top of page

A diferente matemática

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 27 de jul. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 29 de jul. de 2024

Jesus vendo uma grande multidão que vinha ao seu encontro, manifestou preocupação com Felipe. O Mestre que havia oferecido a compaixão por viverem sem direção e o ensino diferente para que eles pudessem viver uma vida digna, agora se preocupou com a necessidade mais básica humana. Ele observou que a multidão estava com fome de pão e não somente de palavras e de sentimentos. Essas sensibilidades humanas manifestavam a totalidade do Divino que sempre habitou em Jesus. Ele bem sabia que no exercício da Sua humanidade poderia manifestar a grandeza da Sua Eternidade.


Felipe fez os cálculos para determinar o custo da compra de pão para tantas pessoas. André ressaltou que os cinco pães e os dois peixes que um menino trazia consigo eram absolutamente insuficientes. Os discípulos estavam preocupados porque não sabiam como alimentar toda aquela multidão e não haviam compreendido a lógica de Jesus. Eles estavam pensando na dimensão econômica, enquanto Jesus pensava em ensinar à multidão a partilha fraterna. Para o coração ansioso dos discípulos, a melhor alternativa era mandar o povo embora, pois eles não seriam capazes de organizar alimento para todos. Eles eram realistas, possuíam bom-senso e eram racionais mesmo diante da presença de Jesus.


O desejo do Mestre era substituir a lógica do comprar para a do doar. Ele queira sair da lógica mercadológica do pouco que se tem e entrar na dinâmica da oferta e da partilha. Jesus não queria apenas ensinar os discípulos e a multidão, mas Ele desejava mostrar que para segui-Lo era preciso aprender uma diferente matemática. Era preciso aprender a somar o pouco e multiplicar a fim de saciar a todos.

O milagre não era uma ação misteriosa, mas um gesto de abertura das mãos. Por isso, entre todos os sinais realizados por Jesus, nenhum foi contado tantas vezes como o sinal do pão. Todos os evangelistas o relatam pelo menos uma vez. Mateus e Marcos apresentam até duas vezes. Entretanto, Jesus realizou outros milagres extraordinários que foram narrados somente uma vez.

Os discípulos pensavam a partir da lógica matemática comum. Jesus pensava a partir da lógica da partilha. Quando Jesus somou cinco com dois foi possível alimentar mais de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças. A Sua matemática não é compreensível racionalmente. O milagre não foi a multiplicação dos pães, mas a abertura das mãos daquele pequeno menino. Ele poderia não querer partilhar o pão porque iria fazer falta para ele. Era tudo o que ele tinha para viver e, talvez, para alimentar sua família.

Porém, ao abrir as mãos doando os cinco pães e os dois peixes aconteceu o milagre. Das mãos do menino passaram-se para as mãos de Jesus. Das mãos de Jesus passaram-se para as mãos dos discípulos. Das mãos dos discípulos passaram-se para as mãos de todo o povo.

O texto do Evangelho em nenhum momento fala da multiplicação de pães, mas da partilha. Fala-se de pães compartilhados, de distribuição e de sobra recolhida. Jesus não multiplicou nem dividiu os pães. Ele apenas os deu. Os verbos dividir e multiplicar são quantitativos e econômicos. No dividir está a igualdade das partes. No multiplicar está a quantidade justa para os presentes. Na partilha não somente se pensa nas partes e nem apenas nos presentes, mas, também, nos ausentes. Isso tudo sinalizava que o Cristo veio dar a Sua vida para todos: presente e ausentes.

Portanto, no gesto de Jesus está a satisfação das necessidades humanas e a manifestação divina do amor gratuito, superabundante e excessivo. Um amor que não pede reciprocidade, apenas acolhimento e abertura.

O gesto central de Jesus foi agradecer o pouco que se tinha. Após essa rápida ação de graças, já se podia distribuir os pães. É precisamente em virtude da ação de graças que o Cristo dá e distribui um pão que alimenta cinco mil pessoas, conseguindo satisfazer a todos e ainda fazendo ter abundante sobras. O sentimento de gratidão, a ação em ser agradecido e os movimentos de viver dando graças são fundamentos para que todo o bem se realize e se manifeste em nossa vida. A multiplicação dos pães foi possível somente pelo poder da gratidão que brotou do coração de Jesus do pouco recebido.

Não foi o poder divino de Jesus que realizou o grande milagre, mas o poder humano de ser grato sempre e por toda a parte. Os milagres em nossas vidas acontecem não somente quando pedimos o que queremos, mas, sobretudo, quando somos gratos pelas pequenas-grandes coisas que temos. Devemos ser gratos por tantos detalhes, pois são eles que nos permitem ter acesso à abundância divina.

Dar graças sempre e em todo o lugar é a nossa salvação. O coração agradecido é generoso, foge da mediocridade e renuncia a mesquinhez. O coração agradecido gera o olhar abundante e a infinitude do olhar que alimenta a todos. Uma visão expandida garante a paz interior e testemunha a plenitude da vida recebida como dom de Deus. Sem mãos abertas, sem coração grato e sem amor incondicional não podemos viver as abundâncias divinas aqui na Terra.


Senhor, ensina-me a ser humano e a interessar-me pelas necessidades básicas de todos. Educa-me a ter um coração grato que renuncie os cálculos mesquinhos e a visão curta. Ajuda-me abrir as mãos e dar o pouco que tenho. Permita-me ser sinal de generosidade e profeta da superabundância.


LFCM.

Posts recentes

Ver tudo
A máxima expressão do amor

A cena apresentada no Evangelho de hoje é a última de uma série em que Lucas contrapõe atitudes diante de Jesus e do Reino. Ao longo do ano litúrgico, encontramos personagens e imagens que nos colocar

 
 
 
Entre o caos e a promessa

O Evangelho nos convida à perseverança, à vigilância e à paciência, especialmente nos discursos escatológicos de Jesus, cuja finalidade não é provocar medo, mas dissipá-lo. A linguagem apocalíptica, t

 
 
 

2 comentários


Raissa Souza
Raissa Souza
28 de jul. de 2024

Boa noite.

Que bela reflexão. Obrigada 🌹


Curtir

Marcia Severo
Marcia Severo
28 de jul. de 2024

Bom Dia Frei!!! Gratidão por me enviar palavras q confirmam o amor do Senhor pela humanidade. Reze por mim por favor🙏🏾Paz e Bem.

Curtir

© 2023 por NÔMADE NA ESTRADA. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • Facebook
  • Instagram
bottom of page