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O Agora de Deus

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 25 de jan.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 8 de fev.


O prólogo de Lucas (1,1-4) e o início da missão de Jesus em Nazaré (4,14-21) são as duas partes que compõem o Evangelho deste domingo. A cada domingo, pela liturgia da Palavra, nós veremos o modo como o evangelista fala de Jesus. Lucas traz detalhes diferentes dos outros textos e sublinha a força da misericórdia nos gestos e nas palavras do Mestre. O sentido de toda a narrativa encontramos no prólogo. Logo, temos o início da missão de Jesus com a leitura de um texto profético na Sinagoga. A profecia de Isaías revelava a chegada de um personagem misterioso que, investido pelo Espírito do Senhor, indicaria o tempo da graça, trazendo a salvação ao seu povo, proclamando a boa-nova aos pobres, a liberdade aos presos e a vista aos cegos.

O texto é a “auto apresentação” de um profeta anônimo que testemunha sua vocação e sua missão. Essa profecia era lida com frequência na Sinagoga e muito conhecida pelo povo judeu. A novidade acontece quando ao final da leitura, revelando-se como o próprio personagem da narrativa, Jesus fecha o livro e diz: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. Até então, era uma palavra proclamada como promessa futura. Entretanto, agora, na boca de Jesus, torna-se realidade.

A relação entre o texto sagrado e o projeto de vida de Jesus concretiza a profecia de Isaías. Os antigos destinatários, os pobres e os cegos, os prisioneiros e os oprimidos para quem Isaías falava tornam-se os destinatários de Jesus. Dessa maneira, Ele revela-se como o "Agora de Deus". Nele, o futuro prometido, inicia-se fazendo-se vida plena.

Todos os olhos estavam fixos Nele, pois essa profecia era o mais repetida e amada, a mais pregado e desejada, a mais próxima e, ao mesmo tempo, a mais distante. Lendo o texto, Jesus dá vida à Palavra atualizando-A. A página de Isaías torna-se o programa do ministério e da missão de Jesus. A sua perspectiva é trazer alegria, libertação, liberdade e olhos curados. O coração da mensagem e do anúncio de Jesus é a misericórdia do Pai.

Jesus não anuncia somente a ação de Deus, mas, ao mesmo tempo, torna-se essa ação. Ele é o cumprimento da promessa. Jesus revela a imagem de um Deus diferente dos costumes locais e religiosos. Ele não está interessado em fardos para carregar ou leis para observar. Uma nova história é iniciada. Fecha-se o livro. Abre-se a vida.

No discurso de Jesus há um novo horizonte e o novo rosto de Deus proclamado. Diante disso, vemos um Messias que não impõe fardos, mas os tira; que não traz preceitos, mas aponta horizontes; que não obriga a fechar os olhos, mas ensina a abrir. O projeto, a perspectiva e o discurso programático não são palavras jogadas ao vento. Há coerência entre a palavra proclamada e a ação realizada.

Ele não diz apenas ser enviado aos pobres, mas vai ao encontro deles. Ele não apenas proclama a libertação dos presos, mas os liberta de todas as prisões e opressões. Ele não somente anuncia a vista aos cegos, mas os devolve a visão. Dessa maneira, a palavra de Jesus é palavra verdadeira porque cumpre, imediatamente, o que foi dito.

No segundo versículo profético de Isaías está escrito: “para proclamar o ano da graça do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus”. Entretanto, no texto de Lucas podemos observar uma novidade particular, pois ele ausenta a segunda parte de Isaías: “o dia da vingança do nosso Deus”. Não há dúvidas de que Lucas nos revela um Jesus que não anuncia o dia de vingança e nem de desgraça, mas um Messias que traz consigo o tempo da graça e da misericórdia. Ele compreende que somos amigos de Deus: teófilos.


O Deus de Jesus não é um justiceiro temível que se agrada das nossas culpas diárias e para o qual devemos aplacá-lo com nossas angustiantes mortificações. Ele é próximo, vai ao encontro, toca e cura. Eis a potência do hoje, a mística do agora. A "teologia do agora" aparece em momentos significativos da história: “Hoje, na cidade de Davi, nasceu o salvador” (Lc 2,11); “Hoje cumpriu-se esta palavra da Escritura que acabastes de ouvir” (Lc 4,21); “Hoje vimos coisas maravilhosas” (Lc 5,26); “Zaqueu, hoje eu devo ficar na tua casa” (Lc 19,5); “Pedro, eu te digo que hoje, antes que o galo cante, três vezes negarás conhecer-me” (Lc 22,34); “em verdade te digo, hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43).

A “teologia do hoje” nos permite acreditar que a promessa de Deus é agora para nós. A palavra pode se cumprir no hoje da nossa história. A Palavra de Deus ilumina o nosso hoje e nos faz sair das prisões racionais que inventamos, das visões infantis que imaginamos, das opressões emocionais que entramos e das condições moralistas que idealizamos. Hoje, para cada um de nós, é sempre a hora de escutarmos a voz de Deus. A boa notícia do Evangelho não consiste na oferta de uma moral, nem mesmo na possibilidade do perdão dos pecados, mas na libertação de todas as opressões externas e internas que cegam os homens impedindo-os de ver o tempo contínuo da graça do Senhor. É o Espírito do Senhor - Espírito de vida, de liberdade, de fecundidade e de esperança - que moveu o coração de Jesus para revelar a face misericordiosa de Deus.

Senhor, ajuda-me a fixar os meus olhos em Ti. Ensina-me contemplar o novo rosto de Deus revelado em Jesus. Permita-me a acreditar no agora dando-me a certeza do teu hoje em mim.

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1 comentário


Marcia Severo
Marcia Severo
26 de jan.

Gratidão por me enviar.

Reze por mim, por favor.

Paz e Bem.

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