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O dom recebido e oferecido

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 17 de mai.
  • 3 min de leitura

Atualizado: há 5 horas

Eu vos dou novo preceito:

que uns aos outros vos ameis,

como eu vos tenho amado.


A relação terrena entre Jesus e os seus discípulos estava chegando ao fim. Judas tomou a decisão de lançar-se naquela noite que já estava em seu coração. Ele afundou-se em seu abismo interior. O discípulo amado afirma que, somente quando Judas abandonou o cenáculo, Jesus falou do amor e revelou sua glorificação. Enquanto Judas vibrava traição desumana e pretensões doentias, o Senhor não ofereceu o novo mandamento. O Filho do Homem anunciou sua glória quando o espaço em que Ele estava, com os discípulos, ficou livre de sentimentos ruins e maléficos.


Para que todos soubessem da glória não foi suficiente que o discípulo amado inclinasse a cabeça no coração do Mestre. Era necessário com que Judas saísse daquele espaço de amor. Após a saída, relatada nas primeiras linhas do Evangelho de hoje, Jesus deixou inscrito no coração dos seus discípulos a continuidade de Sua presença divina no mundo e a concretização do novo mandamento. Na narrativa evangélica, o verbo “glorificar” aparece cinco vezes. Uma redundância aparentemente excessiva e estranha para aquele contexto de proximidade, de traição e de despedida.

A glória de Jesus é a sua paixão, morte e ressurreição. Na glorificação do Filho do Homem está a revelação profunda da eterna presença e do novo mandamento do amor. A glória da cruz é máxima expressão do amor.

O maior e primeiro mandamento é amar a Deus com todo o coração. O segundo, é amar o próximo como si mesmo (cf. Mt 22, 38-39). Na proposta nova, as palavras de Jesus esclarecem que o amor oferecido ao outro não é o amor-próprio, mas o amor divino: “como eu vos amei”. Esta é a novidade do mandamento, pois o Mestre vivera continuamente esse amor em toda sua vida pública.

O amor recomendado não é um imperativo moral, mas um dom recebido e, consequentemente, oferecido. O amor não é apenas resposta ao amor de outra pessoa, mas compromisso com o amor divino que nos deu vida. “Como eu vos amei” é mais do que um modo, uma maneira ou, até mesmo, um modelo. “Como eu vos amei” é compromisso diário com Aquele que nos amou primeiro e nos deu exemplo de vida doada.

A Fonte do Amor é o Pai. Desse modo, quem ama não obedece a um preceito moral, mas entra numa experiência mística, pois participa da própria vida de Deus. Somos capazes de amar, pois, primeiramente, fomos desejados e amados por Ele. Nós conseguimos atingir o amor porque somos imagem e semelhança do Criador. Assim, o amor cristão não deve ser esforço desumano, mas resposta livre e gratuita ao Primeiro Amor. A vida cristã é uma experiência de amor. A grande novidade dessa experiência se fez carne e habitou no meio de nós, Jesus Cristo. Ele é a personificação do amor de Deus. Seu testamento é prova de amor e grandioso legado. O gesto maravilhosamente eloquente de lavar os pés de seus discípulos foi o caminho mais eficaz de transmissão do legado do Mestre.


Na “hora” derradeira, faltando pouco tempo para o êxodo deste mundo ao Pai, o Cristo expressa suas últimas vontades, revela seu Testamento e dá o Mandamento que resume toda a Lei. Com a ternura de Mestre e de amigo, Jesus deixa palavras de conforto aos Seus discípulos e uma nova maneira de viver. Ele oferece o fundamental: “Amai-vos uns aos outros”.

Ele poderia ter dito “amai-me” por tudo o que fiz e pela vida que darei por vocês. O novo mandamento de Cristo poderia ser “amai-me”, mas foi “amai-vos” como vos amei. Nesse sentido, para o Mestre, somente na abertura ao amor e no amor praticado que alguém poderia ser reconhecido como Seu discípulo.

A Páscoa de Cristo inaugura um novo tempo e abre novas possibilidades para todos aqueles que creem e desejam testemunhar. Os desejosos da existência ressuscitada são construtores de novas humanidades e anunciadores de renovadas esperanças. A concretude da vida ressuscitada e a síntese da Lei de Cristo é o amor. Jesus nasceu por amor, viveu com amor, pregou o amor e morreu por amor. “Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”. Amar como Jesus amou significa participar das energias vivas do Ressuscitado, experimentando um novo céu e uma nova terra.


Senhor, ajuda-me a concretizar o amor como resposta ao teu imenso amor. Ensina-me que o amor não é uma regra moral e provisória, mas um testemunho humano de reconhecimento da Tua presença em minha vida. Educa-me a viver as energias do Ressuscitado experimentado um novo céu e uma nova terra.



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