top of page

A lógica da doação

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 18 de set. de 2021
  • 4 min de leitura

Atualizado: 25 de set. de 2021

Os discípulos ouvindo falar da paixão se concentram num outro ideal. O momento é terrível. Jesus tenta mostrar para os seus amigos a sua dor e eles ao invés de manifestarem compaixão mostram-se distantes e numa outra dinâmica. No coração deles existe outra preocupação. Jesus não aceita o vocabulário de seus discípulos. Enquanto eles falam de “maior”, Jesus fala de “menor” e de “último”.


Não se pode estranhar que, depois de ouvir o anúncio da paixão pela segunda vez, os discípulos não compreendem e não conseguem aceitar o escândalo da paixão do Messias. As palavras de Jesus revelam o seu mistério profundo, o caminho da sua vida e constituem o ensinamento por excelência que os discípulos devem aprender. O anúncio da paixão todas as vezes é seguido pela reação insuficiente por parte dos discípulos.

Os discípulos não compreendem a lógica da doação da vida, todos ao redor deles falam de preservação, de cuidado e de defesa. Entretanto, mesmo não compreendendo, os discípulos não mais perguntam. Eles viram a reação de Jesus quando Pedro tenta tirá-lo do caminho da cruz. De fato, quando se tocava neste ponto, Jesus não aceitava sugestões e nem negociações. Queria permanecer fiel ao projeto do Pai.

A falta de sintonia com a lógica de Cristo leva inevitavelmente ao afastamento das convicções e a optar por caminhos mundanos. Na segunda parte da narrativa, o evangelista introduz um episódio que traz a confirmação dessas opções. Marcos reconstrói a cena com precisão. Jesus diante do medo dos discípulos de fazer perguntas, toma a iniciativa de questioná-los. Com isso, continua a formação personalizada com eles.


Chegando em Cafarnaum, o Mestre pergunta: “O que discutíeis pelo caminho?”. Esta questão revela não uma pergunta, mas uma acusação. Jesus está ciente da disputa acirrada que os discípulos se envolveram no caminho. A ignorância e a incompreensão dos Doze em relação a Jesus é frequente no Evangelho de Marcos, pois ele dedica uma parte inteira do seu Evangelho ao ensinamento dirigido aos discípulos.


O texto apresenta que a reação dos discípulos, diante do sofrimento de Jesus, foi discutir entre eles quem era o maior. Eles não querem falar de sofrimento e de cruz; muito menos, não querem saber de provações e angústias.

Enquanto o Mestre compartilha a dor da morte iminente, os discípulos começam a pensar quem irá substituí-lo. O desejo de poder e glória sempre foi muito comum entre os seguidores de Jesus. A competição se tornara mais urgente do que a compaixão pelo amigo. Eles procuram demonstrar entre si quem é o mais preparado para substituir o Mestre, que logo será eliminado.

Não sabendo responder o Mestre, os discípulos calam-se sentindo-se desmascarados e envergonhados. Enquanto os discípulos, constrangidos, ficam em silêncio, Jesus se senta e chama-os. Ordena que se aproximem porque os vê separados e distantes dele. Os discípulos sabiam do que falavam e assumem que no caminho havia surgido no coração deles o desejo de ser o maior. Jesus forma a sua comunidade para que ela não se paute na busca do prestígio, do poder e da imposição. Estes sentimentos contradizem o ensinamento de Jesus. Diante disso, Jesus sintetiza o seu projeto de vida: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!”.


Para melhor ensinar, Jesus faz um gesto significativo. Ele não pede compaixão de si, não pede atenção, mas aproveita para ensinar qual é o verdadeiro sentido da vida. Ele pega uma criança e a abraça. A criança é uma pessoa desarmada, indefesa e fraca. A criança é a imagem de alguém que vive a dependência e não se importa com nada. Ela não pode fazer grandes coisas... Somente pode se deixar ser abraçada.


Portanto, no caminho para Jerusalém, a busca dos discípulos por poder, segurança, bem-estar e prestígio entra em contradição com a lógica de Jesus, segundo a qual, o Reino é serviço e nele o primeiro é aquele que serve. Os discípulos estão longe de compreender os mistérios do Reino e permanecem apegados nos seus ideais de êxito e poder. Entretanto, toda a discussão culminará com a afirmação: “o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate de muitos”. Neste sentido, o serviço para os cristãos não é apenas uma virtude moral, medida pela boa vontade ou disposição, mas um lugar teológico de autêntica manifestação e compreensão da lógica do Pai.


Senhor, como é difícil compreender e aceitar a tua lógica. Dar a vida por um outro é muita exigência. As informações que recebo todos os dias me dizem de preservação, de cuidado e de defesa. Que a dificuldade e a falta de sintonia com a tua lógica não me permita abandonar as convicções firmes e a optar por caminhos mundanos. Ajuda-me a destronar o desejo do poder e do prazer. Cura-me do desejo de ser o maior e o grande. Que todos meus interesses sejam inseridos na sua lógica: a do servir e a do doar.


LFCM.

Posts recentes

Ver tudo
O coração desperto

O Evangelho deste domingo se dirige diretamente aos discípulos, e não à multidão. Eles sentem medo, pois percebem sua fragilidade diante...

 
 
 

1 comentário


Marcia Severo
Marcia Severo
18 de set. de 2021

Sempre minha gratidão por palavras q me ajudam a amadurecer a minha fé. Q o Senhor nos permita estar sempre a nos desprender das coisas q o mundo não nos deixa entender a sua lógica. Paz e Bem🙏🏻🌻

Curtir

© 2023 por NÔMADE NA ESTRADA. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • Facebook
  • Instagram
bottom of page