A extensão da Vida
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.

- 31 de mai.
- 4 min de leitura
Atualizado: 21 de jun.
Cristo entrou no próprio céu.
Os quarenta dias transcorridos entre a Ressurreição e a Ascensão ajudaram os discípulos a mergulharem no mistério da vida abundante do Ressuscitado e na vibração do amor de Deus na história humana. A vida vence a morte e o amor dá sentido à existência. Os encontros com o Ressuscitado possibilitam a transformação interior dos discípulos. O Cristo se apresenta vivo, no meio da comunidade, iluminando o coração, curando o medo e transformando a culpa. Jesus retorna aos que Lhe tinham abandonado e, colocando-se a serviço, inicia processos de comunhão sugerindo mudanças de posição e de atitudes.
A Ascensão é o tempo do retorno. O primeiro Adão fugiu da presença de Deus e levou consigo Eva. O novo Adão retorna à casa do Pai, levando com Ele a humanidade redimida. Na Encarnação, Deus desce para assumir a carne humana. Na Ascensão, Ele sobe para fazer com que a carne humana eternamente habite em Deus.
Ele faz a carne humana participar da grandeza divina: “membros de seu corpo, somos chamados na esperança a participar da sua glória”. A Solenidade da Ascensão do Senhor tem muitos significados. Ela nos convida à memória do projeto amoroso do Criador. Também, nos convoca a participar da natureza do próprio Salvador e nos oferece a oportunidade de aprofundar mais uma dimensão do mistério pascal. Jesus eleva-se aos céus não para se afastar de nossa humanidade, mas para nos dar a certeza da glória da imortalidade.
A narrativa de Lucas acerca da Ascensão, no final de seu Evangelho e no início dos Atos dos Apóstolos, une o tempo da presença do Senhor com o início da vida de sua Igreja na terra.
O relato da Ascensão estabelece uma continuidade entre a fundação salvífica da Igreja e a vinda gloriosa do Cristo.
O anjo exorta a continuidade dos discípulos, dizendo: “Homens da Galileia, por que ficais aqui parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu virá do mesmo modo como O vistes partir para o céu”. Era necessário que os discípulos renunciassem a tentação de ficarem parados, apenas olhando para o céu. Desse modo, eles não encontrariam o Senhor nos vestígios dos passos dados e na vida real. Embora, Ele agora do céu continuaria realizando sua promessa de vida e de salvação. A ausência física do Cristo deveria se tornar presença viva nos discípulos convocados a serem anunciadores e testemunhas da Sua ressurreição.
À luz das Escrituras, a Ascensão não diminui o mistério da presença de Jesus, mas expande, multiplica e a torna viva nos Sacramentos e na vida da Igreja. Esse mistério é a extensão da Vida de Cristo e nos permite participar da sua divindade.
A elevação do Mestre ao céu revela a conclusão de sua missão histórica e o começo da nascente comunidade de cristãos na terra. A Ascensão é a dilatação da presença do Cristo no mundo e da força do Ressuscitado na vida dos discípulos. O Senhor deixou o tempo e o espaço físicos para estar presente em todos os tempos e espaços. Antes de Sua subida aos céus, Jesus ergue as mãos e abençoa seus discípulos. A benção foi o mais belo ato do Ressuscitado. Na Bíblia, a bênção indica força, energia que desce do alto e produz vida. A bênção de Jesus acompanha a comunidade, serve de promessa e garante êxito para a obra iniciada por seus seguidores.
Antes de abençoá-los, Jesus dá-lhes três missões: anunciar Sua Morte e Ressurreição, pregar a conversão e perdoar os pecados. O anúncio da Obra da Redenção sintetiza o projeto do Pai e a missão do Cristo. Deus envia seu Filho para a salvação do mundo. Eliminar a ideia de um Deus vingador era o caminho mais eficaz para assumir, de uma vez por todas, a ação misericordiosa divina. Somente, assumindo essa misericórdia, ensinada e vivenciada por Jesus, os discípulos teriam a capacidade de levar o perdão dos pecados a todos os povos. Assim, a três missões seriam resumidas num único compromisso evangélico: anunciar e tornar concreta a misericórdia de Deus manifestada na oferta de Cristo na cruz.
Narrar e testemunhar a presença na ausência é tarefa árdua porque o modo de pensar humano é limitado. A Ascensão de Jesus nos convida ampliar nossa visão, romper com toda atrofia do coração e abrir-nos à eterna surpresa de Deus.
O único capaz de realizar este desafio é “o poder que vem do alto”. Nesse sentido, o Espírito Santo rompendo todo medo e toda culpa permite a continuidade desta ação peregrina e missionária. Foi Ele quem trouxe sentido, vitalidade e confiança à nova missão dos discípulos. O mesmo Espírito que permaneceu em Jesus, durante seu percurso histórico, passa habitar nos continuadores da presença do Ressuscitado. É o Espírito Santo quem deve fazer da Igreja um sinal vivo, amoroso e, sobretudo, superabundante da misericórdia do Senhor ascendido ao céu.
Senhor, ilumina meu coração, cura meus medos e transforma minhas culpas. Ensina-me na ausência física, tornar-me presença viva de Ressurreição na vida de meus irmãos. Capacita-me a ser sinal vivo, amoroso, coerente da Tua misericórdia abundante em toda a terra. Amém!


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