Francisco: o desarmado e o desarmante
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 3 de out. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 5 de out. de 2021
Depois de ter abraçado o Cristo crucificado, o irmão leproso e o bispo, Francisco decide sua forma de vida: entrega radical a Deus em fraternidade e no total despojamento. Os três abraços fizeram com que Francisco deixasse de adorar a si mesmo, abrindo-lhe um horizonte de disponibilidade ao mistério de Deus e ao mistério de reciprocidade aos irmãos. Os três abraços fizeram dele um Evangelho encarnado e um homem conformado em Cristo. Os três abraços fizeram de Francisco um reformador sem intenção, um profeta sem palavras e um mártir sem sangue.
Francisco, em sua escolha radical, volta seu coração continuamente ao Senhor, abre seus olhos ao Evangelho e anseia que seus companheiros tenham o mesmo desejo. Na escolha pela fraternidade, ensina que os frades sejam irmãos verdadeiros, amando-se e cuidando uns dos outros. Abraçando a pobreza, entende que a verdadeira pobreza é abandono à vontade de Deus e beata aventura de viver na providência. Com esse entendimento aponta que a pobreza não é tanto efetiva quanto afetiva, pois ela deve consistir em deixar o mundo com as suas seguranças, escolher amar o Senhor e viver na disponibilidade aos irmãos.
Na capela de São Damião, o abraço do crucificado ferido e pendente na cruz, liberta-o da escravidão do egoísmo, da vaidade, da autossuficiência e do orgulho. Nas proximidades de Rivotorto, o abraço ao leproso, desfigurado pela dor e pela indiferença de todos os passantes, cura as feridas de seu coração e abre-lhe seus olhos autorreferenciais, dando-lhe à oportunidade de ver o rosto do outro, não visto anteriormente. Na praça de Assis, despojando-se e abraçando o bispo, declara a paternidade fundamental de Deus que nos faz “todos irmãos”.
A conversão espiritual e moral de Francisco de Assis, filho de um rico comerciante, começa no encontro com o Crucificado. Por três vezes, o Cristo de São Damião, disse-lhe: “Francisco, vai e repara a minha Igreja”. O caminho de Francisco é iniciado, com o olhar de Jesus na cruz. O Crucificado, vivo, não morto, olha-o e o atrai no desejo de ser amado por ele. Jesus não tem olhos fechados, mas abertos, muito bem abertos. Seu olhar lhe fala ao coração. Claramente, Francisco ouve o convite e coloca-se a reparar a Igreja. A reparação desejada pelo crucificado, não era um trabalho físico-estrutural, mas o trabalho estrutural-evangélico de renovação da sua Igreja.
Francisco é nova criatura. Desde seu encontro com Cristo, tudo tornou-se diferente. Seu modo de olhar, seu estilo de vida e sua forma de pensar, agora, são diferenciadas. Depois de Cristo, ele é o único que marca a história do mundo. A sua vivacidade mostra o desejo da plenitude de vida. Descobre que a plenitude encontra-se na liberdade. Liberdade de coisas. Liberdade do medo das perdas. A liberdade descoberta é a prova viva de ser amado e de ser capaz de amar. A primeira pobreza de Francisco é a liberdade interior. Por certo, essa liberdade interior que possibilitou Francisco a viver o Evangelho sine glossa.
Temos muito para aprender com Francisco. Sua vida é fonte rica de inspiração que nos ensina a viver os mínimos valores da sustentação de qualquer convivência humana. Sua vida é inspiração para acreditar na força explosiva do encontro com Cristo que tudo transforma. Sua vida nos ensina a vencer o autoritarismo, a sede pelo poder, a sanha destruidora dos irmãos, as falsas narrativas e a desconfiança de tudo e de todos.
O olhar do Cristo penetra o coração de Francisco e gera nele, uma nova forma de vida. Ele torna-se menor. Francisco é o menor diante de Deus e o menor diante dos irmãos. É o homem desarmado e desarmante. Sua minoridade é convite para começar, sempre de novo, a oferecer uma unção que cura, uma palavra que perdoa e um serviço que salva. Sua vida é estupenda e entusiasmante. Francisco de Assis é o Evangelho vivo e encarnado. É a vida de Jesus.
Paz e bem.
LFCM
Frei q testo maravilhoso 👏🏽qto temos q aprender com São Francisco. Gratidão por me enviar. Paz e Bem.