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O milagre das mãos

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 24 de jul. de 2021
  • 3 min de leitura

No Evangelho deste domingo, temos duas observações importantes. A primeira é a reação de dizermos que se trata da multiplicação dos pães. Entretanto, o termo “multiplicação” não é usado no Evangelho. Embora usado como título de algumas passagens bíblicas, o texto relata apenas pães e peixes compartilhados, a distribuição dos mesmos, a sobra recolhida em doze cestos. Desta maneira, a mensagem central não deve ser a multiplicação, mas a partilha. A segunda observação é que o Evangelho deste domingo não trata da Eucaristia, mas como já dissemos, da partilha dos bens.


A multidão continua a seguir os passos de Jesus. No domingo passado a multidão estava com sede das palavras e do ensinamento, hoje estão com fome. Além de estarem sem pastor, estão ovelhas famintas. Vendo novamente a multidão, Jesus mostrando-se interessado pela demanda daquele povo, preocupa-se para alimentá-lo. O evangelista João mostra-nos um Jesus atento às necessidades primárias das pessoas.

De fato, na Bíblia, a sede e a fome são usadas como sinal de desejo. É a necessidade que marca a falta de algo essencial para viver. A fome recorda-nos a necessidade de algo externo. Não somos autossuficientes. Dependemos de justiça, afetos, cuidados, relações para viver. Em João, Jesus pergunta o desejo de cada um: o que procuram?

Os discípulos preocupados não conseguem entender a lógica de Jesus. Eles pensam em despedir a multidão esfomeada porque não encontram a possibilidade de alimentar tanta gente. Eles são realistas, mas Jesus ousa quebrar o paradigma do bom senso e do raciocínio de seus discípulos a fim de lhes mostrar uma solução. Ele sabe que é capaz de dar não simplesmente um pão que satisfaça as necessidades temporárias humanas, mas é capaz de dar a si mesmo como resposta aos desejos de cada homem. Jesus substitui a lógica do comprar pela lógica do doar.


A proposta de Jesus é indicada com um gesto: pega o pão oferecido, dá graças, distribui-o e o “milagre” acontece realizado pela fé na sua palavra. O gesto de Jesus é um convite à partilha e à renúncia ao egoísmo que, muitas vezes, há dentro de nós, impedindo-nos de partilhar. Os discípulos pensam a partir da lógica matemática: temos cinco pães e dois peixes.

Jesus pensa a partir da lógica da partilha: a soma de 5 com 2 é capaz de alimentar mais de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças. A sua matemática é difícil de ser compreendida. Antes de ser um milagre dos pães é o milagre das mãos. Passa-se das mãos do menino às mãos de Jesus, das mãos de Jesus às mãos do discípulos, das mãos dos discípulos às mãos de todos.

Jesus não somente ensina, mas mostra aos discípulos que para segui-lo é preciso entender uma matemática diferente. É preciso saber partilhar a soma, multiplicar o diferente e saciar com o resto. A matemática de Jesus foge da objetividade dos números e entra no subjetivo das necessidades. Nisto consiste o "milagre": num gesto, num ensinamento e numa conta diferente. O sinal é tão significativo que pode ser encontrado seis vezes nos Evangelhos.


Nesta passagem, Jesus não simplesmente multiplica e divide os pães e os peixes, ele os dá. Os verbos “dividir”, “multiplicar” nos convidam a encarar a vida de outra maneira. É preciso sair do quantitativo e do econômico para entrarmos na lógica da doação e da superabundância. O milagre é sinal e profecia da vida que Jesus dá a todos. Ele sacia não somente a fome material, mas aquela mais profunda, a fome de sentido, a fome de Deus.


Senhor, ensina-nos a somar diferente e a entender que a tua lógica é sempre distante dos nossos cálculos mesquinhos e medíocres. Auxilia-nos a partilhar o que temos, pois o milagre não está na multiplicação dos nossos dons, mas na entrega serena do que temos. Dá-nos a graça de enxergar aquilo que para os nossos olhos é insuficiente, mas nas tuas mãos, servem e são capazes de alimentar multidões. Ajuda-nos a ser sinais e profetas de superabundâncias.


LFCM.

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