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O coração desperto

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 9 de ago.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 22 de ago.

O Evangelho deste domingo se dirige diretamente aos discípulos, e não à multidão. Eles sentem medo, pois percebem sua fragilidade diante de um mundo hostil e acelerado. Assustados com a força aparente do mal e com o desafio da cruz, experimentam ansiedade e dúvidas em relação à missão. Jesus, com palavras ternas, os conforta: “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino”. Essa frase, cheia de afeto e esperança, é dirigida a uma pequena comunidade, frágil, mas perseverante.

Jesus quer prepará-los interiormente para um caminho exigente e profundamente fecundo. Ele assegura-lhes que o Reino de Deus não acontece por obra da razão humana, mas pelo dom gratuito de Deus, e só se torna visível aos olhos daqueles que permanecem fiéis, mesmo em meio à obscuridade.

O foco de Jesus é o coração dos discípulos — não um sentimento passageiro, mas o centro vital da existência, onde se enraízam os valores, decisões e afetos. Ao dizer “onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”, Jesus convida à purificação do olhar interior, à libertação dos apegos e à reordenação dos desejos. Falar do tesouro é falar da identidade e do sentido último da vida. A vigilância começa quando o discípulo sabe responder qual a sua motivação verdadeira e o investimento central da sua vocação. Assim, o coração não deve ser apenas receptivo, mas também formativo, capaz de discernir e escolher conforme a vontade de Deus.

O coração vigilante não se dispersa, não se prende às ilusões do mundo, mas permanece ancorado na esperança.

A primeira parábola apresenta empregados que, mesmo sem saber a hora do retorno do patrão, permanecem vigilantes. Essa espera ativa simboliza uma vida em sintonia com Deus e com os sinais do tempo. Mais do que simples expectativa, trata-se de uma postura de prontidão constante, que se traduz em atitudes concretas de serviço, cuidado e generosidade. A recompensa surpreendente, o próprio patrão que se torna servo, revela o rosto misericordioso de Deus e subverte as lógicas humanas de poder. Essa imagem nos convida a reconhecer que, no Reino de Deus, a verdadeira grandeza está no serviço e na humildade.

A espera, portanto, não é passiva, mas transformadora: ela molda o caráter do discípulo e o configura ao estilo do Mestre.

Na segunda parábola, Jesus compara a vinda do Senhor à chegada de um ladrão, uma imagem provocativa e rara, mas cheia de significado. Deus não invade, mas surpreende. Ele chega aonde menos esperamos e quando menos imaginamos. Por isso, vigiar é estar espiritualmente desperto, atento ao tempo presente, sensível à presença do Senhor nas pequenas e grandes realidades da vida. A vigilância, nesse sentido, é também uma espiritualidade do cotidiano, um chamado a viver com atenção amorosa aos detalhes, aos encontros, às dores e alegrias do dia a dia. Não podemos viver anestesiados ou distraídos.

A vigilância nos liberta da apatia e da superficialidade, e nos coloca em sintonia com a dinâmica da graça, que age silenciosa, mas eficazmente.

A terceira parábola, resposta à pergunta de Pedro, destaca a responsabilidade dos que lideram. Administradores das comunidades não são donos, mas servos confiáveis, chamados a cuidar da casa do Senhor com sabedoria, justiça e amor. A liderança cristã não é autoritária, mas pastoral; não é domínio, mas serviço. Ser um administrador fiel significa estar atento às necessidades do povo, reconhecer a fome física, espiritual e afetiva dos irmãos, e agir com compaixão.

Jesus é claro: o uso egoísta do poder afasta o administrador de Deus e do povo. A vigilância, neste caso, exige uma profunda conversão pastoral, onde o cuidado com os outros supera qualquer projeto pessoal. A Igreja é lugar de serviço, não de privilégio.

Por fim, Jesus convida à vigilância como estilo de vida: “Estejam apertados os vossos cintos e acesas as vossas lâmpadas”. Os cintos apertados simbolizam a prontidão do peregrino, que está sempre a caminho, disponível para mudar, crescer e servir. As lâmpadas acesas representam a fé viva, alimentada pela escuta da Palavra, pela oração constante e pela prática do amor concreto. A vigilância é mais do que uma atitude moral; é um estado espiritual de quem está unido ao Senhor e comprometido com sua missão no mundo. Ela nos prepara não apenas para o encontro final com Deus, mas para reconhecer Sua presença em cada passo do caminho. Estar prontos, portanto, é viver com o coração desperto, com os pés no caminho e com os olhos fixos no Reino.

 

Senhor, ensina-me a vigiar com fé e esperança, mesmo nas noites escuras da vida. Dai-me um coração livre e disponível, capaz de buscar o verdadeiro tesouro: a Tua presença, o Teu Reino e a Tua Palavra. Fortalece-me no serviço generoso, na escuta atenta e na fidelidade de cada dia. Ajudai-me a ser um administrador prudente, cuidadoso com a vida do outro, com a tua Igreja e com os dons que me confiaste.

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1 comentário


Marcia Severo
Marcia Severo
10 de ago.

Bom Dia Frei!!! Gratidão por me enviar palavras q trazem caminhos verdadeiros para eu estar sempre exercitando a vigilância. Paz e Bem. 🙏🏿

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