversão que Jesus dirige a todos os homens de boa vontade é plenamente compreendido à luz da manifestação do Filho de Deus. Com a vinda de Jesus, Luz do Mundo, Deus Pai mostra à humanidade sua proximidade e amizade.


A amizade e a proximidade do Filho de Deus manifestado devem ser continuadas. Para isso aconteça, Jesus chama algumas pessoas a fim de manterem uma relação de vida e de testemunho junto Dele. A perspectiva do chamado apresenta-se em dois tempos diferentes: no início e no fim do dia de trabalho. Jesus apresenta-se na vida quotidiana dos seus futuros discípulos. É no dia a dia que Ele encontra espaço para ser ouvido. Caminhando na beira do mar, chama Pedro e André quando iniciavam o trabalho da pesca. Certamente, era bem cedo, eles tinham muito a fazer e um mar para enfrentar. Na beira do mar, escutam o chamado e seguem a proposta de não mais pescarem peixes, mas homens. Proposta estranha para quem apenas sabia pescar peixes para o consumo.


Caminhando um pouco mais, Jesus encontra Tiago e João e os convida a fazer parte de sua missão. Esses não estão no início da pesca, mas no fim dela. Estão consertando as redes destruídas pela velocidade dos ventos, pela força do mar e pelo peso dos peixes. Eles estão arrumando a rede que havia se rompido. Esse chamado não acontece na madrugada do dia nascente, mas no fim da manhã. Eles tinham separado os melhores peixes. No entanto, a rede estava rompida. Era necessário prepará-la para a próxima pesca. O convite é feito no momento do conserto das redes e sugere abandoná-las no mesmo estado em que se encontravam. Não é preciso mais preocupação com peixes, mas com os homens a serem pescados.

A missão de Jesus não é somente consertar redes, mas aprender a fazer novas redes e a pescar “novos peixes”. É uma proposta nova e desafiadora. Pescar homens significa arrancá-los da condição da morte, tirá-los das redes de opressão e afastá-los das forças do mal que, como águas impetuosas, os dominam e os afogam.

Jesus está disposto e entusiasmado com o futuro de sua missão. Por certo, ao encontrar Tiago e João já havia conversado com Pedro e André acerca de seu interesse ao chamá-los. O evangelista Mateus relata que imediatamente ambos os irmãos responderam ao chamado de um homem diferente. A luz irradiada por Jesus não trouxe dúvidas aos corações desses homens que, sem questionar ou repensar, respondem ao chamado à missão. Jesus não apaga a identidade dos discípulos. Ele acrescenta algo novo à vida deles. Ele valoriza quem são, colocando em seus corações uma nova vocação: de serem pescadores de homens.

A mudança de homens pescadores para pescadores de homens passa pelo abandono de muitas estruturas e do trabalho profissional. O encontro com o Mestre Divino, com o seu olhar e com a sua Palavra deu-lhes o impulso para O seguir mudando suas vidas e servindo concretamente o Reino de Deus. Jesus não lhes oferece a rota do mar, pois isso já sabiam perfeitamente. Eles cresceram ali e ali estavam consumindo os seus dias. O Mestre oferece-lhes a rota do mundo, dos homens e de uma nova fraternidade.

A narrativa do chamado dos primeiros discípulos mostra como deve ser o nosso caminho para hoje continuarmos o mesmo anúncio. É no “consertar as redes” ou no “lançar as redes” que é constituída a missão do discípulo, pois embora nossa realidade pede reconstrução, é necessário muito mais a capacidade de novos lançamentos. Nisso consiste nossa dificuldade: mais aprendemos a reconstruir tentando continuar a mesma vida de sempre sendo apenas pescadores de peixes do que lançarmos redes em novos locais tornando-nos pescadores de homens. A dinâmica é bem diferente: quando lançamos redes para pescar peixes, devemos excluir os que não nos servem ao mar. Entretanto, quando lançamos redes para pescar homens, devemos trazer todos ao barco, sem distinção, a fim de que se encontrarem com Aquele que tudo pode reconstruir ao refazer as relações desgastadas e as vidas rompidas.


Na conclusão do Evangelho, Jesus ensina e cura. Ele ensina com humildade, coragem e paciência. O primeiro passo dado por Ele é mostrar a chegada do Reino de Deus dando valor ao ensinamento com o intuito de recriar nova mentalidade de perseverança sem olhar para trás. A mensagem de Jesus é fundamental e deve chegar aos confins do mundo. Somente aquilo que se aprende e ama pode ser anunciado. Uma nova linguagem, um novo estilo de vida e um novo modo de pensar. Junto ao ensinamento, processos de cura são realizados. A cura não necessariamente precisa ser a física, mas a do espírito, assumindo novo modo de olhar as situações da existência. A cura que Jesus realiza é muito maior do que a cura de um corpo doente. Ele realiza a cura de vidas rompidas, de corações em trevas e de olhares escurecidos.


Senhor, embora eu tenha muito a fazer e o mar da vida para enfrentar, ensina-me a encontrar no nascer e no fim do dia tempo para Te ouvir. Retira as dúvidas que me impedem de permanecer em sua Luz irradiada e que não me unem ao bem e a beleza. Dá-me a graça de fazer novas redes e de pescar “novos peixes”. Reconstrói minha vida rompida e todas as relações que estão desgastadas dentro de mim. Capacita-me a entender que a cura de que preciso, muitas vezes, não é a física, mas a do espírito que me modifica meu olhar às situações da minha existência.


LFCM.




Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 4,12-23

12 Ao saber que João tinha sido preso, Jesus voltou para a Galileia.

13 Deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, que fica às margens do mar da Galileia, 14 no território de Zabulon e Neftali, para se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías: 15 "Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região do outro lado do rio Jordão, Galileia dos pagãos! 16 O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz e para os que viviam na região escura da morte brilhou uma luz". 17 Daí em diante Jesus começou a pregar dizendo: "Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo". 18 Quando Jesus andava à beira do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam lançando a rede ao mar, pois eram pescadores. 19 Jesus disse a eles: "Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens". 20 Eles, imediatamente deixaram as redes e o seguiram. 21Caminhando um pouco mais, Jesus viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João. Estavam na barca com seu pai Zebedeu consertando as redes. Jesus os chamou. 22 Eles, imediatamente deixaram a barca e o pai, e o seguiram. 23 Jesus andava por toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo. Palavra da Salvação.




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