Os continuadores da Promessa
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.

- 11 de mai. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 18 de mai. de 2024
Os quarenta dias antes da Páscoa e os quarenta dias depois da Páscoa são significativos para a vida eclesial. Neste itinerário encontramos boas possibilidades e acolhemos novas realidades. A penitência quaresmal transforma nosso modo de ver a Deus e a alegria pascal toca nossos corações. Este tempo é marcado pelo mistério de Cristo morto e ressuscitado. Um Jesus que morre por paixão e que ressuscita por amor. Assim, os quarenta dias transcorridos entre o evento da Ressurreição e a Ascensão aos céus fez com que os discípulos sintetizassem a missão de Jesus e compreendessem o início da missão deles.
Nas proximidades de concluir o tempo pascal, somos colocados diante do mistério da Ascensão do Senhor. Na Encarnação, Deus desceu para assumir a carne humana. Na Ascensão, Ele faz com que a carne humana habite nas alturas celestes. Tudo isso revela a nossa participação definitiva na natureza de Deus.
Demos a Ele a nossa carne para que Ele nos abra o Seu espaço. Ele subiu aos céus não para se afastar da nossa humanidade, mas para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade. A Ascensão de Jesus não marca a conclusão de um tempo messiânico, mas o início de possibilidades eternas e salvíficas.
Esse é o mistério que dilata a presença de Cristo. Ele permanece na amplidão do mundo, na Palavra proclamada, na autoridade dos discípulos e na comunhão entre todos. Essa dilatação permite que Ele não esteja apenas num determinado espaço, mas em todos ao mesmo tempo. Todos podem encontrar o Ressuscitado e a Sua força de vida. Dessa maneira, a Ascensão não diminui o mistério da presença de Cristo, mas a expande e a multiplica.
A Ascensão é a dilatação da presença e da força de Cristo. Ele quis livrar-se do tempo e do espaço para estar definitivamente presente em todos os tempos e espaços. Essa nova presença transcende o que se pode ver e tocar. A realidade pascal é mais ampla que aquilo que nossos sentidos podem experimentar.
O Ressuscitado poderia continuar presente somente se os discípulos fossem audaciosos e corajosos, deixando de lado a desilusão interior e a mediocridade dos costumes. Por isso, o Evangelista Marcos resume a missão dos discípulos nos sinais que validam constantemente o anúncio do Evangelho. Ele deixa na terra testemunhas que comunicam a sua experiência de um Deus de bondade e contagiam com seu estilo de vida centrado no modo de agir e viver do próprio Jesus.
Na missão dada aos discípulos está o pedido de eles sejam continuadores de uma promessa divina. Com Sua nova forma de presença, Jesus mostrou que ressuscitar significa dilatar a esperança, viver melhor, amar mais e compartilhar em plenitude.
O Ressuscitado não se revela mais nas suas chagas e nem nos seus encontros pedagógicos plenos de afeto e de compreensão, mas nas ações dos discípulos. Eles recebem a autoridade sobre o mal, a graça de uma nova linguagem, a possibilidade de dar vida aos doentes. Na verdade, os discípulos recebem autoridade sobre tudo aquilo que divide e seduz o coração humano, sobretudo, sobre o mal, a morte e o pecado. Eles tornam-se portadores de vida, ressuscitadores de esperança e profetas de salvação. Na possibilidade de uma nova língua, os discípulos aprendem a conjugar o verbo amar e perdoar. É no amor e no perdão que se dilatam o amor e a misericórdia de Deus. O Ressuscitado dá aos discípulos a força de recuperar a dignidade humana e a vida.
O “vazio” deixado com a Ascensão de Jesus ao céu não é espaço de lamentação ou nostalgia, de dor ou de angústia, mas de responsabilidade. O “vazio” deixado por Cristo deve ser preenchido pelos discípulos convocados a ser tornarem os narradores da Sua Presença. O Espírito que permaneceu em Jesus, durante o seu percurso histórico, passou a habitar nos continuadores da Presença do Senhor.
É esse mesmo Espírito que deve fazer com que a Igreja deixe de ser infantil, medrosa e dependente. É esse Espírito que deve tornar a Igreja adulta, responsável e superabundante da misericórdia do Senhor ascendido ao céu. Não basta anunciar, é preciso confirmar a Palavra com sinais, gestos concretos e testemunho, caso contrário as palavras talvez permaneçam bonitas, sedutoras, mas pouco eficazes e com o tempo não funcionam.
A Ascensão do Senhor nos recorda que, terminada a presença histórica de Jesus, vivemos “o tempo do Espírito”, tempo de criatividade, de ousadia e de crescimento responsável no seguimento. Tudo isso acontece quando os discípulos deixam de olhar para as suas culpas ou somente para o céu, passando a olhar para a frente e para as novidades do Espírito. Jesus não se afasta da nossa humanidade, mas continua presente de uma outra maneira: junto com o Pai e o Espírito faz sua “morada” no interior de cada pessoa para fazer nova todas as coisas. Desse modo, é na atuação dos cristãos que encontramos os sinais de que o Cristo triunfou da morte. Assim, com o Espírito de Cristo, somos chamados a ser dilatadores de uma presença de salvação, multiplicadores da vida e continuadores de uma promessa.
Senhor, ajuda-me a viver uma realidade pascal ampla na mediação da Tua bondade. Dá-me a força necessária para portar vida, ressuscitar a esperança e ser profeta de salvação. Ensina-me a linguagem do amor e do perdão para ser capaz de recuperar a dignidade humana e a vida. Permita-me confirmar a Tua presença no mundo com sinais, gestos concretos e testemunho


Gratidão Frei por me enviar novos caminhos de conversão. Paz e Bem.