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O coração do Evangelho

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 15 de fev.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 22 de fev.

Os judeus e os pagãos se reuniam em torno de Jesus. Muitos chegavam para ouvi-Lo, serem curados de suas enfermidades e libertos dos espíritos impuros. Toda a multidão procurava tocá-Lo porque Dele saía uma força que curava todos. Nestes encontros, Ele ensinava, mostrava o profundo sentido da existência humana e tentava responder o desejo de felicidade de todos. O objetivo de Jesus era mostrar a necessidade de transformar fracassos, derrotas e escândalos em ocasiões de graça, anúncio e esperança. Com isso, em um dos seus discursos, Ele apresentou as “Bem-Aventuranças”. Elas revelam o desejo do Cristo e se tornam portadoras de Sua teologia e de Sua transformação.


O evangelista Lucas inseriu o discurso das Bem-Aventuranças, logo após o chamado dos primeiros discípulos. Jesus, por meio dele, deu aos Seus novos seguidores uma identidade e um estilo de vida. A intenção de Jesus com as Bem-Aventuranças era ensinar que Seus discípulos tivessem vida plena e felicidade diante dos percalços da existência e das situações paradoxais do caminho. A pobreza, a fome, o choro e a rejeição quando vivenciadas à luz ensinamento do Mestre tornam-se espaços de esperança e de salvação. Era preciso que eles aprendessem a renunciar a ditadura da felicidade momentânea e da satisfação relativa para encontrarem em Deus o Absoluto e a vida real.


O discurso está presente no texto de Mateus e de Lucas. No entanto, Mateus descreve numa “montanha” e Lucas numa “planície”. Esses espaços revelam a intuição e a interpretação dos evangelistas. Enquanto no relato de Mateus, Jesus subiu a um monte e lá anunciou as Bem-Aventuranças; no relato de Lucas, Ele foi para um lugar plano, levantou os olhos, falou ao povo e aos discípulos. Ao descer para a planície, Jesus ofereceu uma vida instaurada não na ética dos deveres e das obrigações, mas na ética da felicidade e da ventura. Para Lucas, as Bem-Aventuranças servem como o programa humano de Jesus, a forma mais alcançável e concreta para se viver bem a boa-notícia do Evangelho. A planície tornou-se o lugar da identidade dos discípulos e onde o Evangelho foi constituído, pois Jesus não olhou a situação humana de cima para baixo, mas colocou-se embaixo, levantou os olhos confortando seus seguidores e se solidarizando com eles.


As oito Bem-Aventuranças de Mateus são espiritualizadas porque vemos Jesus suspenso do plano terrestre. As quatro de Lucas são mais terrenas, pois o evangelista não absolutizou o discurso de Jesus, mas compreendeu seu essencial significado, sobretudo, ao direciona-lo aos ouvintes de forma mais objetiva e clara. Enquanto Mateus preferiu “bem-aventurados aqueles que...”, Lucas opta por “bem-aventurados sois vós...”.

As bem-aventuranças não nos servem como meta para conquistar a felicidade, mas devem nos servir como estrada do dia a dia a ser conquistada, pois a felicidade não consiste em projetos maravilhosos e em impossíveis horizontes, mas no aprendizado do quotidiano.

A felicidade não é coisa para possuir ou alcançar, mas deve ser uma condição que dá sentido para nossa existência. Os bem-aventurados são aqueles que conseguem ler os dramas da existência humana à luz dos ensinamentos do Mestre. Bem-aventurados são os que possuem visão diferente diante do caos, do drama e do sofrimento.

As Bem-Aventuranças não são promessas de felicidade, mas a proclamação da felicidade. A felicidade não consiste em crer nas Bem-Aventuranças, mas em permitir com que a vida seja vivida bem-aventuradamente. O bem-aventurado é aquele que aprendeu a viver os processos da vida, fazendo com que a vivência do Evangelho seja uma verdadeira aventura do bem e não um peso carregado de culpas e de mortificações.

No Evangelho, os “bem-aventurados” são os pobres, os famintos, os aflitos e os perseguidos. O elogio não está na condição socioeconômica, mas na intenção do Mestre em viver de modo simples e pobre: defendendo os necessitados, oferecendo justiça aos sem direitos humanos, dando misericórdia aos que não têm razões para viver. As Bem-Aventuranças são uma mensagem decisiva que nos convida depositar nossa confiança não em mensagens espiritualizantes e penitenciais ou em coisas materiais e passageiras a fim de buscar felicidade de modo rápido, com soluções mágicas. As Bem-Aventuranças não são uma teoria espiritual, mas um programa de vida que deve ser assumido e vivenciado como a síntese da vivência cristã. As Bem-Aventuranças são o coração do Evangelho.



Senhor, ajuda-me a viver bem e com boa vontade, a boa-notícia do Evangelho. Ensina-me a ler os dramas existenciais à luz de Seus ensinamentos. Ajuda-me viver os processos da vida fazendo com que o Evangelho seja uma verdadeira aventura do bem. Educa-me a compreender que as Bem-Aventuranças são o coração do Evangelho.

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