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O trono do amor

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 13 de set.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 13 de set.

A cruz, hoje reconhecida como símbolo universal de fé, esperança e amor divino, teve um significado muito diferente em sua origem. No contexto do Império Romano, ela era um instrumento cruel e degradante de punição, reservado a escravos, rebeldes e criminosos. A crucificação provocava dor imensa e humilhação pública, servindo para aterrorizar quem ousasse desafiar a autoridade imperial. Nesse cenário, a crucificação de Jesus representou a máxima desonra.

Nos primeiros séculos, os cristãos enfrentaram grande dificuldade em aceitar a cruz como símbolo do amor e da salvação de Deus. Com o tempo, porém, a cruz foi ressignificada, tornando-se sinal de justiça, entrega total e esperança para toda a humanidade.

Jesus, embora possuísse a condição divina, não a reteve para si. Pelo contrário, esvaziou-se, assumiu a condição de servo e tornou-se plenamente humano, humilhando-se até a morte – e morte de cruz. Assim, a cruz deixa de representar apenas sofrimento ou derrota, tornando-se o símbolo da entrega total de Jesus, que, por amor, decidiu compartilhar nossa fragilidade. Ao assumir a morte mais humilhante da época, Ele transforma a cruz em sinal de esperança, libertação e vida nova. O cristianismo não nega o sofrimento, mas o acolhe, conferindo-lhe um novo significado: o da salvação, da presença consoladora de Deus em nossas dores e da possibilidade de renascer mesmo nas maiores dificuldades.


No Evangelho de hoje, encontramos Nicodemos, fariseu e mestre respeitado em Israel, que procura Jesus secretamente à noite. Jesus o desafia a “nascer de novo” para ver e entrar no Reino de Deus. Nicodemos interpreta o convite de forma literal, pensando em um nascimento físico, mas Jesus o convida a ir além da sabedoria humana e reconhecer nele o Filho de Deus.

Fazendo alusão ao episódio da serpente levantada por Moisés no deserto, Jesus anuncia que Ele mesmo será “levantado”, não só na cruz, mas também na ressurreição e exaltação. Assim, a cruz deixa de ser mero símbolo de dor e castigo, tornando-se o trono do amor divino e o centro da salvação.

A cruz revela o imenso amor de Deus pelo mundo e se torna fonte de vida para todos que creem em Jesus. No rosto desfigurado do Crucificado, contemplamos um Deus surpreendente e misericordioso. A cruz não é um fardo passivo, mas o fruto de uma vida plena, vivida em entrega e fidelidade ao Pai. Ela só faz sentido quando nasce de um compromisso verdadeiro com a vida e é assumida em favor do próximo. A cruz não é sofrimento buscado; Deus não exige dor para conceder salvação. Pelo contrário, ela liberta quando aponta para a ressurreição, e seu peso se torna leve quando carregada com fé e esperança.

A cruz é uma escola de esperança e reconciliação, onde dor e morte não têm a última palavra. Ela se torna o trono do amor, onde Deus revela seu poder verdadeiro: amar até o fim.

Na cruz, Jesus parece um rejeitado, condenado e sofredor impotente, derrotado aos olhos humanos. Mas a verdade profunda vai muito além dessa aparência: é na cruz que Ele revela sua glória: a glória do amor incondicional e infinito de Deus. A cruz deixa de ser símbolo de fracasso e torna-se o lugar onde o amor divino manifesta seu poder transformador. Ali, o sofrimento se converte em vitória, o ódio em amor, o desespero em esperança, a miséria humana em misericórdia divina, a morte em vida. Por meio da cruz, Deus revela sua maior força: a capacidade de transformar a dor em salvação, abrindo os braços para abraçar toda a humanidade com amor e misericórdia.

A cruz é um chamado constante para não desistir, para continuar acreditando na transformação e na vitória do amor sobre o mal.

Esta celebração nos convida a refletir sobre o paradoxo da fé cristã: aquilo que era sinal de morte, violência e opressão - a cruz - transforma-se em Cristo no sinal máximo de vida, amor, esperança e salvação. A crucificação de Jesus, evento histórico, concreto e datado, ultrapassa as barreiras do tempo e alcança todas as gerações, passadas, presentes e futuras. Não veneramos a cruz como um objeto de dor ou instrumento de morte, mas como o lugar onde o amor de Deus se manifestou de forma radical e definitiva. Nela, vemos o amor do Pai que entrega seu Filho pela vida do mundo e o amor do Filho que se doa livremente pela salvação da humanidade.



Senhor, na Tua cruz descubro o amor infinito e incondicional que tens por mim. Transforma meu coração para que eu possa amar com a mesma entrega e dedicação, doando-me verdadeiramente a cada irmão e irmã que encontro. Que a força e a luz da Tua cruz me guiem e sustentem em todos os momentos.

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