O Artista do amor
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.

- 7 de jun.
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Atualizado: 21 de jun.
A realização plena da Páscoa é o Pentecostes. O dom pascal, por excelência, é o Espírito Santo. Ele fez ressurgir o coração amargurado e desiludido dos discípulos. Ele ressuscitou o Cristo e deu vida à missão da comunidade primitiva. Na experiência do dom pascal gratuito, o Espírito transforma o dom em tarefa, em testemunho e em forma de vida. Dessa forma, Pentecostes não é apenas o último dia do tempo pascal, mas o início de um tempo novo, o tempo do Espírito. Esta festa nos oferece a surpreendente oportunidade de um novo olhar para interpretar a vida. É a festa que concede à Igreja a audácia corajosa e a esperança peregrina.
A comunicação de vida realizada através do Espírito não é intelectual e nem intimista; não é cerebral e nem espiritual. A comunicação realizada pelo Espírito é vital e corporal: do corpo do Ressuscitado ao corpo dos discípulos que forma o corpo da Igreja. A ação do Espírito une o indivíduo à comunidade, juntando o diferente e proporcionando a comunhão.
Tendo consciência da necessária continuidade do projeto do Pai, o Espírito Santo foi derramado para romper todo o medo e toda a culpa. Foi Ele quem tornou os espaços abertos e deu sentido, energia, vitalidade e futuro à missão dos discípulos. O Espírito virá, anunciará, guiará, falará. O evento do Pentecostes convidou a comunidade primitiva a ser vida, santidade, salvação e ressurreição. Quando vier o Espírito, orientar-vos-á para toda a verdade (cf. Jo 15,26-27; 16,12-15).
O Espírito fez Páscoa no coração dos discípulos dando-lhes vida, força e energia da Trindade. O mesmo Espírito que esteve em e com Jesus, durante seu percurso histórico, passa habitar nos responsáveis pela continuidade de Sua presença entre os homens.
O Pentecostes é a plenitude da Páscoa e não somente a festa do Espírito. É a celebração da nova vida gerada pelo Espírito do Ressuscitado na Igreja. Esse Espírito não trouxe um ensinamento diferente, mas tornou vivo e concreto o ensinamento de Jesus: “o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e recordar-vos-á tudo quanto vos tenho dito” (Jo 14,26). Jesus disse com muita clareza que o Espírito traria compreensão de muitas coisas. Entretanto, essa compreensão não se trata de um simples entendimento, uma regra ou uma norma a ser cumprida. Ela trata-se de viver fundamentalmente o mistério do amor de Deus.
A missão do Espírito é fazer com que os discípulos de Jesus entrem numa relação com Ele e por Ele unidos ao Pai. Assim, serão capazes de acolherem o amor, compreenderem a Palavra e responderem com responsabilidade e testemunho.
A beleza com que Deus vê todas as coisas criadas é fruto do Espírito. Ele coloca ordem no caos, estabelece o tempo e gera o homem. Na ordem, no tempo e no homem está a Pascoa do Espírito. Ela é ação do artista de Deus. O Espírito é sopro que vivifica, mão que embeleza, ação que restaura e poder que congrega. O Espírito de Deus nos liberta dos determinismos antigos, dos fundamentalismos perversos e das ultrapassadas metodologias.
É Ele quem nos permite experimentar a verdadeira liberdade para amar e sermos amados. É o Espírito quem realiza os sonhos e os projetos do Pai. Ele inventa, sacode, faz nova todas as coisas, dá vida ao inesperado e abre as portas do impossível. Em todo o lugar que o Espírito chega, o mal é vencido, o pecado é perdoado e uma nova vida é gerada.
A arte do Espírito tem o poder de nos fazer perceber a verdade criativa que não oprime, não escraviza e não limita. Olhar o Espírito é reconhecer a criatividade de Deus que nos impele a anunciar uma Palavra que vivifica, liberta e transforma. A Páscoa do Espírito torna a nossa vida mais leve, abundante e iluminada. A descida do Espírito é a iluminação e a clareza de Deus no meio de nós e nos acontecimentos da história. O Espírito está presente em todos nós, chamando-nos a sermos mais do que acreditamos ser. Ele nos chama à vida a fim de abandonarmos os projetos de morte distantes do Evangelho. O Espírito é a nova forma de vida, é a novidade da Igreja. Ele é a dilatação do mistério divino-humano em nós.
O Pentecostes é o constante e atual convite para nos deixar ser moldados pelo Artista do Amor. Ele traz consciência de quem somos, das mudanças que desejamos e da transformação que almejamos. O Espírito nos forma para o Amor e para receber o Amado. Ele libera recursos sublimes em nosso interior abrindo-nos às portas que nos aprisionam. O Espírito nos permite ir além e nos doa mais do que precisamos ou ousamos pedir. Celebrar o Pentecostes é vivenciar a bela arte do Espírito. Uma arte nobre, cheia de vida e plena de amor. Portanto, somos arte de Deus no mundo quando nos deixamos ser penetrados pela Páscoa do Espírito, quando somos tocados pelo Dedo de Deus e quando nos permitimos ser embelezados pelo Artista do Amor.
Espírito Santo, ensina-me a ser continuidade do projeto do Pai. Ajuda-me, sendo Amor, a manter viva a relação com o Pai Amante e com o Filho Amado para exprimir a liberdade do alto e dilatar a presença da Vida no mundo. Educa-me a liberar os recursos interiores mais sublimes e a interpretar a vida com coragem, audácia e esperança.


Bom Dia Frei!!! Gratidão por enviar palavras de libertação. Maravilhoso testo. Q o Espírito permaneça sempre em você. Paz e Bem.