O encontro das fragilidades
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 2 de fev.
- 4 min de leitura
Atualizado: 8 de fev.
Na narração da Apresentação de Jesus no Templo, vemos o “encontro” de Deus com o seu povo e o encontro de Maria, José e Jesus com Simeão e Ana, anciãos que representam a expectativa do povo, esperando a salvação do Senhor, anunciada pelos profetas. A sabedoria é representada por esses dois anciãos. Eles são pessoas dóceis ao Espírito Santo, conduzidas e animadas por Ele. São dois idosos que foram capazes de acolher a força de um tempo novo. O peso da idade avançada não tirou os sonhos revelados e a juventude do coração.
Mesmos diante das dificuldades e desilusões, eles não cederam ao derrotismo e não permitiram serem esmagados pelo peso da murmuração. Simeão e Ana tiveram a coragem de permanecer fiéis aos seus sonhos não permitindo que a promessa de Deus, sentida em seus corações, se perdesse diante dos dramas de seu tempo.
Na apresentação do Dom a Deus, esses dois anciãos que revelam a paciência na expectativa, a vigilância do espírito e a perseverança na oração. Maria e José reconhecem que o Filho gerado é um dom. Este é o gesto que todos os pais são chamados a realizar em seus filhos: reconhecer que eles não lhes pertencem. Maria e José movem-se obedecendo à Lei. A obediência é aquele gesto de confiança e de abandono que está impresso em cada ato de consagração a Deus. Não se trata de uma obediência servil, mas de doação plena e de inteira confiança.
Os anciãos, Simeão e Ana, vêem no Menino o cumprimento da Lei e das promessas de Deus. Mesmo diante da demora, da corrupção da comunidade, da invasão dos romanos, dos trágicos acontecimentos do povo de Israel, eles não deixam de lado a esperança nas promessas de Deus. Os velhos do Templo perseveram pela oração e não se cansam diante do ensurdecedor silêncio divino.
A profundidade do mistério revelado acontece quando eles têm diante de si uma criança, não apenas um pregador profundo ou um homem crucificado. Foi ao receber nos braços uma frágil criança que eles podem sentir a força do mistério. É o encontro das fragilidades: da criança que precisava ser acolhida nos braços e dos velhos que esperavam por uma resposta do alto.
O texto afirma que Ana ficou viúva depois de sete anos de casamento. Ela é símbolo de uma comunidade que não perdeu seu ponto de referência. É sempre difícil permanecer fiel em situações complicados ou continuar sonhando diante da lucidez do nosso pensamento. Esperar é sempre um desafio exigente. Por isso, Ana é o símbolo da lealdade incansável, característica das mulheres. Ela é o símbolo daquelas pessoas e daquelas comunidades que, apesar de viverem situações de precariedade, perda, desorientação, não falham em sua fidelidade ao bem, à verdade e ao Evangelho de Cristo.
Movido pelo Espírito, Simeão vê a salvação. Impelido pelo entusiasmo, ele vê e reconhece Cristo. O Espírito abre-lhe os olhos para que veja o sentido da espera. É sempre o Espírito que transforma nosso olhar e muda nossas perspectivas. Os olhos envelhecidos de Simeão, embora cansados pelos anos, veem o Senhor e veem a salvação.
Os seus braços acolhem, na fragilidade de uma criança, a força do mistério. A salvação é uma projeção do futuro que exige olhos para ver adiante e para não voltar atrás. Quando Simeão toma Jesus nos braços, seus lábios pronunciam palavras de bênção, louvor e de maravilha. O cântico de Simeão é o cântico do homem crente que, na reta final dos seus dias, pode afirmar: É verdade! A esperança em Deus nunca decepciona (cf. Rm 5,5).
Como Simeão, precisamos trazer nos braços o Menino, o Deus da novidade e das surpresas, ao mesmo tempo, frágil e potente. Simeão acolhe Jesus nos braços. Uma cena terna e rica de significado, a única nos Evangelhos. Deus colocou o seu Filho nos nossos braços porque o essencial, o centro da fé é acolher Jesus com nosso próprio corpo. O risco da nossa vida é a dispersão diante de mil coisas secundárias que temos para fazer. Entretanto, o centro de tudo é Cristo, por isso, é preciso trazê-Lo sempre nos braços. Deitá-Lo em nosso colo e envolvê-Lo com nossas mãos. Se nosso colo não estiver Jesus e se nossas mãos não o carregarem, corremos o risco de carregarmos fardos, situações e bagagens que deixarão nossas vidas vazias e sem sentido. Quando abraçamos Jesus, nossos corações se abrem para a docilidade e para a gratidão. Aprendermos ver os sinais da graça de Deus deve ser nosso ponto de partida. A salvação deve ser percebida em momentos grandes de nossa vida, mas, sobretudo, em nossas fragilidades, fraquezas e em nossas misérias.
Senhor meu Deus, única esperança, concede-me a graça de perseverar até ver o cumprimento da Tua fidelidade e da Tuas promessas. Não deixe que o cansaço me afaste da Tua presença. Ensina-me ter nas mãos, Tua Verdade a fim de carregar no colo Tua Misericórdia. Livra-me de uma vida vazia, sem sentido, de amargura e de ingratidão.
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