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A Festa da humanidade

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 14 de out. de 2023
  • 5 min de leitura

Atualizado: 21 de out. de 2023

Os sacerdotes, os anciões do povo e as práticas dos líderes religiosos suscitaram em Jesus a necessidade de criar parábolas. Eles se consideravam conhecedores da Lei de Deus, fiéis guardiões da tradição e verdadeiros portadores da sabedoria. Ao narrar essas parábolas diante dos anciãos e dos sacerdotes, Jesus deseja questionar o modo religioso com que vivem a relação com Deus envolvendo-os na arte do discipulado.


Agora temos a história do rei que preparou a festa de casamento do seu filho. Ele mandou seus empregados chamar os convidados para a festa, mas estes não quiseram comparecer. Os banquetes nupciais eram comuns na sociedade do tempo de Jesus e cheios de ricas iguarias, com pratos deliciosos, regados com vinhos puros e finos. Preparar uma festa de casamento não era fácil, pois exigia criatividade e generosidade. No banquete nupcial partilhado se esconde simbolicamente a vida doada dos esposos e do dono da festa.


Os convidados para a festa de casamento não tinham disposição de se levantarem e participarem do banquete. Eles preferiram ficar com suas “coisas” permanecendo escravos de um modo de pensar enrijecido. Mesmo que os empregados do rei insistiram para entrar, eles não aceitaram e não entraram. Aqueles que receberam a proposta não queriam aceitar porque não foram capazes de mudar de opinião e deixar as coisas velhas para trás. Os líderes religiosos, os sacerdotes e os anciões do povo se comportavam dessa forma. Eles não foram capazes de acolher o convite das novidades de Jesus.


O rei generoso mandou que os empregados convidassem todos. Passou-se dos “muitos” ao “todos”. Os empregados saíram pelos caminhos e reuniram todos os que encontravam: bons e maus. A sala da festa ficou cheia de convidados. O pedido parecia absurdo, exagerado e ilógico. O rei corria risco ao convidar todos e ao abrir a porta de sua casa a todos. Nem todos estavam bem-preparados para viver a experiência da festa. Uns chegaram para comer, outros apenas para beber. Alguns chegaram para festejar, outros apenas para observar os convidados e para aproveitar a generosidade do rei. Então, todos entraram e começaram a participar da festa. Quando o rei entrou para ver os convidados, observou aí um homem que não estava usando traje de festa.


Na narrativa do Evangelho, traje de festa não significa apenas uma simples veste, pois todos aqueles que foram e que estavam pelas estradas não tiveram tempo de se arrumarem ou se preparem adequadamente para uma festa de casamento. Eles apenas aceitaram o convite e foram apreciar a festa. Entretanto, um dos que se fazia presente, parecia não estar aproveitando a festa e, então, o rei observou aquele tipo de comportamento ou aquela falta de apreciação de um dos convidados. Não seria possível que dentre todos os convidados chamados pelas ruas, apenas um estivesse inadequadamente vestido.

A veste inadequada é símbolo daquele que entrou na festa, mas não conseguiu perceber e apreciar a gratuidade e a generosidade do dono da festa. Esse homem apenas aceitou o convite do casamento, mas decidiu não se alegrar com tudo o que a festa poderia lhe proporcionar. Ele era uma pessoa autossuficiente e estava feliz com sua marginal situação, pois não tinha nenhum desejo de mudança.

O comportamento egoísta e intransigente daquele convidado fez com que o rei o expulsasse da festa. Não foi sua indignidade ou sua veste imprópria que o excluiu, mas a sua incapacidade de discernir, de glorificar, de alegrar e de acolher o dom da misericórdia incondicional do dono da festa.

Ele foi levado à festa, mas não soube festejar, apreciar... Mesmo vendo e provando das maravilhas da núpcia, permaneceu enrijecido, fechado em seu mundo, satisfeito com sua condição e não conseguindo maravilhar-se da plenitude da festa. Ele não percebeu a generosidade do rei ao permitir que ele entrasse e participasse do banquete. Portanto, o mesmo que permitiu com que entrasse, fez com ele saísse. É impossível participarmos de uma festa se não mantivermos uma relação de proximidade com o dono da festa. Aquele convidado não se abriu à relação com o rei.

O rei que preparou o banquete nupcial para o seu filho é a imagem de Deus que prepara para toda a humanidade a festa do amor e da comunhão ao redor do seu Filho Unigênito. Também, como aqueles convidados, colocamos nossos interesses e nossas vontades à frente do convite do Senhor que não cansa de nos convidar para a sua festa. O rei da parábola não querendo que o salão ficasse vazio, disse aos servos: “Ide, pois, às saídas dos caminhos e convidai para as bodas todos quantos encontrardes”. É assim o comportamento de Deus: Ele nunca desiste no primeiro convite. Ele sempre está nos convidando para vivenciar com Ele a festa de amor e da comunhão.


Deus não tem medo de que tenhamos vestes impróprias para seu banquete. Ele nos pede e deseja que entremos em Sua festa. Essa deve ser nossa resposta ao generoso convite divino. Não basta ir à festa e se comportar como espectador daqueles que ali estão. Não basta ser apenas um aproveitador consumista da gratuidade de Deus.

O banquete de Deus é preparado para todos: justos e pecadores, bons e maus, inteligentes e incultos. O traje nupcial simboliza a misericórdia que Deus nos concede gratuitamente. Sem a graça não se pode dar um passo em frente na vida cristã. Tudo é graça. Não basta aceitar o convite para seguir o Senhor. É necessário estarmos abertos à graça que gratuitamente muda nosso coração e nossa maneira de pensar e de agir.

O Evangelho é convite à Festa da humanidade. Deus nos convida sempre à festa. Não é um convite a uma vida triste, amarga, fechada, onde tudo é proibido. Deus sempre tem uma proposta. Ele não força, não obriga e não intimida. O convite a trabalhar na vinha e a participar da festa tem o mesmo sentido. É sempre proposta e nunca obrigação. O Deus revelado no Evangelho não é o mesmo das nossas cabeças pequeninas. Não é o Deus severo dos nossos medos, das nossas visões estreitas e das nossas atitudes moralistas. O Deus revelado é Aquele que ama fazer festa, que gosta de celebrar, que tem prazer de se relacionar e que possui grandiosa generosidade capaz de partilhar Sua alegria com todos, até com os desconhecidos.


Senhor, dá-me um coração livre capaz de aceitar as novidades ensinadas por Jesus acolhendo Sua proposta de salvação. Que eu reconheça a atenção, os gestos e a delicadeza da Tua vida doada em minha própria história. Instrua-me ao ser convidado por Ti, alegrar-me, abrir-me às Tuas novidades e apreciar cada minuto da Tua presença. Ensina-me apreciar Tua grandiosa generosidade abrindo-me à relação contigo para partilhar a todos a mesma alegria que Tu tens comigo.

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1 comentário


Marcia Severo
Marcia Severo
15 de out. de 2023

Bom Dia Frei. Paz e Bem.

Gratidão por esse texto maravilhoso.


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