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A nova direção

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • há 19 horas
  • 3 min de leitura

"Lançai a rede à direita da barca, e achareis".


A última manifestação do Ressuscitado acontece no mesmo lugar em que Ele havia convidado seus primeiros discípulos. O evangelista João fez questão de especificar os sete discípulos que estavam presentes à beira do mar de Tiberíades. Eles representam a totalidade da comunidade primitiva e o sentimento que todos tinham após a morte de Jesus.

No mesmo barco e na mesma praia, o Senhor renova o desejo da comunhão com os seus através da superabundância de uma pesca. Essa superabundância remete a superabundância do vinho em Caná, a superabundância do pão na multiplicação e, sobretudo, a superabundância do amor de Deus Pai que tanto nos amou dando-nos seu Filho Único para a salvação de todos, sem distinção.

A narrativa dos encontros de Jesus Ressuscitado com seus discípulos, em tempos e espaços diferentes, foram decisivos para a transformação interior daqueles que O seguiam até a cruz. A iniciativa do Ressuscitado é fundamental, pois Ele se apresenta vivo, no meio da comunidade, iluminando o coração, curando o medo e transformando a culpa. Os discípulos sabiam da cruz. Eles conheciam os processos de condenação. Entretanto, não esperavam que a violência fosse tão atroz com o Mestre. Por isso, na hora da crucificação, eles ficaram de longe, pois não sabiam lidar com o fracasso e com a frustração de não conseguirem permanecer até o fim como haviam prometido.


Eles retornaram para os antigos costumes muito frustrados e voltaram viver a vida de sempre muito envergonhados. A angústia do sofrimento, a decepção da traição e o peso da negação era uma “pedra” difícil de ser removida, em seus corações. As lembranças de Jesus e as amarguras da traição tocavam o coração de todos. Os dias eram difíceis e pesados, sobretudo, para Pedro. Embora não duvidasse da ressurreição, seu coração não estava sereno e seu orgulho não lhe permitia assumir que Jesus, desde sempre, soubesse de sua negação. Para Simão Pedro, o ato de ter negado Jesus era imperdoável e inadmissível. Então, para distrair-se, ele tomou a decisão: “Vou pescar”. Essa decisão e desejo significava “vou voltar a fazer tudo como antes”. Os companheiros e amigos de Pedro, também, tomaram a mesma decisão. Eles não conseguiam recomeçar.


Ao voltarem à pesca, descobriram que não sabiam mais pescar. Eles nada pegaram naquela noite. Ao amanhecer, retornando para a margem, decepcionados com o acontecido, encontraram um homem desejoso por comida. Eles disseram que nada haviam pescado. O homem sugeriu-lhes nova direção para a pesca. O cansaço e a obstinação de fazerem tudo igual foram transformados com a nova orientação: “Jogue a rede do outro lado”.

Nenhuma palavra de reprovação, nenhum indício de condenação, nenhuma repreensão, nenhuma acusação ou pedido de explicação. Neste clima de amizade e de simplicidade, realiza-se o diálogo entre Jesus e Pedro. Se no início Pedro acredita ser capaz de seguir o Senhor com suas próprias forças. Agora, ele entende que seguir é deixar-se conduzir pelo amor.

É surpreendente a discreta aparição do Ressuscitado e o método utilizado por Ele para fazer-se próximo do cotidiano de seus discípulos. Jesus volta para aqueles que O abandonaram e, colocando-se a serviço, inicia um novo processo de comunhão, sugerindo a mudança de posição e de atitude, do olhar para o outro lado e de pescar de maneira diferente. O Mestre não estava interessado no ato da negação. Ele desejava restabelecer o ato do amor e do seguimento. Era necessário iniciar novo caminho. A ressurreição ressignifica, reestrutura e reinterpreta os dramas, as crises e as feridas de Simão. O discipulado não consiste em nunca ter traído ou negado Jesus. Ser discípulo consiste em renovar diuturnamente a amizade e a fé com o Cristo Ressuscitado.


O discípulo amado reconheceu: É o Senhor! João reconhece o Ressuscitado através dos gestos e das palavras. Ele não fugiu, mas permaneceu até o fim, ao pé da cruz. A fidelidade do amado permitiu com que todos os discípulos, também, reconhecessem o Cristo. O amor em Madalena, a comunidade em Tomé e a fidelidade em João revelam o Senhor Ressuscitado. A tristeza, a solidão e a amargura foram transformadas no reconhecimento do Mestre. Um novo recomeço foi estabelecido. A presença do Ressuscitado transformou escuridão em luz. O trabalho tornou-se abundante. O cansaço desapareceu. Jesus muda o coração de seus seguidores tornando-os mais disponíveis para o serviço e para a doação.



Senhor, que a vossa ressurreição possa ressignificar, reestruturar e reinterpretar os dramas, as crises e as feridas da minha vida. Ajuda-me a aceitar nova direção afim de que eu possa iniciar um novo processo de comunhão e seguimento. Ensina-me que o amor, a comunidade e a fidelidade são os caminhos mais eficazes do reconhecimento da tua presença.


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