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A saída da invisibilidade

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 7 de jan. de 2022
  • 4 min de leitura

A Festa do Batismo do Senhor, continuação da Epifania, conclui o tempo do Natal e dá início ao Tempo Comum. O Batismo de Jesus é a sua verdadeira e decisiva Epifania. É por meio de seu Batismo, que Jesus se dá conta de quem Ele é, o que deve fazer, como deve fazê-lo e para que Ele veio viver no meio de nós.

No Natal, o Menino foi revelado aos pastores de Israel. Aos Magos do Oriente, Ele apareceu como “rei dos judeus” revelando-se a todos os pagãos. Agora, no Jordão, recebendo o Batismo, de João, Ele se revela como o “Cordeiro de Deus” e inicia sua missão pública “de Jesus Cristo, Filho de Deus”.

Após trinta anos da visita dos pastores e dos Magos, Jesus havia crescido em estatura e graça. Então, decidiu sair do lugar da invisibilidade. O povo esperava um Messias com revelação poderosa e inconfundível, inumeráveis curas e incontáveis milagres. No entanto, Ele aparece no meio dos pecadores, e não no Templo em meio as nuvens de incenso. O Messias aparece no Jordão, entre os homens que desejavam ser batizados e redimidos de seus pecados. O caminho escolhido é escandaloso, mas o permite estar fiel toda sua vida, levando-O à cruz.


O Evangelho de hoje revela a expectativa do povo acerca do Messias. Como viviam nesta espera, eles se perguntam a respeito de João Batista, pois o mesmo havia saído da cidade retirando-se para lugares solitários. O Batista aconselhava as pessoas a receberem o batismo das águas, pregava a ira iminente de Deus e exortava à conversão em troca de salvação. Suas atitudes permitiam com que o povo o reconhecesse como o Messias esperado e desejado. Entretanto, afirmava não ser o Cristo: “Eu vos batizo com água, mas virá Aquele que é mais forte do que eu”.


Jesus se aproxima e, junto com muitos, recebe o Batismo como sinal de arrependimento. Faz-se pobre com os pobres, pecador com os pecadores e penitente com os penitentes. João tenta impedi-lo, mas Ele insiste. Sua insistência manifesta sua intenção: ser solidário com os pecadores configurando-se a partir da mesma condição deles. Jesus não vai ao Jordão para receber o perdão dos pecados, mas para fazer-nos entender o quão perto está Deus de nós. Seu gesto de colocar-se na fila com a humanidade pecadora diz que a salvação é para todos porque Ele, o Cordeiro de Deus, leva sobre si os nossos pecados.


A partir deste momento, Jesus segue o seu próprio caminho. Ele revela a imagem de um Deus de total diferença daquela anunciada por João. Jesus, diferente do Batista, fica na cidade, movimenta-se e vai ao encontro do povo, come com os pecadores e convive bem com eles. Ele prega a misericórdia do Pai, oferece a graça do perdão e convida, com liberdade, as pessoas para mudarem de vida. Neste propósito, colocando-se entre os pecadores, manifesta o propósito da sua vinda: “Aquele que não conheceu pecado, Deus o tratou como pecado em nosso favor” (2 Cor 5,21).


O evangelista Lucas revela, de forma concreta, essa intenção: “Quando todo o povo estava sendo batizado, Jesus também recebeu o Batismo”. Jesus entrou nas mesmas águas nas quais as pessoas derramavam seus pecados. Ele se envolveu e não teve receios de perder a sua divindade ao misturar-se com os pecadores. Seu gesto de deixar-se batizar revela que Ele ainda vem ao nosso encontro quando nos sentimos perdidos, indignos e pecadores. Ele nos encontra quando damos passos para mudar de vida.


O Cristo se coloca na fila tornando-se um entre muitos. João, o Batista, não entende o gesto de Jesus: um Deus desse modo seria incompreensível. Esta ação mostra-se intolerável a todos e não responde aos padrões esperados. A imagem sagrada construída de Deus não poderia se misturar com o profano da nossa existência. Era necessário que Ele nos salvasse, mas distante dos hábitos cotidianos da nossa conversão. Ao verem Jesus batizado, era necessário retirarem da memória a imagem do Deus triunfante. Era preciso destronarem e fazerem desaparecer as expectativas, até então enraizadas, pois o Deus de Jesus não queria saber de privilégios, mas de adentrar a mesma condição dos pecadores. O gesto de Jesus ao deixar-se batizar não é a prova da sua divindade, mas a prova da sua verdadeira humanidade.


Lucas apresenta três movimentos: o céu se abre, o Espírito Santo desce em forma de pomba e uma voz vem do céu. Os céus se abrem para revelar que Deus não desiste de falar com a humanidade, pois em Jesus, os céus foram rasgados e não podem mais se fechar. O Espírito desce, visivelmente, sobre Jesus para confirmar que é Ele quem O guiará em seus gestos e escolhas. A voz do Pai indica o caminho e todo o amor destinado ao Filho.

Em todos os quatro Evangelhos, Deus fala apenas duas vezes: no Batismo e na Transfiguração. No Batismo, confirmando o seu projeto de amor através da Encarnação de seu Filho e na Transfiguração revelando a glória de seu Cristo, a fim de que O escutemos e nos tornemos semelhantes a Ele.

O evento para declarar aberta a vida pública de Jesus é seu Batismo nas águas do Jordão. Com esse movimento, o Messias orienta sua vida fazendo a vontade do Pai e sendo solidário com a humanidade inteira ferida. Em Jesus, somos abraçados pelo amor salvífico do Pai. Ele é o Filho, pelo qual o Pai volta a falar com toda a humanidade. Através Dele, o Pai não fica mais calado, porque o seu próprio filho é a sua Palavra.


Senhor, os teus gestos de amor e humildade sempre me surpreendem. Sua solidariedade para comigo é maravilhosa. Embora não me condenes pelo que sou, sei que desejas diariamente meu esforço de conversão. Ajuda-me a desconstruir a imagem do Deus distante, que pune e que condena as minhas ações e comportamentos limitados a fim de que eu me torne consciente, livre e feliz em minha existência nesta terra.

LFCM.

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