O prêmio da liberdade interior
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 13 de out. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 2 de nov. de 2024
O caminho de Jesus foi interrompido por “alguém” que, de maneira inesperada, ajoelhando-se diante d’Ele, chamou-O de “Bom Mestre” e fez-Lhe uma pergunta existencial: “que devo fazer para herdar a vida eterna?”. Alguém chamou Jesus de “Bom Mestre” não porque reconheceu Sua bondade, mas porque observou a autoridade de Suas palavras. Esse “alguém” tinha ouvido e seguido Jesus. Entretanto, quando O viu continuar sua caminhada, saiu correndo ao Seu encontro para Lhe fazer aquela pergunta. Jesus, sem maiores explicações, indicou-lhe a vivência dos mandamentos. Quando o homem respondeu-Lhe que, desde sua juventude, era um observante fiel das Leis, o Mestre fixou-lhenum profundo e autêntico olhar amoroso.
Esse “alguém” chamou o Cristo de Mestre com o intuito de que Ele fosse Lhe dar uma nova tarefa a ser cumprida. A única linguagem que esse homem havia aprendido na vida era a do mérito e a do dever. Para aquele moço, a vida eterna era um direito, uma herança, algo que deveria ser conquistada com um fazer. O problema é que “o dever tomou o lugar de Deus”. Ele falava em observância, enquanto o Mestre estava lhe propondo a liberdade interior e gratuita. Esse homem foi atrás de Jesus para pedir-Lhe algo, uma nova regra ou conduta. No entanto, o Cristodisse que ele era quem deveria dar tudo de si. A vida eterna é somente real quando se aprende o relacionamento com aqueles que são próximos. Nesse sentido, Jesus recordou apenas a segunda parte dos mandamentos: “não matarás; não cometerás adultério; não roubarás; não levantarás falso testemunho; não prejudicarás ninguém; honra teu pai e tua mãe”. Fazer o bem ao próximo é o ponto de partida e de chegada para uma vida autêntica, divina e eterna.
Aquele homem não compreendia que a salvação perpassava pelarelação e não pelo mérito. A vida Eterna não é mérito, mas dom recebido, graça gratuita e oferta generosa. Diante da exaltação do dever e da ostentação do fazer, Jesus simplesmente olhou para o interior daquele homem, viu fragilidades, belezas, boa-vontade e disposição. Por isso, olhando-o, amou-lhe incondicionalmente e, somente depois, ofereceu-lhe a nova proposta. Jesus viu quedentro daquele “alguém” faltava alguma coisa.
Ele não tinha identidade porque nunca havia experimentado o amor livre e gratuito. Sua riqueza permitia apenas com que ele comprasse amor sem viver a liberdade advinda desse sentimento genuíno. Desse modo, para o homem, era mais fácil observar a lei do que viver as relações e fazer o bem aos outros. Ele era rico de coisas, da observância dos primeiros mandamentos, mas era pobre de caridade e de relações humanas autênticas.
Diante disso, Jesus ensinou que, para segui-Lo, não era preciso aprender uma nova receita ou comprar os bens. Era necessáriovender tudo e dar-se inteiramente ao próximo. A proposta do Cristo precisava libertar o coração de todo o peso que impedia o moço de viver relações saudáveis. O seguimento não devia ser resumido no fazer, mas no viver a liberdade da doação e a soberania do amor. Aquele homem parecia estar esgotado de viver os mandamentos, sem nunca alcançar os méritos da observância e os resultados da prática.
Contudo, quando Jesus apresenta-lhe a proposta da doação, ele prefere continuar no anonimato e não estabelecer uma relação identitária de reconhecimento. Ele prefere continuar sendo “alguém”, não tendo nome. Enquanto, preferirmos viver sozinhos e isolados, nunca ouviremos nosso nome ser pronunciado.
O “alguém” rico opta por ficar com seus bens e continuar fazendo “coisas” para alcançar a vida eterna. Ele não teve a coragem de confiar na proposta de Jesus. Tendo medo de perder, ele foi embora triste e aflito, não querendo arriscar-se na relação.
Jesus, desviando Seu olhar do homem rico, voltou-se para seus discípulos. Eles, ficaram perplexos com a proposta de Jesus e compreenderam que para seguir o Bom Mestre era necessário um desafio duradouro e diário, um caminho de libertação do coração. O encontro foi extraordinário. Entretanto, maior foi a proposta exagerada: não se preocupe com o “fazer”, mas com o “dar”. Eis oconvite à adesão de uma lógica completamente nova. A radicalidade de Jesus mostra que, para entrar em seu discipulado, é necessário ter um coração livre interiormente e aberto à total doação. A salvação é prêmio daqueles que libertam o coração e se oferecem totalmente nas relações humanas.
Senhor, ajuda-me a ter uma vida plena. Ensina-me que não é suficiente ser apenas um observante fiel das leis. Leva-me àliberdade do coração e à vivência do amor. Dá-me um coração para amar, para perdoar e sentir, livre de toda prisão, pois esse é o verdadeiro caminho da minha salvação.
Boa Moite Frei!!! Gratidão por me enviar essas palavras q me levam a repensar minha relação com o Senhor e com as pessoas q convivo. Paz e Bem!!!