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A lucidez do espírito

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 21 de jun.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 5 de jul.

Tu és o Cristo de Deus.


Após um momento de oração, Jesus faz o grande questionamento aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” As diversas opiniões são incompletas. Alguns dizem ser um profeta que retornou, mas Jesus não é simplesmente um profeta de ontem que retorna. Colocar Jesus nessa linha é um grande equívoco, porque ele veio a transformação das mentalidades e das estruturas. N'Ele tudo deve ser novo! Em seguida, com o desejo de conduzir seus discípulos a uma compreensão autêntica de quem Ele era, lança outra grande questão: “E vós, quem dizeis que eu sou?”.

O desejo de Jesus é conduzir seus discípulos à delicadeza, à transparência e à liberdade interior. É necessário colocar para fora o que se pensa no coração.

Esse episódio é comum aos três evangelhos sinóticos, embora com intenções teológicas e planos literários diferentes. No Evangelho de Marcos e de Mateus, o Mestre fez essas perguntas enquanto caminhava com seus discípulos em Cesáreia de Filipe. No Evangelho de Lucas, o deste ano, as mesmas perguntas foram feitas quando Jesus e os seus discípulos estavam, num lugar retirado e rezando. O evangelista Lucas não está tão atento aos detalhes históricos e geográficos. Ele prefere não mencionar o nome do lugar onde se deu o diálogo entre Jesus e seus discípulos, pois para ele, o lugar físico do encontro torna-se o lugar interior da oração. A oração e a lucidez de espírito são imprescindíveis para entender quem é Deus. Este conhecimento não é resultado de uma revelação racional, mas de uma experiência existencial.


Jesus utiliza um jeito para fecundar novo estilo de vida e para construir novas histórias. É a qualidade da resposta ao questionamento do Cristo que revela a forma do seguimento, a oferta da vida e a maneira do serviço. Por isso, o Mestre não espera uma resposta teológica, mas uma resposta de adesão, de sincera relação e de identificação com Ele.

Inúmeras são as vezes em que Jesus, aproximando-se das pessoas, as interroga: “o que buscais?”; “o que desejas?”; “a quem procurais?” Responder qualquer uma dessas perguntas é comprometer-se com Ele, assumir o caminho d’Ele e arriscar-se n’Ele. Tais perguntas colocam em crise as visões distorcidas, as falsas concepções e as ideias preconcebidas a respeito da novidadade trazida pelo Cristo.

O questionamento de Jesus é uma pergunta que todo discípulo busca responder, em todas as épocas. É um convite honesto para reconhecer a relação que se estabelece com Jesus: Quem é Jesus para mim? Dessa forma, à medida em que se entra na estreita e imediata familiaridade com Deus, todas as palavras racionais dessa experiência, tornam-se insuficientes e não exprimem o sentido pleno da identidade divina. Na experiência interior divina, a razão silencia a fim de dar lugar à oração e à nova consciência de quem é Deus.

O conhecimento de Deus, tal como Ele é, em si mesmo, é a fundamental experiência de amor. Como diz São João: “Todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é Amor” (1Jo 4,7-8).

Jesus após ter perguntado sobre sua identidade, revela o plano de dar a vida por amor. O amor de Deus não é um conceito, mas uma entrega de vida a fim de que outros possam viver. Por conseguinte, conhecemos Deus, tornando-nos um com Ele, à semelhança de Jesus, o Cristo, amando como Ele amor. A cruz é a lógica do Evangelho e a prova do amor. Ela não é um evento histórico, mas um estilo de vida desejado, expandido e oblativo. Não se pode assumir o modo de pensar do Evangelho se não renunciar o nosso modo de pensar. O discípulo é aquele que todos os dias deve assumir sua vida a partir dos critérios de Jesus. Nesse sentido, deve negar o caminho autorreferencial, egoísta e ambíguo. Saber quem Jesus é ter consciência de como está nossa vida, pois com Ele, não somos mais os mesmos.


Revestidos de nova dignidade temos o compromisso com o Reino promovendo justiça, servindo ao projeto de amor e sendo especialistas em humanidades. Renunciar a si mesmo não é renunciar tudo aquilo que recebemos como dom e graça. Renunciar a si mesmo é renunciar a tentação interior de nos fazer ídolos de nós mesmos para obtermos adoração e seguidores ou para realizarmos cultos, sacrifícios e incensos sem fundamento cristão. A resposta ao questionamento do Mestre somente é coerente quando sou capaz de renunciar a mim mesmo e aos meus desejos. A renúncia a si mesmo é a oportunidade de fazer resplandecer o nosso EU original, criado a imagem e semelhança de Deus.



Senhor, dai-me lucidez de espírito e experiência existencial para ter consciência de quem Tu és para mim. Conceda-me a graça de me familiarizar com Teu projeto de amor. Ensina-me renunciar às minhas razões e emoções para assumir a lógica do Evangelho e da Cruz. Ensina-me ser especialista em humanidades do Teu projeto de justiça e de misericórdia.


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1 comentário


Marcia Severo
Marcia Severo
22 de jun.

Bom Dia Frei!! Paz e Bem!!!

Gratidão por me enviar palavras q vão abrir mais minha mente e meu coração para nosso Senhor🙏🏿🙏🏽🙏🏾

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