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A finalidade da vida

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 26 de nov. de 2022
  • 5 min de leitura

Atualizado: 2 de dez. de 2022

O tempo do Advento nos abre, a cada novo ano litúrgico, um horizonte diante dos nossos olhos. Todo o mistério da fé é revelado através do tesouro da Palavra de Deus e vamos, a partir do olhar de um evangelista diferente, refazendo nossa caminhada com Jesus. A recordação dos mistérios é a ocasião propícia para torná-los presentes no hoje da salvação dando mais qualidade ao nosso percurso salvífico. A cada tempo, somos convidados a descobrir, à luz da Palavra de Deus, os valores da vida e a profundidade dos acontecimentos e da história. A memória da primeira e a preparação para a segunda vinda do Senhor acontece no hoje de cada celebração, pois Ele assumindo nossa carne se fez presença viva e atuante na história.


O Advento, tempo litúrgico que foca na segunda vinda de Jesus, quer nos iluminar sobre as realidades últimas. O objetivo desse tempo não é nos assustar, mas nos convidar a fazer um caminho de purificação e de libertação das forças do mal que nos escravizam. Jesus nos convida esperar na fé, não um juiz temido, mas um Senhor desejado. A revelação dos últimos fatos deve retirar de nós a indiferença, a vaidade e a incapacidade de estabelecer relações genuinamente humanas colocando em nosso coração, novos sonhos de vida e de espera. Para aqueles que vivem na superficialidade e na indiferença, a vinda do Senhor torna-se uma ameaça, marcada por vinganças e por condenações.


O tema predominante do Evangelho de hoje e do Advento é a vigilância. O propósito de uma vida inteira somente pode ser compreendido quando temos em mente o fim para o qual nos movemos, pois sempre nos assombra, o potencial risco de olharmos para baixo, imersos no cotidiano, sem percebermos o objetivo da vida. O tempo do Advento, sobretudo, em seu primeiro momento, dá-nos indicações preciosas para compreender que nossa existência ganha novo sabor se estivermos atentos ao que vai nos acontecer. Neste sentido, tomamos medidas de vida baseados no fim. Não devemos reduzir este tempo a uma mera preparação para o Natal, pois ele deseja nos ensinar que a vida humana não tem fim, mas uma finalidade: encontrar-se com Cristo, Luz do Mundo.


A existência é um caminho em direção ao Reino de Deus, por isso, não podemos fechar os olhos e nos distanciar da concretude da vida. Pelo contrário, ao sabermos para onde estamos indo, não devemos perder tempo com distrações passageiras, mas precisamos assumir eficazmente uma forma real e concreta de vida. No fim, há algo além do que esperamos. Nossa vida encontra sentido profundo e pleno quando reconhecemos que o fim está n'Aquele que vem ao nosso encontro.

A vigilância e a preparação são vivenciadas através da oração. Quem não observa, não reza e quem não reza, não observa. Vigiar não significa ter os olhos materialmente abertos, mas ter o coração livre, disposto a servir, orientado à direção certa.

A oração é diálogo com Deus e essa comunicação constante mantém-nos na esperança e no relacionamento fiel com Ele. Cada pensamento, ação e desejo precisam estar sintonizados no diálogo contínuo com Aquele que nos ajuda a preencher nossos vazios existenciais. Orar é reconhecer que sempre nos falta algo e que somente um Outro pode nos dar. Orar é reconhecer o primado de Deus em nossa vida, no tempo, no espaço e na história. Orar é aprender livremente a se relacionar com Deus, renunciando a manutenção dessa relação, apenas quando se necessita algo ou alguma coisa. Orar é aprender sempre viver na presença de Deus, em todos os momentos, bons e ruins.


A oração é o despertador de uma existência reconciliada. Orar é um despertar para novas perspectivas, um acordar para um novo tempo, um abrir-se para nova espera. A oração não deve ser praticada apenas nas “madrugadas” da vida, quando tudo ao nosso redor está escuro ou quando vivemos a imaginação de que constantemente somos atacados pelos demônios, pois o Senhor dá tudo aos seus amados, até enquanto dormem. Orar é eficaz quando se tem constância da vida cristã através de um louvor perene sempre e em todo o lugar, não somente em ocasiões ou “quaresmas” atemporais. A eficácia da oração acontece quando ela é contínua, reveladora de conversão e de mudança de doentias perspectivas. De tal modo, a oração não precisa ser longa e insistente, mas constante e coerente. Nossos desejos, pedidos impossíveis e libertações desejáveis não nos vem “da” oração, mas “na” oração.


É preciso estarmos imersos numa atitude de constante vigilância, fazendo de nossa própria vida uma oração a fim de que toda nossa existência seja expressão de contínua relação com Deus para não cairmos em tentação. Nosso desafio é orar não para manifestar nosso desejo, mas para permanecer num estado de ação de graças, pois Deus não é uma de nossas muitas aspirações, mas Ele é o Grande, o Único e Precioso Desejo. Estando Nele é que percebemos o que é fundamental e o que é realmente importa para nossa existência. A oração é um maravilhar-se com a ação de Deus e suas surpresas reconhecendo sua primazia em nossa história.

A oração nos desperta porque o Senhor se torna cada vez mais próximo de nós. O encontro definitivo com o Senhor se faz mais próximo a cada amanhecer. É preciso acordar para não deixar que o Senhor passe sem que O percebamos. Se não acordarmos e não prestarmos atenção no que está acontecendo dentro de nós e em nosso entorno, seremos afogados pelo “dilúvio” sem ter visto o começo da chuva. Hoje, a “arca” que devemos entrar para não nos afogarmos nas frágeis emoções é a oração, autêntica relação com Deus. Uma relação não somente objetiva, em que racionalmente sabemos de Sua existência. Muito menos, uma relação subjetiva, com a qual desejamos apenas sentir Sua presença. Precisamos entrar na “arca” de um relacionamento real com Deus através de tudo aquilo que está em nós e em torno de nós.

Acordemos e tomemos consciência das armas que temos em nossas mãos. É preciso decidirmos transformar as ferramentas de morte, em recursos de vida. A força interior que nos habita deve se tornar energia para enfrentarmos os momentos difíceis e as dificuldades da vida. Os sentimentos podem tornar-se ocasião de compaixão ao invés de fonte de ressentimento. Os pensamentos podem tornar-se elaboração de estratégias de vida ao invés de estratégias de vingança. É hora de deixarmos o ódio em nome da comunhão que nos constrói. É tempo de deixarmos as conspirações e nos colocarmos dispostos à reconciliação. É preciso deixar o Senhor cumprir suas promessas de vida e de libertação. Tudo o que o Senhor faz é bom! Ele nos abre um novo caminho, mas é preciso estarmos acordados para vê-Lo! O Evangelho nos convida à vigilância, à atenção e à oração. O contrário da atenção é a distração. A distração é o estado de quem está fora de si deixando-se levar por “manifestações” desumanas e ineficazes no desejo de viver a busca de uma vida superficial, dependente de elementos externos capazes de produzir falsas sensações de sentido à vida. A atenção, a vigilância e a oração que o Evangelho nos convoca deve nos colocar na verdade de nós mesmos fazendo de nossas vidas um testemunho de vigilância preparada, atenção perseverante e oração esperançosa.


Senhor, desperta-me para uma existência reconciliada a fim de saber para onde estou indo. Conceda-me a graça de acreditar que a vida humana não tem fim, mas sim uma finalidade: o encontro com Cristo, Luz do Mundo. Liberta-me das ansiedades desnecessárias, das distrações desumanas, dos desequilíbrios espirituais e de uma mente anestesiada. Dá-me olhos novos, coração sensível e desejos nobres. Ensina-me a ter uma relação real contigo a fim de que possa ser construtor de comunhão, reconciliação e libertação. Vem, Senhor Jesus!


LFCM.

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1 Comment


Marcia Severo
Marcia Severo
Nov 27, 2022

Bom Dia Frei amigo, exército estar sempre em oração, atenta aos muitos momentos q eu Senhor me leva pra Ele. Gratidão por me enviar. Oro sempre por vc. Paz e Bem.

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