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O Amor não está morto!

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 8 de abr. de 2023
  • 5 min de leitura

A liturgia da Páscoa coloca-nos diante de vários caminhos convidando-nos a reconhecer aqueles que são mais semelhantes ao tempo em que vivemos e convidando-nos a reconhecer a experiência de fé que fazemos ao caminhar. Maria Madalena foi quem primeiro avistou a pedra retirada e o sepulcro aberto. Ela, a mulher do desejo, estava marcada pela saudade do Amor. Não sendo tocada pela certeza da prometida ressurreição, desesperou-se por não conseguir tocar o corpo de Jesus. Seu coração estava marcado pela dor e pela escuridão, mas ainda desejava amar o Amor.


A pedra removida do túmulo não lhe trouxe a esperança da ressurreição nem o cessar de seu choro, mas o desespero por não encontrar um lugar para chorar sua saudade. Ela experimentava o vazio existencial do amor: não há nada, nenhum sinal e nem mesmo o cadáver do seu amado. Nada havia em que pudesse se agarrar a fim de fazer o rito do luto. Seu coração experimentava somente a dor pelos acontecimentos dos últimos dias: a força da violência, a perda do verdadeiro amor e a amargura da traição dos homens. Dessa forma, seu desespero transformou-se numa expressão de sofrimento dita aos outros discípulos: “tiraram o Senhor do túmulo”.


Os sentimentos de preocupação, de desespero, de desconfiança e de medo prevalecem nas narrativas evangélicas do dia da Páscoa. Não há qualquer vestígio de Jesus Ressuscitado. Há apenas uma pedra retirada inexplicavelmente, um túmulo vazio, faixas de linho no chão e o convite a procurá-Lo, além daquele espaço simbólico de morte.

O evangelista João narra a história com duplo movimento: Maria Madalena correu até os discípulos para anunciar o fato do túmulo vazio. Pedro e o outro discípulo correram em direção ao vazio túmulo para confirmar o anúncio de uma mulher apaixonada. Ela correu pelo medo de terem roubado o corpo do seu Amado e por imaginar a possibilidade de nunca mais conseguir tocá-Lo. Pedro, trazendo consigo o “discípulo amado”, correu para confirmar o fato.

O caminho da fé desses três personagens é o itinerário do VER. Maria viu a pedra retirada e supôs que haviam roubado o corpo do Senhor. Os dois discípulos viram “as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus”. Ambos viram que o visível se transformou em invisível. Eles encontraram apenas sinais de morte. No entanto, esses sinais permitiram que fossem além, pensando a possibilidade de algo diferente ter acontecido. O discípulo amado “viu e acreditou”. A inteligência do amor e a fé nas Escrituras permitiu-lhe sentir que o Amor não estava morto.


Pedro e o discípulo amado correram porque, apesar de suas dúvidas e fraquezas, seus corações desejavam novamente encontrar o Mestre. Eles expressavam duas formas diferentes de buscar o Senhor. Pedro é a imagem da fé cansada que tenta correr, mas não pode. É a fé marcada pela negação que precisa percorrer o caminho da reconciliação. Ele necessita ser curado e acolhido pelo amor do Senhor. Apesar de ver, continua não acreditando... Ao contrário dele, o discípulo que fez a experiência do amor é capaz de correr. João é a imagem da fé jovem que vislumbrando, não precisa entrar, apenas sente e o sentimento basta-lhe para acreditar. Tendo experienciado o amor, não tem necessidade de especular e nem ver para acreditar.


Hoje, nem todos conseguimos “ver” a pedra removida em frente ao túmulo. O fardo do sofrimento, o peso da decepção e a falta de iluminação nos impede de ver a Ressurreição do Senhor como um fato atual e verdadeiramente existencial. Alguns trazem a esperança com fraqueza e, por isso, não enxergam que a cada Páscoa algo muda dentro de si. Outros permanecem dentro de túmulos construídos por si mesmos ou por pessoas, acontecimentos inesperados e repentinos. Às vezes, aquilo que celebramos todos os anos ao invés de atualizar em nós a potência da vida, serve apenas como recordação do fato histórico da paixão, morte e ressurreição de Jesus.


A pedra foi retirada para todos nós, mas cada um deve fazer o caminho partindo da situação em que se encontra a fim de ver, compreender e acolher a libertação oferecida. O túmulo vazio não é uma resposta, mas uma pergunta sobre a ressurreição de cada um de nós. As histórias de ressurreição que começamos a ler, descrevem precisamente caminhos diversos de pessoas que procuram encontrar o Senhor através de seus defeitos e erros. Esse é o caminho dos discípulos imperfeitos. Nós somos os discípulos imperfeitos do Senhor! Neste sentido, a Ressurreição não significa apenas o fato complexo de um morto retornar à vida, mas é um evento que acontece na vida dos vivos. Não é uma simples aceitação mental e racional, mas uma ação concreta e real.


A Ressurreição é um evento inédito, um fato impensável, um episódio desconcertante. Ela é novidade de Deus que recria o homem e o mundo. A Páscoa de Cristo é o mistério fundamental no qual está alicerçado a realidade de nossa fé. Não se trata de uma verdade intelectual, mas de uma verdade que toca nossa vida e nossa história: “Páscoa de Cristo na Páscoa da gente, páscoa da gente na Páscoa de Cristo”. Esse movimento permite uma relação entre o evento histórico-salvífico e o símbolo sacramental.

O dia de hoje é origem e, simultaneamente, meta para a nossa vida: “vencendo a corrupção do pecado, realizou uma nova criação. E, destruindo a morte, garantiu-nos a vida em plenitude”.

A partir da morte e da ressurreição de Jesus começa um novo tempo: o tempo do homem novo. Homem estruturado não a partir do pecado, mas a partir da libertação e da vida nova. Deixemos de lado o lamento e o fermento da maldade, lutemos para reconhecer que o Senhor nos convida a ter esperança e a sair dos túmulos de nossas histórias. O evento pascal inaugura um “tempo novo” abrindo estrada para que todos tornem-se “homens novos”, construtores de humanidades novas no desejo de consolidar novos céus e nova terra. A vida eterna e a bem-aventurada imortalidade não é nos dada por força e poder nossos, mas apenas nos será concedida quando mantivermos uma relação de comunhão existencial com o Caminho, a Verdade e a Vida, Jesus Cristo Ressuscitado.


Senhor, ajuda-me a compreender que o misterioso evento da ressurreição não é apenas uma simples aceitação mental e racional, mas uma ação concreta e real em minha vida. Remova as pedras que me impossibilitam de ressuscitar. Que a força do teu amor e da tua ressurreição retire os sentimentos de derrota e de prisão que me fazem permanecer dentro de meu túmulo. Ensina-me a ver que a tua Páscoa é a minha Páscoa. Conceda-me humanidade nova para que eu consiga viver tempos novos consolidando desejos de vida e de esperança.


LFCM.


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1 Comment


Marcia Severo
Marcia Severo
Apr 10, 2023

Boa Noite Frei!!! Gratidão por me enviar , por me mostrar como o Amor de Deus é presente sempre. Feliz e alegre Páscoa. 🙏🏾

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