A simplicidade do testemunho
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.

- 5 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de jul.
Para que todos tivessem acesso às promessas de Deus, Jesus ampliou sua missão. Ele designou “outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, à sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir”. Esse episódio é exclusivo do evangelista Lucas e faz parte da seção narrativa mais extensa de todo o seu Evangelho. Está inserido num contexto de caminhada de Jesus, que não se refere apenas a um percurso físico, mas a um itinerário teológico e catequético.
As palavras de Jesus, agora não mais dirigidas apenas aos Doze, revelam a natureza fundacional de sua comunidade ampliada de evangelizadores. A missão evangélica jamais poderia ser obra de um pequeno grupo.
Ele designou pessoas que conviveram com Ele e se deixaram impactar por seu modo original de viver e agir. Aqueles que foram designados são, sobretudo, testemunhas. É preciso ir “de dois a dois” para que a missão não seja um caminho individual, mas um confronto de itinerários, uma negociação de metas e um apoio mútuo. A missão é um encontro com os outros, especialmente com aqueles que tiveram a mesma experiência com Jesus e, por isso, compartilham do mesmo objetivo. A missão não é uma autorreferência, fruto de um narcisismo doentio ou de um individualismo cômodo.
A dimensão comunitária é essencial na missão, pois impede a autorreferencialidade e promove a correção recíproca. A missão individual, que corre o risco de ser algo isolado e com características excessivamente personalizadas, não corresponde ao modelo de Jesus nem ao das primeiras comunidades.
O horizonte do chamado e do envio é o compromisso em favor da vida e das pessoas, especialmente diante das forças que ameaçam travar ou danificar a existência. Sozinhos, não é possível oferecer um caminho verdadeiro de libertação e de maiores compromissos. Nesse movimento de vida, os discípulos são chamados a curar enfermidades, aliviar sofrimentos, acolher os mais perdidos e extraviados, pacificar as relações.
A bagagem para a missão deve ser leve — sobretudo, a leveza interior —, pois quanto mais leve alguém for, mais conseguirá anunciar a gratuidade do Reino de Deus que vem: o amor gratuito de Deus, que jamais deve ser merecido ou comprado, porque não é um fardo, tampouco uma prisão. Aqueles que possuem essa leveza são capazes de propor dimensões mais elevadas e sublimes.
Cientes de que a missão é exigente e de que faltam trabalhadores, o primeiro movimento dos discípulos é pedir ao Dono da messe. Desde o início, são chamados a reconhecer que não são a autoridade máxima da missão e que seus planos pastorais não devem partir de si mesmos. É o Dono da messe quem envia trabalhadores para a colheita. Em seguida, Jesus exorta que a única coisa a ser levada pelo caminho é a paz. A paz não é uma fórmula, mas a própria vida oferecida de Jesus. É uma paz que não impõe, mas reconcilia; que não domina, mas liberta. “Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’”. A paz partilhada é reconhecida por aqueles que vivem em paz: “Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, ela voltará para vós”.
Depois, Jesus adverte os discípulos sobre como devem se comportar à mesa. Já não valem as regras judaicas sobre alimentos puros e impuros, nem as normas ascéticas que condenam ou proíbem determinados alimentos. A mesa torna-se o lugar onde toda barreira é abolida e onde nasce toda familiaridade. Jesus também previne que os discípulos poderão não ser acolhidos. Nesse caso, não devem reagir com insultos, maldições ou hostilidade, mas partir com mansidão, sacudindo a poeira dos pés, gesto que simboliza que nada vieram buscar, mas sim deixar.
Os discípulos não foram enviados como milicianos, munidos de armas, correntes ou artimanhas retóricas, mas como arautos da paz, mensageiros da libertação e profetas da reconciliação. Não foram enviados para dominar — seja pelo poder político, econômico ou cultural —, mas para fazer correr a paz como um rio. Não para influenciar, mas para sentar-se à mesa como peregrinos, sem prescrições rituais, manipulações racionais ou estratégias pastorais. Não para impor, mas para convidar, abrindo-se, inclusive, à possibilidade da rejeição. O Evangelho de Lucas apresenta um envio marcado pela simplicidade do testemunho cotidiano de quem encontrou o Senhor.
Senhor, dai-me a leveza interior, aquela que nasce da total confiança nas tuas promessas. Ajuda-me a não carregar os pesos desnecessários, mas o essencial: a paz que reconcilia, a palavra que consola, a presença que cura. Ensina-me a não dominar, nem impor, nem manipular, mas anunciar o teu reino de amor e a ser profeta da tua consolação.


Bom Dia Frei!! Paz esteja contigo!!!
Gratidão por me enviar essas palavras, q me mostram sempre, o amor q o Senhor tem por nós.