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A verdadeira herança

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 6 de set.
  • 4 min de leitura

Ao longo de Sua caminhada para Jerusalém, Jesus fala com clareza e firmeza, propondo uma adesão radical, livre e apaixonada. Ele percebe que muitos, especialmente os mais simples e sinceros de coração, o seguem. No entanto, sente a necessidade de esclarecer o que significa, de fato, ser seu verdadeiro discípulo. Jesus não se deixa levar por entusiasmos passageiros e também não deseja enganar ninguém com ilusões fáceis. Seu convite é exigente porque é verdadeiro: Ele busca seguidores que escolham esse caminho por amor, com maturidade, liberdade e responsabilidade.

O discipulado não é movido por interesses ou conveniências, mas por uma entrega autêntica ao projeto de vida nova que Ele oferece. Ele quer corações apaixonados pelo Evangelho, comprometidos com os mais necessitados e capazes de renunciar ao egoísmo para viver plenamente em Deus.

Neste contexto, torna-se evidente a profunda relação entre discernimento e seguimento. Jesus apresenta condições claras e exigentes, ilustradas por duas parábolas: a do homem que deseja construir uma torre e a do rei que se prepara para a guerra. Ambas alertam para a importância de refletir bem antes de assumir o seguimento. A repetição da frase “não pode ser meu discípulo” não é uma ameaça, mas um apelo à honestidade e à coerência. O seguimento não pode ser resultado de impulsos emocionais ou promessas passageiras, mas uma decisão madura, capaz de sustentar uma vida transformada pelo Evangelho.

Jesus convida à seriedade espiritual, à consciência plena da escolha e à firme disposição de viver conforme os valores do Reino, mesmo quando isso exigir sacrifícios.

De fato, os pedidos de Jesus podem parecer exigentes. Ele pede um amor preferencial por Ele, um amor que esteja acima de qualquer outro vínculo, inclusive os mais íntimos. Esse amor é a base das demais relações humanas e da disposição de “carregar a própria cruz”. Trata-se de um compromisso profundo e total, que exige renúncia, perseverança e fidelidade. Jesus convida cada discípulo a “fazer bem as contas” antes de segui-lo, para não cair em decepções ou abandonos no meio do caminho. Ele deseja discípulos que confiem no seu projeto de amor incondicional e estejam dispostos a viver com sabedoria, evitando reduzir o Evangelho a uma experiência emocional ou individualista. Ele quer libertar seus seguidores da tentação de viver centrados em si mesmos, ajudando-os a descobrir a verdadeira liberdade que nasce da entrega.


A radicalidade do seguimento se manifesta em três exigências concretas: desapegar-se da família, carregar a própria cruz e renunciar a todos os bens. Essas atitudes revelam a necessidade de liberdade interior e de total disponibilidade ao chamado de Deus. Não se trata de rejeitar os laços afetivos ou desprezar os bens materiais, mas de colocá-los na ordem certa, sob a luz da fé. Seguir Jesus é sair do centro do próprio ego e entrar em comunhão com Ele e com os irmãos.

É perceber que tudo o que temos - família, bens, dons, tempo - é dom a ser partilhado. Essa transformação muda profundamente a maneira de ver a vida e de se relacionar com o mundo, tornando-nos mais disponíveis ao bem, ao serviço e à solidariedade. Essa liberdade verdadeira assegura a participação na herança eterna.

Cada uma dessas exigências leva à maturidade espiritual. A primeira nos convida a rever nossas relações afetivas: o discipulado nos chama a amar a todos como irmãos, sem exclusivismos ou favoritismos. O amor evangélico é universal e gratuito. A segunda exigência, “carregar a cruz”, nos mostra que o seguimento não pode ser confundido com interesses pessoais ou confortos espirituais. A cruz não é um fardo desumano, mas o símbolo da entrega amorosa, da fidelidade e da lógica do Reino. Assumir a cruz é viver como Jesus viveu: com generosidade, mesmo diante das dificuldades. A terceira exigência, renunciar a tudo o que se possui, revela que não podemos servir a dois senhores: a Deus e ao apego às coisas. O discípulo precisa estar livre de tudo o que o impede de amar com inteireza.


Por fim, Jesus insiste na importância de calcular bem essa escolha. O discipulado não pode ser improvisado nem guiado por interesses ocultos ou sentimentos momentâneos. Ele não propõe um conjunto de ações exteriores, mas uma sabedoria de vida, uma nova maneira de pensar, sentir e agir. Estar com Jesus é adotar critérios diferentes dos do mundo: pautados pela liberdade, pela confiança em Deus, pela partilha e pelo serviço. A renúncia que Ele pede não é um castigo, mas um ato de libertação: deixar de lado o excesso, o apego e a ilusão do acúmulo para viver na leveza do Evangelho e garantir a herança verdadeira. Os ensinamentos de Jesus, no Evangelho de hoje, são um apelo à profundidade e à verdade: ser discípulo é uma escolha firme, consciente e generosa, feita por amor, e orientada para uma vida nova, plena, fecunda e transbordante.

 

 

Senhor, ensina-me a Te seguir com o coração livre e decidido. Dai-me a coragem de fazer bem as contas, de discernir com sabedoria os passos da fé, e de escolher-Te não por conveniência, mas por amor. Liberta-me do apego às nossas seguranças e das falsas promessas do mundo. Que a tua lógica de amor, serviço e entrega transforme nosso olhar, nossas escolhas e nossos relacionamentos.

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