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A festa da alegria

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 29 de mar.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 5 de abr.

A condenação de Jesus foi consequência do seu interesse em apresentar a imagem do verdadeiro Deus. A ideia tradicional de Deus relacionava o pecado e a condenação, professando uma fé que tinha interesses de vigiar e de punir. Na mentalidade do tempo, supunha-se que todos os acontecimentos fossem castigos que Deus enviava aos culpados e àqueles que não observavam suas ordens e seus mandamentos. Diante dessa mentalidade, o evangelista Lucas nos apresenta, com três parábolas, o quanto a imagem de Deus estava equivocada: a mulher que procura uma moeda, o pastor que procura uma ovelha e o pai que procura seus dois filhos.


As parábolas foram contadas diante daqueles que eram incapazes de se reconhecerem perdidos. No entanto, a insistência moralista e centralizada no pecado, interpretou as três parábolas unilateralmente, romantizando-as e tornando-as banais e repetitivas.

Partindo do sentimento dos dois filhos, Jesus constrói a parábola que revela a ideia de um pai diferente. Um pai que tem dois filhos perdidos e pródigos. O filho mais novo havia decidido se perder e o mais velho havia se perdido e não percebido. Os dois mantém péssima relação paterna: o primogênito, vive como empregado; o mais novo, não quer ser filho, apenas deseja sua herança.

Diante do pedido do filho mais novo, a reação do Pai mostra-se impressionante: mudo e sem qualquer iniciativa. É um pai que não impõe a lei e nem o reconhecimento paterno. Nenhuma reivindicação, repreensão ou interrogação. Ele respeita a liberdade do filho que rompe com a tradição, nega a autoridade e deixa sua família. O pai deixa seu filho experimentar a vida, embora tendo aceitado a sua própria morte. Entretanto, sua sábia humanidade permite que seu filho se perca para se encontrar. O filho desperdiçando os bens e caindo em si, recorda-se da fartura da casa paterna e decide voltar não como filho, mas como empregado. Seu regresso acontece não pelo sentimento filial, mas pelo estômago vazio e pelo total fracasso.


O retorno do filho faz o pai não se conter e se encher de compaixão. Ele corre e lança-se cobrindo-lhe de beijos. A aventura e a coragem do pai que oferece seu o perdão foi o gesto mais nobre. O pai não está interessado na espera. Ele corre porque deseja encurtar a distância que o separa de seu filho. O filho tenta confessar seus pecados, mas é impedido. O pai não deseja um período de recuperação para compreender aquela mudança. Ele faz gestos concretos para reconstruir a relação rompida. Ele não quer saber se o arrependimento do filho é sincero, contrito... Por isso, sem saber a real motivação do retorno, ele está preparado para restituir-lhe de tudo.

Ele restitui a melhor veste, a dignidade, o anel no dedo que simboliza a realeza e o poder; a sandália nos pés que restabelece a condição de filho e não de empregado. A celebração da ressurreição do filho encontrado é festa da alegria eterna.

O pai teve as mesmas atitudes para com o filho maior que sempre esteve em casa. Também, um caminho de reconciliação foi construído com filho “presente”. O pai sabe que, embora presente, o filho vive longe da casa paterna. A ausência filial é confirmada quando o filho vai até um dos empregados paterno e pergunta o que está acontecendo. Há muito tempo, ele não se relacionava com o pai. Não banalizando o sentimento e o rancor desse filho, o pai vai ao encontro dele. Esse encontro revela objetivos e linguagem contrapostas: enquanto o pai fala de festa, o filho fala de patrimônio; enquanto o pai apresenta seu irmão reencontrado e ressuscitado, o filho recorda a lei e as regras. O coração do pai estava cheio de misericórdia e de compaixão. O coração do filho vibrava inveja e ódio.


A reconciliação experimentada pelo filho mais novo impedia o filho primogênito de sentir a lógica amorosa do pai. Ele não sabe viver relacionamentos. Apenas possui raiva destrutiva. “Não o meu irmão, mas o teu filho”. Nesse sentido, o primogênito nunca havia vivido uma relação paterna. Apenas obedecia a um patrão: “há tantos anos que te sirvo, e jamais transgredi um só dos teus mandamentos”. Esta parábola nos ensina que o deus dos escribas, dos fariseus, do irmão mais velho e, muitas vezes, o nosso deus é um deus falsificado, fabricado por raciocínios medíocres, por mãos fechadas, por coração pequeno e por instituições desumanas. O Deus de Jesus é amor, misericórdia, compaixão. Ele nos deseja diuturnamente. O Deus de Jesus corre ao nosso encontro a cada amanhecer para nos abraçar e nos acolher. É com esse abraço que a nossa vida é salva.



Senhor, livra-me da dureza, do fechamento e da mesquinhez de não aceitar teu perdão para com os “pródigos”. Ajuda-me compreender teu projeto de amor para com todos. Liberta-me da necessidade de fabricar um deus falso e desumano. Dai-me mãos abertas e mente amorosa. Ensina-me ter um coração humano misericordioso e compassivo.


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2 comentários


francescojbeserra
30 de mar.

Boa noite, uma abençoada e iluminada reflexão, gratidão!

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Marcia Severo
Marcia Severo
30 de mar.

Bom Dia Frei!! Q palavras esclarecedoras!!!! Gratidão por enviar. Tb quero sempre esse acolhimento do Senhor. Paz e Bem!

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