A escrita do amor
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 5 de abr.
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de abr.
Um evento imprevisível perturbou a pregação de Jesus no Templo. Os homens que cuidavam da casa de Deus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério. Cheios de violência e desrespeito, eles queriam matar aquela mulher sem nome porque, de acordo com a lei, ela havia cometido uma grave iniquidade. Para os escribas e fariseus, aquela mulher era um simples objeto e, obstinados pela lei, traziam em suas mãos muitas pedras. Eles sabiam do adultério daquela mulher porque estavam envolvidos nas tramas dos seus pecados. Eles eram os principais protagonistas do pecado daquela mulher.
Os acusadores se apresentavam como especialistas em direito penal e como modelos de justiça a serem seguidos. Eles queriam fazer de Jesus o juiz do tribunal divino. Irredutíveis nos fáceis legalismos, tentavam colocar o Filho de Deus na mesma perspectiva de juízo e na mesma medida de condenação. Os mestres desumanos permaneciam em atitudes arrogantes, continuavam de pé, estavam irredutíveis, insistiam no interrogatório e recordavam a todos os trechos da lei. Eles viviam obcecados pelos pecados dos outros e não conseguiam olhar suas próprias vidas.
Jesus evitando o papel que lhe foi imposto, rompeu com a dinâmica penal. Levantou-se, deixando o espaço reservado ao juiz, ofereceu a possibilidade de salvar a mulher e convidou todos a tomar consciência da condição de pecadores. Essa condição era aquilo que não permitia decretar o direito de vida ou de morte sobre seus semelhantes. Jesus desmascarou a hipocrisia com mansidão e silêncio.
No encontro com a mulher, Ele não viu o pecado, mas o sofrimento e a situação miserável. A ação do Cristo foi de acolhida, de proximidade e de caridade. Ele não usou das mesmas palavras violentas dos fariseus e não leu o que os escribas tinham feito com a lei. Ele abaixou-se ao chão, silenciou e escreveu. A nova lei não era para ser escrita nas pedras duras, mas em terra fértil, pois a misericórdia fecundaria, geraria nova vida e abriria nova possibilidade.
A adúltera encontrou-se com alguém que a olhou de maneira diferente. Ela nunca havia tido a experiência de nenhum homem olhá-la daquela forma. Jesus olhou o interior da mulher e a resgatou dos olhares que a faziam de objeto e que a condenavam à morte. Ele, transgredindo a lei que não permitia um judeu dirigir-se em público a uma mulher desconhecida, dialogou e ofereceu acolhida. Observando as atitudes hipócritas dos fariseus e mestres da lei, elaborou nova sentença de amor: “quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. Com essa proposta, Jesus desmascarou e desarmou os acusadores da mulher, os falsos moralistas de todos os tempos. Aqueles homens raivosos sentiram-se mal, pois tinham acabado de serem expostos: “ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos”.
Esses versículos revelam a forte tensão entre Jesus e seus adversários. Se Jesus confirmasse o apedrejamento, estaria negando seu lado misericordioso e contradizendo a sua pregação; se negasse o apedrejamento, estaria transgredindo a lei de Moisés. Nesse sentido, o verdadeiro acusado no falso julgamento era o próprio Jesus e a exagerada misericórdia de Deus revelada Nele.
Os justiceiros foram incapazes de aceitar o amor incondicional e o perdão ilimitado. Se não houvesse quem condenar, a vocação deles não teria mais sentido e a pregação no templo não teria razão de existir. Para uma religião moralista, um Deus que não condena se tornava um perigo e uma ameaça, pois tiraria da religião o direito de condenar.
Os fariseus e os mestres da lei sintetizam o fechamento e o conservadorismo da época de Jesus. Eles pregavam um Deus punitivo, exigente, vingativo. Por isso, se escandalizavam com o Deus amoroso e misericordioso de Jesus. O olhar de Jesus não condena fragilidades, mas acolhe com perdão transformando histórias e oferecendo vida renovada. Deus não nos olha do alto como um juiz, mas desce até o nosso pó para escrever sobre nós o seu amor. Ele escreve uma nova página em nossa vida, todas as vezes que caímos. Ele não nos condena com decreto nas mãos e com pedras da lei, mas nos perdoa com ternura, delicadeza e libertação. O Evangelho da mulher adúltera é pascal, pois nos apresenta cena de ressurreição. A mulher flagrada em adultério, prestes a ser apedrejada e morta, faz a experiência da vida nova ao experimentar a misericórdia, o perdão e o amor incondicional de Deus.
Senhor, cura o meu olhar arrogante e prepotente. Tira do meu coração, as palavras violentas e das minhas mãos, as pedras que matam. Dai-me um olhar que transforma, liberta e se compadece da realidade humana. Ensina-me a oferecer o perdão, a paz e a misericórdia sempre e por toda a parte. Ajuda-me reconhecer diariamente Teu gesto de amor que desce até o pó de minha miséria para escrever sobre mim, Teu infinito amor.
Bom Dia Frei, gratidão por me enviar essas palavras. Quero tb me curar de minha arrogância e prepotência ao querer julgar o próximo. Reze por mim🙏🏾Paz e Bem🙏🏽