A novidade imprevisível
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 17 de dez. de 2022
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O Advento está prestes a ser concluído. Depois de três semanas nas quais se ouviu falar da segunda vinda à manifestação final d’Aquele que vem, a partir de agora, inicia-se um tempo de memória da primeira vinda e da origem de Jesus Cristo. O anúncio deste domingo, torna-se o anúncio da vinda na carne do Messias. Ao recordarmos o evento de Belém, fazemos memória de como o Filho de Deus veio ao mundo e, através desse acontecimento, fundamentamos nossa espera em sua vinda gloriosa. Esse anúncio exigiu fé e obediência de três protagonistas e, também, exige de nós as mesmas atitudes, a fim de colhermos a força reveladora da salvação.
João Batista, Maria e José resumem toda a expectativa do Antigo Israel. Mais do que as convicções e razões humanas, eles são chamados a reconhecer a vinda do Senhor, a encontrar a novidade imprevisível, a vivenciar a Palavra realizada e a se disporem com prontidão e confiança aos projetos divinos. Em todas essas ações e no coração da História da Salvação vemos decisões que são tomadas e cumpridas.
A Encarnação do Senhor é um evento inédito. Desde sempre, esperava-se pelo Messias, anunciado pelos profetas. Entretanto, não se imaginava que Ele viria pela forma humana. O projeto de Deus é sempre uma surpresa que supera toda a inteligência humana e perturba todos os projetos dos homens. A alegria do tempo do Advento acontece através da memória e da realização das promessas divinas. Espera, surpresa e alegria são as dimensões que, com tons e intensidades diferentes, encontramos nos protagonistas evangélicos deste tempo litúrgico.
A partir do evangelista Mateus, a liturgia nos coloca diante da “justiça” de José, esposo de Maria. No Evangelho de Lucas, o anúncio é feito a Maria. Entretanto, em Mateus, a mensagem é revelada a José. O Evangelho de hoje é o único em que a figura de José é centro da narrativa. Sua coragem nos inspira a viver com disponibilidade o projeto de Deus e a nos abrir aos mistérios divinos. José é um homem do Advento, pois soube deixar-se conduzir por Deus. Em segredo e convencido, ele não expõe e não deixa sozinha sua esposa grávida por obra e ação do Espírito Santo. Segundo à tradição, se José a abandonasse, Maria seria considerada uma “mulher adúltera”. No entanto, sendo visitado em sonho por um anjo, supera a Lei de seu tempo, abandona o medo e assume a certeza de que as promessas de Deus estavam sendo cumpridas. Homem reservado e de fé que professa no silêncio o Menino gerado e o chama de Emanuel: Deus conosco. O que poderia ser um escândalo, José transforma em revelação, sobretudo, com sua obediência a Deus.
Maria havia sido visitada pelo anjo. José, durante o sono, viu o anjo em seu sonho. A partir do sono de José, Deus revela o Seu sonho para a humanidade. Os caminhos da revelação divina podem ser diferentes para cada um de nós. Mateus conclui esta narrativa dizendo que José, tendo despertado “do sono, fez como o anjo do Senhor lhe havia ordenado, e aceitou sua esposa”. Esta atitude expressa a grandeza do homem justo, consistente em sua fé-obediente. A atitude de José revela humildade e confiança cheias de generosidade, mesmo com possíveis incompreensões. Toda decisão é um caminho que vai da escuridão à luz, da crise ao discernimento, da dúvida à escolha. No coração do bom José habitava tantos sentimentos, mas em seu sonho, o diálogo do mensageiro divino o iluminou.
A justiça de José é o dom maior que enobrece sua figura de pai adotivo do Salvador. Sua justiça apresenta-se como misericórdia porque ele aceitou fazer o que não estava previsto na “suprema” Lei. Ele não obedece a Lei, mas permite a iluminação de seu coração e descobre que os projetos de Deus são maiores do que os dos homens. Ele mergulha na profundidade da Lei. Como Maria, ele fez a vontade do Altíssimo, abandonando seus projetos pessoais, a Lei dos homens e realizando o que plenamente não podia compreender. De sua boca não saiu qualquer palavra, homem do silêncio. Deixou-se conduzir pela obediência, pela confiança e pela fé. No silêncio a Palavra de Deus assume espaço no profundo coração humano. O silêncio de José é a proteção que renova sua escolha diária pelo projeto salvífico.
A narrativa deste domingo nos mostra a origem de Jesus. Ao dar nome à criança, ou seja, reconhecendo-a como filho, Jesus adquire todos os direitos paternos e ingressa na descendência de Davi. Apesar de Maria ter concebido, virginalmente, por obra do Espírito Santo, Jesus é verdadeiramente o Messias, filho de Davi, pois é legitimamente filho de José, que lhe deu nome e reconheceu sua paternidade. Jesus é ao mesmo tempo filho de Deus - no sentido pleno do termo - e filho de Davi. Deus convida José a entrar em Seu projeto com o intuito de introduzir seu Filho na estirpe de Davi. Tudo isso acontece para se cumprir o que o Senhor havia dito ao profeta.
Tendo sido concebido pelo Espírito Santo, o que está contido no nome Emanuel é perfeitamente realizado Nele. Era necessário que Deus viesse até nós para recebermos a verdadeira salvação que ninguém poderia nos dar: a salvação do pecado. O Deus-conosco é garantia do perdão dos pecados. Com o Emanuel começa uma nova história, uma nova humanidade, não mais marcada irreparavelmente pelo pecado. O Deus-conosco é tudo o que precisamos. Ele é o único necessário para não temermos mal algum.
O Advento de Deus é um dom gratuito. É desafiante porque a aceitação do dom envolve compromissos de “sim” e “não” que, às vezes, negam os próprios projetos, caminhos e independência. A vinda do Senhor pode ser reconhecida somente por homens e mulheres que são capazes de olhar longe, guiados por estrelas, sonhos e visões e atentos aos diferentes caminhos da revelação divina. Somente homens e mulheres sensíveis à delicadeza de Deus podem chegar à manjedoura de Belém para cantar com os anjos: Glória a Deus nas alturas!
Senhor, ajuda-me a sonhar mais para conseguir enxergar seus caminhos de revelação. Dá-me disponibilidade e generosidade para abrir mãos dos meus projetos aceitando os teus em minha vida. Ensina-me, como José, a ser o homem do silêncio, da fé e da obediência. Que os teus projetos sejam maiores e mais surpreendentes do que minhas razões. Faz com que meus desejos de justiça sejam inspirados no desejo de superar a Lei que oprime e exclui para que eu revele sua misericórdia abundante e sem limites.
LFCM.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 1,18-24
18 A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo.
19 José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo.
20 Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: "José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo.
21 Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados".
22 Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta:
23 "Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus está conosco".
24 Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado, e aceitou sua esposa. Palavra da Salvação.
Bom Dia Frei. Obrigada por me enviar palavras,que me farão meditar,sobre minha confiança e aceitação no caminho e o Senhor me propõe a seguir. Reze por mim, por favor. Paz e Bem.