A Fonte, a Ação e a Autoridade
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 13 de jul. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 20 de jul. de 2024
A comunidade dos discípulos recebe a missão de sair pelo mundo. Eles são enviados de dois em dois, pois existe uma razão teológica neste desejo de Jesus. O caminho evangélico, diferente de outras opções religiosas, tem como princípio a comunidade e não o individualismo. Ele é um percurso de relação e não de uma busca individual. O itinerário com Jesus e o serviço de Jesus devem ser inspirados no caminho de comunhão e de unidade. Toda a força do cristianismo está na relação. Ir pelo mundo de dois em dois é dar espaço à partilha e à abertura ao outro, ao respeito dos seus desejos e dos seus limites. É o esforço necessário para não se apoderar do caminho e nem se tornar o patrão do Evangelho.
Jesus não chama os seus discípulos para mantê-los perto de si ou oferecer um confortável bem-estar espiritual, mas para colocá-los em saída, em movimento, em peregrinação. A missão do Evangelho é seguir adiante no caminho ininterrupto da vida, no qual para viver verdadeiramente não podemos parar, estacionar, estabelecer hábitos ou carregar tradições. Nisso consiste a disposição da fé, que não é uma teoria que se aprende, nem mesmo um arranjo religioso confortável. A fé não é uma resposta, mas uma pergunta. Ela é uma relação viva que se conquista todos os dias através de desafios, riscos e perguntas.
A fé é a certeza que sustenta o caminho do seguimento, mas, também é a dúvida que pergunta e que não se satisfaz com respostas prontas e moldadas.
Através da missão dos discípulos, conhecemos o mistério da vontade de Deus e o Seu desígnio benevolente. Com isso, ofereceremos a plenitude da vida porque o Senhor nos dá tudo o que é bom. O evangelista Marcos revela que Jesus concede um único poder aos seus discípulos: Ele não dá a eles a autoridade de mandar ou emitir disposições limitantes e coercitivas, pois a autoridade dos discípulos é contrária a tudo que limita ou escraviza.
Eles receberem o poder de expulsar os espíritos impuros. Portanto, são chamados a libertar os corações de toda opressão, a tirar da vida das pessoas todos os pesos oferecendo-lhes um testemunho de liberdade e de leveza. O relato de Marcos deixa claro que somente Jesus é a Fonte, a Ação e a Autoridade. A missão, ou melhor, o ser enviado é consequência do viver e do estar com Ele.
Dessa maneira, é necessário ampliar o nosso modo de compreender esses espíritos impuros que Jesus manda expulsar. Eles não são simples forças espirituais que podem possuir o nosso ser e atrapalhar a nossa relação com Deus. Os espíritos impuros podem ser entendidos como todas as forças que, além de nos distanciarem de Deus e da vida, despertam-nos maus sentimentos e causam opressão, violência, rancor e injustiça. Impuro é tudo aquilo que aliena e oprime. Impuro é tudo aquilo que não é harmônico, íntegro e verdadeiro. Consequentemente, somos possuídos por espíritos impuros quando nos fechamos às relações, atrapalhamos o amor e limitamos a liberdade do Espírito de Deus.
A missão dada aos discípulos é a de ajudar as pessoas a dominarem a força do mal que impede a liberdade e a razão do Coração. Jesus é o Libertador do ser humano.
Jesus não apresenta qual o conteúdo da mensagem a ser anunciada, mas a forma como os discípulos devem se manifestar. A sobriedade é o estilo de vida do enviado. Os discípulos são convidados a não pesar a missão, carregando qualquer coisa que impeça a liberdade ou que bloqueie o caminho. Não carregar nada é abrir-se ao aprendizado do pedir, do descobrir o dom da providência e do acolher o que Deus prepara a cada um. É preciso caminhar com leveza, sem fardos internos ou externos que atrapalhem cada passo da missão.
Ao carregar fardos ou pesos existenciais, o nosso coração não é livre e os nossos olhos se fecham impedindo-nos de ver a benevolência e o amor incondicional de Deus. Ao ir pelo mundo, somos convocados a nos despir do lamento, a respirar novos ares e a observar novas possibilidades.
Contudo, a rejeição é uma possibilidade na missão: “se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!”. Por isso, Jesus apresenta a liberdade como opção. Se não querem te escutar é preciso seguir adiante, não se prender nas estruturas, não se acomodar no caminho, sacudir o ressentimento de não ter sido acolhido.
Sacudir a poeira dos pés significa não se alimentar de preconceitos ou mágoas. Sacudir a poeira não quer dizer condenar, mas dar testemunho da liberdade oferecida pelo Mestre. Nunca se pode obrigar alguém a aceitar a proposta do Evangelho. Jesus foi rejeitado na sua própria terra natal e soube seguir para conquistar outros espaços.
A tentação constante do discípulo é seguir sozinho. A presença de um outro no caminho serve como suporte, esperança e unidade. A missão do Evangelho não deve partir da autorreferencialidade. Não é o modo de pensar que sustenta a verdade, mas o respeito à verdade do outro que sustenta a missão. Ao caminhar sozinho tudo é pensado a partir de si, de verdades, forças e energias próprias. Ao reconhecer a necessidade do outro no caminho conosco, tudo pode ser pensado a partir da partilha, das fragilidades e do respeito ao lugar e ao tempo daquele que está ao nosso lado. Enquanto um oferece a verdade e a justiça o outro oferece a paz e a compreensão, pois é caminhando juntos que descobrimos que o amor é a maior riqueza do caminhar.
Senhor, livra-me da tentação de seguir sozinho. Ajuda-me a não ser patrão do Evangelho. Ensina-me a movimentar-me, a não querer parar e a deslocar-me dos meus limites. Dá-me força para libertar os corações de toda opressão e para tirar da vida das pessoas todos os pesos, sabendo oferecer-lhes um testemunho de liberdade e de leveza.
Bom Dia Frei! Gratidão por me enviar palavras esclarecedoras de como devo seguir em frente tentando viver testemunhos do amor do Senhor por nós. Paz e Bem. 🙏🏽🙏🏿🙏🏾