O poder transformador

Jesus facilita o entendimento da multidão que vivia próxima Dele, apresentando duas parábolas com elementos populares. Ele transforma a dimensão quotidiana e as situações existenciais numa potente mensagem do Reino de Deus. As parábolas são um ato de cortesia e de ternura. Jesus se adapta ao ritmo de seus ouvintes.

O texto evangélico apresenta parábolas de duas sementes: a germinada e a de mostarda. Nessas parábolas estão presentes sementes espalhadas e semeadas. No dia a dia e no esconderijo da terra, a semente nasce, cresce e produz. Enquanto a primeira parábola é exclusiva do Evangelho de Marcos, a segunda consta também os outros evangelhos sinóticos (Mt 13,31-32; Lc 13,18-19).

O semeador tem um papel importante. Entretanto, maior é a arte da natureza que tem seus mistérios insondáveis. O mistério da semente está escondido no ato de morrer para fazer nascer. A fragilidade é a força da semente. O romper-se é onde se encontra seu poder transformador. Lançada à terra para produzir fruto, a semente cresce, independentemente, dos desejos apressados. “A terra, por si mesma, produz o fruto: primeiro aparecem as folhas, depois vem a espiga e, por fim, os grãos que enchem a espiga”.

No profundo da terra e na clareza da noite, a semente morre escondida, nasce imperceptível e cresce aos nossos olhos. A terra e a semente encontram-se para produzir a continuidade do velho no novo. Nesse encontro está a vitalidade. A semente é algo que resta da colheita anterior. Ela é o fruto de uma planta que, colhida, seca e parece morta. Nela há uma seiva vital que transforma aquilo que foi para aquilo que será. Os grãos caídos da espiga madura fazem nascer a nova espiga.

A parábola do grão de mostarda apresenta a menor de todas as sementes que, após ser semeada, torna-se a maior de todas as hortaliças, sendo capaz de abrigar vida em seus galhos. Jesus compara essa dinâmica ao crescimento do Reino de Deus. Ele fecunda no quotidiano da história e de forma invisível. A transformação é despercebida, mas eficaz. O Reino de Deus cresce no mundo de maneira misteriosa, surpreendente, revelando sua vitalidade vitoriosa e seu poder escondido no pouco ou no nada que está sendo produzido. É uma realidade humanamente pequena e irrelevante, mas que germina de forma contínua e progressiva. Uma ínfima realidade que carrega em si mesma um poder misterioso, silencioso e irresistível.

A narrativa enfatiza o crescimento da semente e acaba ignorando o trabalho do agricultor. “Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece”. Jesus quer destacar a força transformadora da semente que, uma vez lançada na terra, cresce por si mesma. O evangelista não usa o termo semear, mas “espalhar” a semente na terra. Espalhar a semente possui maior significado do que semear. Para semear é preciso técnica, cálculo, amplo trabalho e força humana.

A mensagem evangélica se relaciona com o “espalhar”. Por isso, ela deve ser difundida com largueza, generosidade e gratuidade. Não se deve limitar a semeadura em terrenos ou espaços pequenos. A semente precisa ser espalhada antes de ser cultivada e colhida. A abundância da colheita não depende do agricultor, mas do terreno fértil em que caiu a semente.

As duas parábolas nos convidam a superar nossos projetos, cálculos e previsões não podendo acelerar o crescimento do Reino. Saber da nossa inatividade na construção desse Reino nos permite renunciar os melindres apologéticos e as infinitas estratégias pastorais. O Reino é de Deus! Ele sabe quem chama, o porque chama e as limitações daqueles que são chamados. Por isso, devemos ter a consciência de somos apenas participantes do Reino e não construtores. É claro que participando do Reino, ele também é nosso. Entretanto, ele tem sua própria lógica, seu próprio tempo e sua própria dinâmica.

O Reino de Deus não é produto humano e nem resultado de esforços racionais. Ele não segue a lógica da eficácia mercantil e da visibilidade. Sua lógica é a da invisibilidade e sua eficácia não está sob o controle do tempo e do espaço. A transformação não se refere a protagonismos individuais. Ela não é local ou momentânea, mas acontece com um conjunto de fatores gradativos e comunitários.

As duas parábolas questionam a todos, sobretudo, nossos líderes de comunidades cristãs que muitas vezes, animados pelas melhores intenções, se deixam vencer pela impaciência, pela pressa e pelo eficientismo. Diante disso, irritam-se com facilidade tornando-se agressivos e intolerantes. Enchem os ouvidos dos outros de palavras e de obrigações. Os “mestres” da vida espiritual nos convidam a um urgente compromisso, a uma atividade incansável e a um trabalho febril. No entanto, o Evangelho nos recorda um aspecto importante: é preciso dormir e acordar, noite e dia, deixando com que a semente germine e cresça, sem se preocupar em saber ou entender como o milagre acontece.

Os desígnios de Deus sempre se cumprem. Eles estão muito além de nossas previsões e de nossas impaciências pastorais.

A semente germinada e a semente de mostarda nos convidam a considerar a realidade com os olhos de Deus. Embora pequena, quando cresce, é capaz de produzir muitos frutos, continuando a produzir seiva vital e abrigando vidas em seus galhos. Há momentos em que é somente necessário “dormir”, saber esperar, manter a calma, sentar e contemplar o admirável encontro da semente com a terra. É preciso maravilhar-se com o Reino que se expande cada vez mais, mesmo quando não damos conta disso. Portanto, é preciso termos confiança na semente e em seu poder transformador. 

Senhor, dai-me largueza, generosidade e gratuidade para espalhar a semente do teu Reino no mundo. Liberta-me da tentação da eficiência, do desejo de controlar, da pretensão da técnica e do esforços racionais. Cura-me da impaciência, da pressa e da ansiedade. Ajuda-me a considerar a realidade com o Teus olhos.