A luminosidade da paixão
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.

- 24 de fev. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 25 de fev. de 2024
No início do tempo da Quaresma, vivenciamos duas dinâmicas do Espírito: a contemplação do rosto humano de Deus no deserto e a contemplação do rosto divino do homem no monte Tabor. O Espírito leva Jesus ao deserto e Ele é tentado pelo demônio. Depois, Jesus sobe ao monte e experimenta a glória da transfiguração.
O deserto foi o lugar simbólico da solidão, do encontro consigo mesmo e da reconciliação com todas as dimensões da existência. O monte Tabor foi o lugar simbólico da comunhão e da relação com o projeto amoroso do Pai.
Alguns dias após o anúncio da morte de cruz aos seus discípulos, Jesus subiu à montanha para rezar levando consigo Pedro, Tiago e João. A escolha desses três personagens não foi feita a partir dos privilégios ou dos méritos pessoais de cada um deles, nem mesmo pela profissão de fé. Muito pelo contrário, os três eram os mais rebeldes, os mais influentes e os mais persuasivos do grupo dos apóstolos. No monte, Jesus foi transfigurado diante desses três discípulos.
Seu rosto brilhou como o sol e suas roupas ficaram brancas como a luz. A experiência de Pedro, Tiago e João foi forte e singular, capaz de resumir num só instante a divindade e a humanidade do Filho, ou seja, a eternidade e a presença do Pai na história.
Os discípulos nunca tinham visto o rosto de Jesus tão radiante e tão apaixonado. Jesus foi transfigurado e permitiu que seus discípulos pudessem ver algo além do que os olhos humanos e sensíveis pudessem habitualmente ver, reconhecer e entender. Ao sentir-se amado, Jesus revelou sua paixão na iluminação do seu rosto. O rosto mudado e as vestes transformadas revelaram a beleza de um homem “apaixonado” que ouvindo a voz do Pai unificou os desejos e as vontades. Aquele momento significou um bonito consolo para que Jesus pudesse seguir sua caminhada de forma convicta. Por isso, essa consolação é um dom, um presente e uma graça dada pelo próprio Pai.
O “mistério de Deus” sempre nos supera. Sua voz amplia nossos olhos, abre nossa mente e alarga nosso coração. A voz divina é a voz que toca e desperta forças desconhecidas em nosso interior; ativa nossa identidade; faz-nos voltar à nossa essência; reconstrói nossa dignidade e ajuda-nos conectar com nosso ser profundo. O mistério de Deus é o mistério do amor e o de ser amado. Sempre nos transforma, muda a nossa aparência, nos faz vibrar paixão e satisfação.
Jesus habita fortemente o mistério do amor de Deus e, por isso, tem a sua aparência modificada. É habitando o mistério e reconhecendo a voz de Deus que aprendemos a sentir o seu amor e a amar.
Jesus sentindo-se amado pelo Pai transfigura a sua motivação, o seu entusiasmo e a sua energia. Quando nos sentimos amados por Deus, vivenciamos a fé e a missão com mais energia, vitalidade e paixão. Jesus, antes de tudo, é um apaixonado por Deus e pelas pessoas. Ele trouxe, em seus gestos e palavras, a proposta de um Deus amoroso e apaixonado. A transfiguração é uma consequência da encarnação e uma antecipação da paixão na cruz. Ela não é um evento extraordinário, distante do humano. Pelo contrário, a transfiguração é uma manifestação tão humana que transparece uma expressão tão divina. Assim, Jesus nos apresenta a possibilidade pela nossa humanidade nos tornarmos divinos. Ele desce do monte porque o relacionamento amoroso com Deus é tão forte quanto o relacionamento Dele com as pessoas.
Nossa transfiguração começa quando deixamos de apenas nos ouvir, de dar razões aos nossos medos e de dar espaço às nossas ansiedades. Nossa transfiguração acontece quando nos deixamos ser visitados pelo mistério do Amor. Nossa conversão inicia quando ouvimos a voz que nos chama para sairmos de nós mesmos, sonhando alto e não tendo medo.
Este é o grande ensinamento da Transfiguração: recordar que somos amados por Deus e renovar nossa paixão pelo Seu projeto de amor. Transfigurar é um apaixonar-se constante por Deus e por tudo aquilo que Ele faz.
Portanto, os dois primeiros domingos do tempo da Quaresma trazem dois espaços simbólicos significativos. O primeiro convida-nos viver o necessário propósito da conversão. O segundo ilumina as trevas do nosso coração, recordando que somos amados para estarmos disponíveis aos planos de Deus. Esses espaços não são duas opções distintas, mas são caminhos únicos que nos permitem recordar a promessa e o sentido da nossa missão. Ora entramos no deserto, ora subimos ao monte. Em alguns momentos, sentimos a solidão e a amargura do deserto. Em outros, sentimos o amor e a consolação dados pela força da voz divina.
Senhor, desejo apaixonar-me pelo teu projeto salvífico. Dai-me a graça para me sentir mais amado e renovar o entusiasmo, a motivação e a energia para a missão. Transfigure a minha humanidade para que revele sempre mais a luminosidade da tua divindade.


Bom Dia Frei, gratidão por me enviar palavras q me fazer querer amar a Deus como Ele gostaria q eu o amasse. Tenho muito q crescer na fé. Peço a graça de aumentar mais e mais minha confiança no Senhor e me desapegar mais e mais das coisas da terra. Paz e Bem. 🙏🏽🙏🏿🙏🏾