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A transfiguração do cosmos

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 27 de nov. de 2021
  • 4 min de leitura

Atualizado: 3 de dez. de 2021

O Evangelho de hoje traz expressões dramáticas e informações antecipadas sobre o fim dos tempos. O texto foi interpretado por fanáticos de seitas fundamentalistas e por pregadores que desejavam convencer pela força do medo. No entanto, o anúncio ameaçador do fim do mundo assusta cada vez menos, pois perturba apenas algumas pessoas psicologicamente e arranca risos nos mais descrentes.

A intenção de Jesus não é despertar o medo, mas fazer o contrário: livrar-nos desse sentimento, despertando a alegria e inspirando a esperança. "Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”.

Os elementos mencionados no texto – o sol, a lua, as estrelas, os poderes dos céus, o mar – são os mesmos que aparecem no relato da criação. O livro do Gênesis relata que a terra era informe, deserta, coberta por trevas, não tinha luz e nem vida. Tudo era desordem, caos e desastre, até que Deus interveio com o seu “verbo criativo”: faça-se! A partir dessa intervenção, o sol e a lua apareceram para marcar regularmente o ritmo dos dias, noites e estações. A terra se firmou e tudo era bom.


Na passagem do Evangelho deste domingo, um movimento oposto é anunciado: é visível o retorno ao caos primordial. Tudo mostra-se decadente e ruim. As forças que mantêm a ordem e indicam o tempo no Universo mostram-se perturbadas, confusas, caóticas e sombrias. Neste retorno caótico, Deus não usa da sua palavra criativa, mas revela-se com “grande poder e glória”.


As imagens apocalípticas usadas por Jesus não se referem a explosões de estrelas, a choques catastróficos de planetas, mas falam do que está acontecendo hoje. O nosso mundo cada vez mais se torna impossível de viver: abusos e injustiças, ódio e violência, guerras e condições desumanas, fome e derespeito. A própria natureza é destruída pela exploração irresponsável de recursos humanos fazendo com que o ritmo dos tempos e das estações não exista de forma regular. Os dias e meses parecem frenéticos e atemporais. Além do mais, toda lei ética é desprezada junto aos valores humanos e sagrados.


No entanto, uma leitura correta destes eventos deve nos encher de esperança porque é chegado o tempo da recriação do Universo e não do final da história. Quando tudo parecer terminado, acontecerá um nascimento que transfigurará o cosmos para ser morada do Reino. A força do Filho do Homem fará nascer do caos um novo mundo, pois é impossível permanecer do modo como estamos acostumados a viver. Nesta narrativa, Jesus quer nos advertir do perigo do desânimo diante do mal. Ele nos convida a abrir os corações à esperança, pois um mundo dominado pela injustiça e pela maldade está acabando: "há de nascer um novo mundo".


O Evangelho nos convida a “levantar a cabeça”, pois não existe caos que Deus não possa transformar num mundo maravilhoso. O mundo novo nasce no instante em que Ele diz uma única palavra e realiza o seu Advento em nossa vida. É necessário assumir uma postura digna. O homem em pé, com a cabeça erguida, é a imagem do homem orante e convicto de que o que está acontecendo é para sua salvação. É a postura que demonstra confiança numa promessa e segurança de que estamos a caminho do Reino.


Levantar a cabeça é renunciar o medo, libertar-se dos pensamentos ansiosos, livrar-se dos desequilíbrios espirituais e de uma mente anestesiada pela culpa, acreditar na libertação e olhar para o horizonte. Neste sentido, levantar a cabeça também significa “levantar os olhos” e ver o invisível: a salvação que avança em meio às tribulações históricas, o Reino que surge por trás dos escombros e a promessa do Senhor que permanece constante.

A grandeza consiste ver que no fim está o começo da salvação e que há luz e esperança, além das trevas e destruição. Muitas vezes, nossa tentação é cada vez mais olharmos para uma determinada situação, perdendo a capacidade de olhar para horizontes mais amplos. Com isso, este tempo escatológico é um convite para mudarmos o nosso comportamento, a nossa forma de esperar e a não fixarmos somente nos problemas e dificuldades.

Dessa forma, Jesus não quer aterrorizar e anunciar catástrofes, mas convidar a olharmos a vida com olhos novos. Se não vivermos como homens ressuscitados aqui e agora, não seremos ressuscitados no fim dos tempos. Tomemos cuidado com a insensibilidade dos nossos corações e com os excessos, prestemos atenção naquilo que nos habita e no que somos chamados a ser. O Advento, novo tempo litúrgico que iniciamos hoje, é o tempo das perguntas concretas, dos nobres desejos e dos olhares novos.


Senhor, ajuda-me a confiar mais nas tuas promessas. Os limites do tempo presente me assustam e, por vezes, geram desespero e desconfiança. Ensina-me a entender que tudo o que vejo faz parte dos teus projetos recriadores. Quero viver como homem ressuscitado, com a cabeça levantada, na certeza da promessa, seguro da salvação e a caminho do Reino. Liberta-me das ansiedades desnecessárias, livra-me dos desequilíbrios espirituais e de uma mente anestesiada. Dai-me olhos novos, coração sensível e desejos nobres. Vem, Senhor Jesus!


LFCM.

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1 comentário


Marcia Severo
Marcia Severo
27 de nov. de 2021

Olá Frei q esperança esse texto me dá. Tb quero confiar mais e mais no Senhor. Gratidão por me enviar. Estou precisando de orações, momento de provação da minha paciência com fortes dores , sei q vai passar, mas as vezes a paciência foge um pouco. Por favor Frei reze por mim. Obrigada. Paz e Bem. 🙏🏽🙏🏿🙏🏻🌻

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