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A escuta e o reconhecimento

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • há 4 dias
  • 3 min de leitura

Atualizado: há 3 dias

"Eu dou-lhes a vida eterna

e elas jamais se perderão".


A revelação de Jesus como Pastor enviado por Deus destaca-se no contexto de uma história de fracasso dos pastores históricos de Israel, isto é, dos líderes que fracassavam em suas tarefas. Esses pastores preocupavam-se mais em alimentar a si próprios do que alimentar seus rebanhos. Os exemplos dos maus pastores eram frequentes. Por isso, Jesus traz a imagem de um diferente pastor, a do Bom Pastor: daquele que conhece cada uma de suas ovelhas e as chama pelo nome.

Para o Bom Pastor, cada ovelha não é substituível, mas é uma personalidade única e singular. Ele não abandona a ovelha ferida, doente, perdida. Nem mesmo aquela que tem uma dificuldade mental ou moral.

A imagem do Pastor é uma das mais antigas representações de Jesus. No mundo antigo, o pastor era o responsável pela eventual perda das ovelhas que saíam do cercado pela manhã e não retornavam ao entardecer. Jesus não apenas expressa sua responsabilidade pessoal para com suas ovelhas, mas faz a diferença. Ele não quer ser pago para realizar o serviço do pastoreiro. Ele deseja a pertença individual de cada uma de suas ovelhas. Desse modo, há estabelecida uma relação estreita, um vínculo afetivo entre Pastor e ovelhas. Há uma relação através da familiaridade e do reconhecimento de voz.

Enquanto os pastores comuns vivem do seu rebanho, o Bom Pastor, revelado em Jesus, dá a vida por suas ovelhas. Não é o rebanho que alimenta o Pastor, mas o Pastor que, com sua própria carne, alimenta o rebanho.

O pastoreio de Jesus não tem nada a ver com o poder que controla, com o autoritarismo que incomoda e com o paternalismo que infantiliza. O pastoreio de Jesus é realizado mediante ações: falar, conhecer, proteger e dar Vida Eterna. Os verbos e os gestos que descrevem o modo de Jesus, o Bom Pastor, correspondem os verbos que se relacionam com suas ovelhas: “Ouvem a minha voz”, “seguem-me”. São gestos que mostram de que modo as ovelhas respondem às atitudes ternas e amáveis do Bom Pastor. A imagem é bela e a mensagem é singela: “as Minhas ovelhas escutam a Minha voz, Eu as conheço e elas Me seguem”.


Jesus é o Pastor enviado por Deus para cuidar do povo que vivia como ovelhas sem pastor (Mc 6,34). Ele é o Bom Pastor porque foi enviado para livrar as ovelhas da morte e para mostrar que sua presença é capaz de assegurar vida plena a cada ovelha individualmente.

O Pastor não é bom porque cuida apenas de suas ovelhas, mas porque oferece sua própria vida por elas. As palavras e as atitudes do Bom Pastor ofertam vida abundante e existência livre e incondicional. Suas palavras despertam aquilo que está atrofiado e adormecido no ser humano. Os que escutam Sua voz sentem a Verdadeira Vida que alimenta e dá sentido à existência. O Bom Pastor evoca a profunda verdade do homem.

A metáfora “Eu sou o Bom Pastor” refere-se à realização da promessa divina. Na linguagem bíblico-hebraica esse conhecimento não é intelectual, mas existencial. Trata-se de um conhecimento mútuo, íntimo e integral. Um conhecer que implica amar, pertencer e ter vínculo. Além disso, o conhecimento entre Jesus e as Suas ovelhas é posto em paralelismo com o conhecimento entre Jesus e Deus Pai. Ele declara: “Conheço as Minhas ovelhas e as Minhas ovelhas conhecem-Me, tal como o Pai Me conhece e Eu conheço o Pai”.

Este verdadeiro vínculo entre o Bom Pastor e Suas ovelhas é a razão pela qual “ninguém as arrebatará” de Suas mãos e das mãos do Pai. A unidade é tão forte que não há possibilidade de separação.

O relacionamento entre as ovelhas e o Pastor passa pela escuta e pelo reconhecimento da Voz. Esse é o processo de aprendizado da relação. Quanto mais as ovelhas se familiarizam com a voz do Pastor, mais facilmente podem reconhecê-La em diversos tempos e lugares. Escutar, reconhecer e seguir são os elementos da relação eterna e decisiva entre o homem e Deus. Escutar é um ato de hospitalidade. Consiste em abrir um lugar ao outro, em ceder-lhe um espaço e um tempo. Escutar é um ato de esvaziamento das próprias ideias. O Evangelho nos ensina que o reconhecimento da Voz de Jesus é a certeza do vínculo profundo, de longo tempo e da garantia da eternidade. Nesse sentido, “crescemos” no seguimento e “nascemos” para a Vida Eterna quando passamos do escutar para o reconhecer. Do escutar superficialmente para o reconhecer profundamente. Um reconhecimento interno que revela a verdade a si mesmo, aos outros e a Deus.


Jesus, meu Bom Pastor, ensina-me escutar e reconhecer Tua voz em todo tempo e em todo lugar. Permita-me ser uma ovelha fiel que corresponda Teu amor e Tua ternura. Conceda-me o dom de conhecer Tua existência em minha história para que nossa relação seja de unidade e de perfeita comunhão.

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1 Comment


Marcia Severo
Marcia Severo
há 4 dias

Bom Dia Frei!!! Paz e Bem🙏🏽

Gratidão por me enviar essas palavras,q me ensinam querer estar cada vez mais perto do Senhor nosso Bom Pastor. 🙏🏽🙏🏿🙏🏾

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