O lugar do Ressuscitado
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 26 de abr.
- 3 min de leitura
Atualizado: 3 de mai.
Oito dias depois, Jesus entrou.
No dia da Ressurreição nascia uma nova comunidade que, com a Presença de Jesus Ressuscitado, recebia o amor gratuito e incondicional de Deus e a autoridade de perdoar os pecados. A experiência divina não se manifesta de forma instantânea ou imediata. A fim possibilitar esse processo, Jesus aponta um processo individual aos discípulos amargurados e duvidosos. O Cristo, visitando-lhes, sopra-lhes o Espírito da Vida. O mesmo Espírito que pairava sobre as águas na Criação, que soprou nas narinas do ser humano para lhe tornar ser vivente. Esse mesmo Espírito que desceu sobre Jesus em Seu Batismo e, após a ressurreição, faz o Cristo soprar sobre seus discípulos é o Espírito de Deus que capacita os discípulos para a missão. Esse é o Espírito que ressuscitou Jesus da morte e que encorajou seus discípulos a viverem o Mistério Pascal.
Oito dias depois da morte de Jesus e de Suas primeiras manifestações, as portas do Cenáculo permaneciam fechadas. A morte de Jesus provocou nos discípulos a frustração. Junto com a dor da morte do Mestre, havia sentimentos de fragilidade e de confusão. Os discípulos se esconderam por medo e porque não tinham forças para recomeçar.
O sepulcro de Jesus estava aberto, mas eles permaneceram fechados. Eles fizeram do cenáculo da vida um sepulcro de morte. Aquele lugar fechado de culpa, de medo e de fracasso não impediu a entrada do Cristo Ressuscitado que lhes saudou: “A paz esteja convosco”. Jesus ofereceu a eles o dom maior: a Paz.
A dúvida de Tomé é um dos provérbios mais repetidos em nossos dias: “é preciso ver para crer”. Depois da morte de Jesus, Tomé foge da comunidade. Ele escolhe não ter mais vínculo comunitário. Fechado em si mesmo, ele fecha-se para a comunidade e não consegue ver o Senhor Ressuscitado. Mas, Jesus, tendo compaixão, aparece-lhes novamente, pois Ele entende a dúvida e o sofrimento de Tomé. O Cristo em resposta à incredulidade de Tomé, mostra-lhe as feridas, as mãos perfuradas pelos pregos e o lado direito dilacerado pela lança.
O Crucificado-Ressuscitado não discute, não reprova a dúvida de seu Apóstolo. Apenas mostra as chagas da Sua paixão. Agora, estando junto da comunidade, Tomé recebe a força do Espírito da Vida que lhe possibilita crer no Ressuscitado: “Meu Senhor e meu Deus”.
Tomé, chamado dídimo, gêmeo, é o irmão gêmeo de cada um de nós. Sempre temos dificuldade de acreditar. Por isso, preferimos nos isolar em nossos individualismos doentios. A resistência de Tomé nos ensina que não basta ouvir que Jesus está vivo, é preciso retornar à comunidade para fazermos nossa experiência pessoal com o Ressuscitado. Tomé duvida, pois o anúncio de que Jesus estava vivo parecia-lhe contraditório. Os discípulos afirmavam que Jesus havia ressuscitado, mas permaneciam escondidos e trancados, oito dias após o anúncio. Nada havia mudado. Tudo estava igual. Eles continuavam vibrar medo e desconfiança.
As narrativas pascais são um convite para que a nossa vida de comunidade seja capaz de testemunhar que Cristo vive e para transformar nossos sentimentos de medo, de dúvida e de frustração em alegria pela Ressurreição.
A liturgia deste domingo nos faz um forte apelo: abrir as portas de nossos cenáculos para testemunharmos a vida plena e a alegria do Evangelho pela ação do Espírito Santo que recebemos em nosso Batismo e que é o mesmo Espírito soprado sobre os discípulos pelo Senhor Ressuscitado.
O Espírito do Ressuscitado não se manifesta em nossos individualismos e em nossos esconderijos, mas deseja fazer-se presença na comunidade. É com a comunidade reunida que o Espírito da Vida transforma as dúvidas, os medos e os fracassos. Separado da comunidade, é impossível fazer a experiência da ressurreição. A comunidade é o lugar que Deus escolhe para a manifestação e para a revelação do Seu presença. Somente nela podemos fazer experiência da presença viva do Espírito do Senhor Ressuscitado. É na comunidade que os discípulos recebem o dom do perdão e a missão de perdoarem. Somente junto com a comunidade reunida os olhos se abrem e reconhecem a presença verdadeira de Jesus.
Senhor Ressuscitado, sopra em mim o Espírito de Vida que me liberte do medo, da culpa e do fracasso. Dá-me a coragem para sair dos meus sepulcros e me tornar cenáculo de vida aos meus irmãos. Permita-me entender que somente na comunidade e por meio dela é que verdadeiramente eu posso fazer a autêntica experiência da Tua Paz e da Tua Ressurreição. Amém!
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