O contágio do amor
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.

- 3 de fev. de 2024
- 4 min de leitura
O evangelista Marcos descreve o percurso feito por Jesus no início de sua vida pública passando da beira do lago (local em que encontrou e chamou alguns para o discipulado) para a Sinagoga (espaço sagrado onde libertou um homem que possuía uma visão equivocada da fé). Da Sinagoga, Ele passa à casa de Pedro a fim de estabelecer a relação afetiva e de cura. Da casa de Pedro, Jesus se retira para a oração pessoal. Ele passa do público ao privado, da assembleia à vida cotidiana.
O Sagrado não é encontrado apenas na Sinagoga, mas na família, em meio às relações conturbadas e desafiantes, no silêncio da noite.
Jesus percorre todos os espaços e a força da Sua presença é sinal de cura e de libertação. As palavras proclamadas e as curas realizadas são sinais do novo tempo e da proximidade do Reino de Deus. Todas as curas são um convite a olhar além do sinal. Ao chegar na casa de Pedro, Jesus é comunicado que nada estava bem naquele lugar. A desordem afetiva, da ausência de Pedro que O seguia, é manifestada pela febre de sua sogra. Ela não suportou a ausência do dono da casa e fragilizou-se. Preocupada com o futuro da casa, ela escolheu a cama para passar seus dias. Nessa situação, Jesus aproximou-se, segurou-a pela mão e deu-lhe sua força para que ela levantasse. A febre logo a deixou e ela começou a servir.
Os milagres são sinais para edificar a fé. Em sua vida, Jesus curava para devolver a cada doente a capacidade de amar e de servir, pois amar é o único caminho que nos torna semelhantes a Ele. A adoecida sogra de Pedro, ao ser levantada pelas mãos de Jesus, entendeu o mistério da ressurreição e foi reordenar a casa. Jesus nada disse, apenas aproximou-se e a tocou. O toque foi suficiente para que ela se sentisse segura, amada e respeitada. A febre sinalizava o medo em relação ao futuro daquela casa. Sua filha parecia ter desaparecido, pois o evangelista nada diz sobre ela. É possível que, com a ausência de Pedro, ela tenha se abalado e desaparecido. A sogra sentiu a intromissão de Jesus com a escolha de seu genro.
Jesus entendeu a situação. Sua ida àquela casa foi necessária. Ele precisava curar as relações, revelar o projeto do Pai e esclarecer o chamado de Simão e de André.
Em Marcos, a primeira cura realizada por Jesus revelou a superação de uma visão demoníaca da fé. A segunda, marcou a libertação do isolamento febril. Por conseguinte, aquela casa, outrora desordenada, tornou-se espaço de inúmeras curas e libertações. Não somente por causa do poder messiânico, vindo de Jesus, aquela casa e os que nela habitavam tornaram-se iluminados e iluminadores.
O restabelecimento daquele espaço familiar garantiu que todos quanto ali se aproximavam fossem curados. A mão de Jesus contagia. É o contágio do amor. A salvação é um deixar-se alcançar por Deus que gratuitamente nos procura.
No meio da noite, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto. Ele sabia que todos os seus dons vinham do Pai e deveriam ser devolvidos a Ele. É na relação com o Pai que Jesus restaura suas forças, confirma sua missão e recebe coragem para viver todas as situações humanas. É no diálogo com o Pai que Jesus recebe luz para enfrentar as dores humanas. É a oração que dá sentido à sua ação, pois ela é o segredo do equilíbrio, da força e do carisma de Cristo. A oração de Jesus não é secundária e nem simplesmente um prolongamento noturno. O Seu rezar é a fonte do falar e do agir. A oração do Mestre é o início do seu “ritmo” quotidiano e é o que lhe possibilita viver o dia todo com homens e mulheres.
Pedro, baseado em seus critérios humanos, junto com outros homens, saiu à procura de Jesus. Sua busca foi interesseira, pois ele quis usar Jesus como instrumento de afirmação e de sucesso. Para descontruir a vaidade de Pedro, Jesus convidou-o para ir a outros lugares descontruindo suas expectativas, suas emoções e suas ansiedades.
Os discípulos não eram chamados para viver num lugar familiar e conhecido. Eles estavam sendo chamados a viverem num mundo desconhecido e estranho. Com essas primeiras ações, Jesus revelou que foi enviado para iluminar a fé demonizada, o isolamento febril e os corações desamparados.
O movimento das dimensões do Cristo traz equilíbrio, satisfação e realização. Em meio a tudo isso, como um amigo próximo, Ele estende sua mão nos levantando e nos infundindo energia e vida plena. Em quatro espaços diferentes, Jesus se move: pela manhã vai à sinagoga; ao meio-dia vai à casa de Simão; ao entardecer atende os enfermos na rua e, na madrugada, de forma sigilosa, se retira para um lugar solitário a fim de orar. Portanto, esses espaços nos inspiram e nos trazem ensinamentos: a oração comunitária, a relação doméstica e familiar, a missão evangelizadora, a oração pessoal com o Pai são momentos necessários para contagiarmos o mundo com o amor.
Senhor, afasta-me dos interesses vaidosos e dos desejos impróprios ao seguimento e ao serviço. Ajuda-me a caminhar nos vários espaços da fé. Ensina-me a capacidade de amar, acolher e de intuir a necessidade do outro para servir. Dai-me a capacidade de orar e de entender que no diálogo contigo encontro força, equilíbrio e carisma.


Bom Dia Frei!!! Gratidão por me enviar palavras de esperança q me mostraram o caminho q devo seguir para cada vez mais estar perto do Senhor. Paz e Bem.