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O encontro dos desejos

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 9 de fev. de 2024
  • 3 min de leitura

Após a intensa jornada de Jesus, um leproso chegou perto Dele. Os leprosos eram personagens centrais no tempo de Jesus. A lepra era a pior das doenças pois, além de ser contagiosa, possuía uma conotação espiritual em que castigo e maldição se correlacionavam. Os infectados não tinham somente uma grave doença, mas eram marginalizados da vida social e religiosa. Eram vistos não apenas como vítimas da determinada doença, mas culpados por terem sido contagiados por ela. Todos tinham medo dos leprosos e, por isso, eles deviam ser excluídos da cidade e afastados do Templo.


O contexto evangélico é pleno de tensão e transgressão. Jesus e o leproso são transgressores da Lei social e religiosa. Ambos possuem coragem e destemor. O leproso está no meio da cidade. Jesus se aproxima dele e o toca.

A vontade de viver do leproso é mais forte do que a Lei. Ele transgredindo a Lei, entra na cidade a fim de encontrar-se com Jesus. Ao aproximar-se do Cristo, o leproso percebe sua atitude diferente, pois todos o desprezavam e tinham medo dele. Entretanto, Jesus não manifestou esses sentimentos. O olhar do Cristo vê a pessoa, não uma doença.

Ao ficar perto de Jesus, imediatamente o homem impuro professa a fé: “Se queres, tens o poder de curar-me”. Ele não pediu para ser curado porque entendia que sua enfermidade era vontade de Deus. Desse modo, o leproso manifestou sua fé e não seu pedido de cura. Jesus, revelando que Deus nada tinha a ver com aquela situação marginal, diz: “Eu quero: fica curado!”. O Cristo não apenas diz, mas toca o leproso. Ele toca o intocável. Aparentemente, não tendo prudência para não se contaminar, Ele excede o sacro tabu e supera a Lei.

Ninguém tocava o leproso, mas Jesus é capaz de tocá-lo. O Cristo não toca o doente pela condição divina, mas por sua grandiosa humanidade.

Ao tocar o intocável e ao transgredir a Lei, Jesus assume a condição do leproso. Ele torna-se impuro e impossibilitado de frequentar a cidade e de visitar o Templo. Jesus tinha consciência dessa condição e desejou realizá-la. Ele não seria simplesmente expulso do Templo e dos rituais do seu povo. Ao curar o leproso, o Cristo desejou distanciar-se daquele espaço pouco sagrado e muito desumano. Não seria coerente que Ele frequentasse um lugar no qual, em nome de Deus, não se respeitava o humano.


No início o evangelista narra que era o leproso quem não podia entrar na cidade por causa da sua impureza. Agora, Marcos conclui que, a partir desse momento, Jesus é quem não pode mais entrar na cidade. Seu contato com o leproso, impediu-O de entrar naquela cidade. Para Jesus, essa é uma feliz troca. Afinal, foi para isso que Ele veio: perder a dignidade para distribuí-la aos que dela necessitassem. Para ficar perto dos excluídos, Jesus permite ser excluído. Essa condição de exclusão, determina Jesus a permanecer ao lado dos marginalizados, daqueles que viviam situações desumanas, dos que não eram desejados, mas considerados amaldiçoados e perigosos.

Dois desejos se encontram: o de ser curado e o de curar. Jesus cura, mas sofrerá consequências. Ele pede anonimato quase que impossível: “não contes nada disso a ninguém”. No entanto, a alegria pela dignidade e saúde restauradas, faz com que o leproso não se contenha e divulgue a cura para todos. O anúncio do homem impuro foi resultado da sua experiência de libertação: “encontrei um homem que não teve medo tocar na minha impureza”.

A sogra de Pedro foi curada para servir e o leproso foi purificado para anunciar. Somos curados para servir e purificados para anunciar. O serviço e o anúncio não resultam do nosso conhecimento ou da nossa racionalidade, mas da experiência da fé e do toque. O serviço e o anúncio tornam-se eficazes pela certeza de ser tocado de forma diferente. A sogra e o leproso foram resgatados da situação de morte e da falta de dignidade. A fé endemoniada, a mulher isolada e o homem impuro foram restaurados. A primeira, no espírito. A segunda, na alma. O terceiro, no corpo. Todos recebem a integração da vida e o redimensionamento da existência. O encontro com Cristo é o encontro com a dignidade humana.


Senhor, dai-me coragem para não agarrar-me nas Leis, mas para ir ao teu encontro. Cura-me com Teu olhar diferente e com Tua acolhida generosa. Que meu desejo de ser curado encontre tua vontade de curar-me. Restaura a minha dignidade com a Tua humanidade. Que minha purificação seja a motivação do anúncio e do serviço.

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1 comentário


Marcia Severo
Marcia Severo
11 de fev. de 2024

Bom Dia Frei. Gratidão por essas palavras de esperança. Paz e Bem🙏🏾

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