Atitudes de renovação
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 19 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 1 de ago.
No caminho em direção a Jerusalém, Jesus visitou uma família muito querida: a casa de Marta e Maria. Esta narrativa, descrita por Lucas, contém detalhes surpreendentes. O itinerário para Jerusalém e a visita à casa dessa família de amigos têm objetivos teológicos e catequéticos. Os discípulos não aparecem na cena, e Lázaro — irmão de Marta e Maria e, possivelmente, o proprietário da casa — também está ausente. Naquela pequena casa da aldeia de Betânia, Jesus se encontra sozinho com duas mulheres. Ambas o acolhem, mas o fazem de maneiras distintas, refletindo momentos diferentes de suas vidas pessoais.
Ao entrar na casa, Jesus é recebido por Marta, uma mulher ativa, que imediatamente se dedica ao trabalho para acolhê-lo e exercer o discipulado. Maria, por outro lado, coloca-se aos pés de Jesus, desejosa de aprender sobre o seguimento e ouvir as orientações de fé. A tradicional distinção entre a dimensão ativa, representada por Marta, e a contemplativa, representada por Maria, torna-se insuficiente para uma compreensão profunda da narrativa.
Lucas não apresenta duas atitudes concorrentes ou meramente complementares, mas propõe uma reflexão mais profunda: ele quer nos ensinar que a relação com Jesus deve ser fundamentada na escuta autêntica e no acolhimento, que exigem tempo e atenção. Fazer coisas boas para Jesus não justifica a nossa incapacidade de parar e ouvi-lo.
A atitude de Marta, ao acolher Jesus em sua casa, é revolucionária. Essa função, naquele contexto histórico, era destinada aos homens. Sua coragem de abrir as portas do lar permitiu conhecer mais de perto as intenções do Mestre. Da mesma forma, a atitude de Jesus, ao entrar na casa de duas mulheres, também é inusitada. Ambos romperam com os costumes morais vigentes, desafiando as normas sociais da época.
No itinerário de Jesus, conforme apresentado por Lucas, vemos a iluminação da cegueira, a libertação dos costumes opressores e a inauguração de um novo tempo.
A atitude de Maria também se mostra fora dos padrões. Sentar-se aos pés de Jesus para ouvi-lo é uma profissão de fé em suas palavras. Esse gesto, mais que devocional, é típico da postura dos discípulos — uma postura que não era permitida às mulheres da época. Maria realiza, portanto, um gesto inconcebível para uma mulher do seu tempo, e Jesus permite que ela permaneça nessa posição. Assim, ele rompe com os padrões rabínicos da sua época e inaugura uma mensagem de acolhimento e generosidade, incluindo as mulheres em seu discipulado.
Mesmo tendo a coragem de abrir sua casa para Jesus, Marta ainda permanecia condicionada pelos costumes tradicionais. O evangelista destaca: “Marta, porém, estava ocupada com muitos afazeres”. A situação parece normal para uma dona de casa que deseja servir bem a um hóspede ilustre. Por isso, ela pede que Jesus intervenha: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!” O comportamento discipular de Maria era, para Marta, uma contradição. Ela não se dirige à irmã, mas recorre à autoridade masculina de Jesus.
Jesus responde a Marta dizendo que Maria escolheu a melhor parte, ou seja, aquilo que era necessário naquele momento. Sua resposta não é uma repreensão às atitudes de Marta, mas um diagnóstico de sua disposição interior: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas!”
Ao perceber a ansiedade e agitação de Marta, Jesus quer dar um novo ritmo às suas ações, para que sua relação com Ele — o Amor Incondicional — se torne mais sintonizada. Jesus deseja curar em Marta sua preocupação excessiva, sua ansiedade constante e sua inquietação. No entanto, ela não percebe que, ao agir assim, cria mais obstáculos do que oportunidades, mais barreiras do que pontes, mais distanciamento do que proximidade. Agitar-se, preocupar-se e inquietar-se eram os desvios que impediam Marta de estabelecer vínculos afetivos autênticos com o Mestre.
Senhor, ajuda-me a cultivar vínculos humanos profundos e autênticos. Reordena meus afetos,e fortalece em mim o desejo sincero de estar na Tua presença. Cura-me, Senhor,das preocupações que me sobrecarregam, das ansiedades que me consomem, e da inquietação que me afasta de Ti. Que o meu coração aprenda o ritmo do Teu amor, e que minha vida seja resposta serena à Tua presença.
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